Um artigo elaborado por Debito Arudou, doutorado pela Meiji
Gakuin University do Japão em Estudos Internacionais,
toca em aspectos delicados sobre a política japonesa para resolver os agudos e
profundos problemas criados com a redução da população, que ao mesmo tempo
envelhece rapidamente. A questão colocada estimula considerar os problemas de
migração em outras partes do mundo.
Arudou é um acadêmico naturalizado japonês com ampla produção
científica em diversas entidades norte-americanas e colaborações regulares ao The Japan Times.
Para o articulista, medidas como a permissão de importações de recursos humanos das Filipinas e da Indonésia
(principalmente de enfermeiras que dominem o idioma japonês, para cuidar de idosos) são paliativas. Ele
cita também o estímulo às mulheres
japonesas, que ganham condições para
aumentar a natalidade emelhores oportunidades para voltar a trabalhar em tempo
integral depois de cuidar inicialmente dos seus filhos. E ainda as licenças
temporárias para descendentes de japoneses trabalharem no Japão, os
dekasseguis, um grupo que inclui muitos brasileiros.
Ele considera que ações
como essas decorrem de uma visão limitada, não resolvem problemas estruturais e
poderiam ser consideradas de conveniência unilateral.
Se muitos estrangeiros veem no Japão oportunidades de melhorar
suas condições
de vida, a população local tende a considerar
os imigrantes cidadãos de segunda classe, um fenômeno que se repete em
muitos países europeus. Mesmo que sejam admitidas para trabalhos temporários,
essas pessoas tendem a se incorporar à população local deforma permanente, até em situação
irregular, contribuindo para suavizar os problemas populacionais que alguns
países enfrentam.
As diferentes culturas trazidas por esses imigrantes, defende Arudou, precisariam ser abraçadas por
uma política deestímulo à imigração de contingentes populacionais que não se
restrinja a uma política que define como Galápagos (por se delimitar a um
arquipélago).
O articulista tem plena consciência de todas as dificuldades
aqui implícitas, uma vez que possui em seu currículo diversos trabalhos
discutindo esses e assuntos correlatos, em que predomina o difícil problema da
etnia. Assim sendo, entende que as autoridades japonesas tendem a manter o status quo, pois
necessitam de trabalhadores estrangeirospara trabalhos
difíceis, sujos e perigosos, como a limpeza das contaminações de Fukushima ou o
preparo das Olimpíadas de 2020, mas os mantém discriminados.
Não há, segundo ele, uma verdadeira preocupação com os
considerados não japoneses, que incluem os que estão há muito tempo no Japão,
desde antes da Segunda Guerra Mundial, como os de origem
chinesa ou coreana, provenientes das antigas colônias japonesas, e que
continuam sofrendo discriminação. Lamentavelmente, os problemas étnicos ainda
provocam até conflitos armados.
O governo de Shinzo Abe, segundo este autor, está admitindo mais
“estagiários” provenientes do exterior, ou seja, temporários que não gozam de
todos os direitos
trabalhistas e
de cidadãos. O imin, imigrantes em japonês, é um tabu que não tem sido
considerado de forma ampla, como também acontece em alguns países europeus. Até
nos Estados Unidos, apesar das declarações oficiais em contrário, procura-se
admitir somente os recursos humanos vistos como os mais qualificados.
O incrível é que a
maioria da população procura desconhecer que na virada do século 19 para o 20,
quando o país sofria um terrível ajustamento com o excesso de sua população,
foram enviados, notadamente para a América Latina, imigrantes como os que
vieram para o Brasil.
Por aparentemente
ignorar sua história, impõe muitas limitações às populações oriundas de outros
países, gerando situações de irregularidades que dificultam as tendências
naturais para o equilíbrio. Ao mesmo tempo, muitos países desenvolvidos lutam
pela liberdade para os fluxos de capital e de mercadorias, cobrando royalties
sobre o uso de tecnologias.
Esses tratamentos
diferenciados, com a manutenção de alguns privilégios, não parecem contribuir
para a convivência pacífica num mundo cada vez mais globalizado.
Carta Capital
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