A organização de apoio aos refugiados da ONU, a ACNUR, afirmou pela primeira
vez que é necessário fazer um acompanhamento de imigrantes e refugiados fora da
Europa em países como Egito, Líbia ou Sudão. Neste verão, Centenas de milhares
de pessoas preparam-se para encetar uma perigosa travessia em embarcações
desadequadas, vindas do norte de África, para tentarem desembarcar com sucesso
nas costas da Grécia ou de Itália.
O diretor europeu da ACNUR, Vincent Chochetel, disse ao "The
Guardian" que não se oporia a uma gestão externa ao ACNUR dos processos
referentes aos imigrantes que sejam detidos ao tentar atravessar o
Mediterrâneo, desde que os seus direitos sejam salvaguardados. Chochetel
referiu-se ao "direito ao apelo, a um processo justo, a permanecerem [no
país] enquanto esperam pela resolução do caso".
As autoridades de alguns dos países mais afetados por esta
avalanche de refugiados queixam-se de terem sido abandonados por Bruxelas e
temem uma "colossal catástrofe humanitária", escreve o diário
britânico. O diretor da ACNUR acusa ainda a UE de não ter acionado mecanismos
para prevenir que os imigrantes morram no mar. Em vez de se focar no
endurecimento do controlo de fronteiras, a UE deveria preocupar-se em garantir
rotas seguras, acrescentou aquele responsável.
Organizações como a Human Rights Watch
manifestaram-se contra a ideia de construir campos de controlo de imigrantes
fora da Europa por recearem que os refugiados fiquem à mercê de Estados em
que os direitos humanos e a justiça são uma miragem.
A Grécia, que atualmente preside à União Europeia, é uma das vozes
de apoio a estes centros de apoio no norte de África e
no Médio Oriente. O Governo grego apelou à criação de uma força de
patrulhamento marítimo no Mediterrâneo para conter o crescente fluxo de
imigrantes que tentam chegar à Europa e levará esta proposta à cimeira europeia
do próximo mês.
40 mil barcos chegaram à costa italiana
Só no passado fim de semana chegaram à ilha
italiana da Sicília mais de 3000 embarcações. Segundo dados da Organização Internacional para as Migrações
(OIM), entraram em Itália, em 2013, 42 mil imigrantes - na sua maioria
provenientes da Líbia. Nos primeiros cinco meses deste ano, entraram já 40
mil.
Arriscaram, como tantos outros, atravessar o Mediterrâneo e a
esmagadora maioria fá-lo a bordo de embarcações sem condições de
navegabilidade. É uma viagem desumana a que só alguns sobrevivem. "Aqueles
são os afortunados", diz José Angel Oropeza, diretor do gabinete de
coordenação da OIM para o Mediterrâneo, em Roma. "Em 2013, pelo menos 700
imigrantes afogaram-se ao tentar chegar a Itália. Nunca saberemos números
exatos, mas muitos mais devem ter morrido no mar. No último mês, 17 corpos foram
resgatados do mar, depois de um naufrágio a 13 de maio", concluiu Oropeza.
Refugiados em fuga da RCA
Apesar dos riscos que ameaçam a Europa, o continente africano tem sido também
bastante afetado pela fuga de refugiados. Camarões, Chade, República Democrática do Congo e República
do Congo fazem o que podem para ajudar os milhares de pessoas que tentam
escapar à guerra na República Centro-Africana (RCA).
O diretor executivo do Programa Alimentar Mundial Ertharin Cousin
e o Alto-comissário para os Refugiados António Guterres vão reunir-se em Roma
esta quarta-feira para tentar dar uma resposta mais eficaz a este flagelo. No
encontro será discutida a situação dos refugiados e de cidadãos de países à
margem dos acordos bilaterais em fuga da RCA, onde o drama humanitário ganha
proporções preocupantes.
Os países vizinhos daquele país africano, pode ler-se num
comunicado do ACNUR, estão a braços com mais de 226 mil
refugiados e cidadãos de países fora dos acordos bilaterais que tentam escapar
à violência desde dezembro de 2013. Muitos deles estão subnutridos depois de
meses a viver no mato. Nos Camarões, onde chegaram quase 90 mil pessoas desde
dezembro passado, há pelo menos 20% a 30% de refugiados subnutridos e em
algumas zonas a percentagem é ainda maior.
Acnur
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