Aumento da temperatura é a principal razão de deslocamentos
Quatro meses atrás, o vulcão Sinabung entrou em erupção na Indonésia,
esvaziando as aldeias vizinhas, cobertas de cinzas. Cerca de 100 mil pessoas
deixaram suas casas, mas a grande maioria voltou semanas depois. Esse é um
retrato de como um desastre natural espanta uma população sem afugentá-la
definitivamente. Agora, um estudo das universidades americanas de Princeton e
Califórnia e do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos
afirma que as mudanças climáticas, que ocorrem a longo prazo,
provocam mais migrações do que as catástrofes isoladas.
Segundo os pesquisadores, a temperatura e o índice de chuvas são os
principais motivadores para as migrações definitivas. Com o avanço dos eventos extremos
nas próximas décadas, cada vez mais áreas vão se tornar inabitáveis, e o contingente
dos chamados refugiados climáticos deve explodir.
No estudo, publicado na revista “Proceedings of the National Academy of
Sciences”, os cientistas acompanharam por 15 anos o deslocamento de sete mil
famílias da Indonésia. O país, que é o maior arquipélago do mundo, tem uma
população de cerca de 250 milhões de pessoas. Aproximadamente 40% dependem da
agricultura, e muitos vivem em áreas costeiras. São regiões altamente
vulneráveis ao aumento donível do mar e outros efeitos ligados às
mudanças climáticas.
DESERTIFICAÇÃO É OUTRA CAUSA
Com base nos registros, a pesquisa mostrou que o número de refugiados
climáticos é maior em locais onde cresceu a temperatura média do país, que é de
25,1 graus Celsius. Segundo o estudo, isso ocorreu porque o aumento dos
termômetros compromete o rendimento das culturas agrícolas. As chuvas teriam um
papel mais tímido nas migrações definitivas.
Vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas,
Suzana Kahn concorda com os resultados do estudo.
— Uma população pode acreditar que um episódio isolado, como um vulcão,
logo vai se resolver — lembra Suzana, que também é professora da Coppe/UFRJ. —
Mas as mudanças climáticas vão obrigar que estas pessoas se retirem
definitivamente de suas regiões. É um fenômeno já visto nos pequenos países do
Pacífico, que já negociam uma migração definitiva para a Nova Zelândia, por
causa do aumento do nível do mar.
A desertificação no Norte da África também provoca a migração de
milhares de pessoas para o Sul da Europa. Esse deslocamento tem levado ao
crescimento de legendas de extrema-direita, hostis à chegada dos refugiados
climáticos.
— A migração de grandes populações também tem consequências econômicas —
ressalta Suzana. — Na Europa, por exemplo, a resistência aos africanos é grande
porque eles aceitam condições de trabalho muito desfavoráveis.
No Ártico, o derretimento de geleiras proporciona a escavação de novos poços de
petróleo, o que atrairia muitas pessoas e empresas. (Renato Grandelle)
O Globo
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