Operários imigrantes que participam das
obras para a Olimpíada de Inverno de 2014 em Sochi, no Sul da Rússia, estão
sendo enganados no pagamento dos seus salários e não recebem alimentação,
moradia e descanso adequados, disse uma entidade de direitos humanos nesta
quarta-feira. Um funcionário do governo russo disse que as acusações da organização
Human Rights Watch (HRW), com sede em Nova York, são exageradas, e que o
governo monitora atentamente os direitos dos trabalhadores.
A HRW divulgou seu relatório enquanto o presidente russo, Vladimir
Putin, visitava Sochi para inspecionar os preparativos, a um ano do início da
Olimpíada de Inverno. Segundo a ONG, mais de 16 mil imigrantes chegaram a Sochi, na costa do mar
Negro, na esperança de conseguir trabalho principalmente nas obras olímpicas.
Em um relatório que se baseou em entrevistas com 66 operários, a HRW
disse que eles enfrentam “consistentes padrões de abusos” em empregos mal
pagos. O texto diz que esses operários são oriundos da Armênia, Quirguistão,
Sérvia, Tadjiquistão, Uzbequistão e Ucrânia. “As pessoas trabalham, não são
pagas e vão embora. Aí chega um ônibus e descarrega um novo grupo de operários
para repetir o ciclo”, disse um trabalhador ucraniano citado no relatório.
O texto diz que os operários imigrantes estão particularmente
vulneráveis porque sua permanência na Rússia depende de eles terem emprego. Os
patrões muitas vezes deixam de entregar cópias das autorizações de trabalho e
outros documentos, e ameaçam denunciar os operários às autoridades como
imigrantes ilegais, segundo o relatório. O grupo pediu que o Comitê Olímpico
Internacional (COI) tenha um papel mais ativo na preservação dos direitos
humanos dos operários.
- Há uma carta olímpica que fala em dignidade e no espírito do olimpismo
– disse Yulia Gorbunova, pesquisadora da HRW. “Isso realmente não é compatível
com usar e abusar das pessoas envolvidas na construção dessas incríveis
instalações.”
Um porta-voz do COI disse que a entidade tem um “tradicional compromisso
de acompanhar” questões de direitos humanos associadas aos Jogos, e que já
tomou providências com relação a alguns casos de não-pagamento de salários. O
vice-premiê Dmitry Kozak, que acompanhou Putin a Sochi, disse que a Rússia está
monitorando a situação.
- Não houve queixas suficientes que merecessem um relatório
internacional – disse Kozak a jornalistas, acrescentando que há 96 mil
trabalhadores e 500 empreiteiras trabalhando em Sochi. “É claro que não é muito
fácil para os operários imigrantes, seja em Sochi ou em Moscou. Mas não posso
dizer que violações generalizadas dos direitos das pessoas estejam ocorrendo
durante os preparativos para a Olimpíada.”
A estatal russa Olympstroy, criada para supervisionar as obras
olímpicas, disse ter recebido apenas cinco queixas salariais, todas elas já
resolvidas.
REUTER
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