sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mudanças climáticas de longo prazo provocam mais migrações do que os desastres naturais

Aumento da temperatura é a principal razão de deslocamentos


Quatro meses atrás, o vulcão Sinabung entrou em erupção na Indonésia, esvaziando as aldeias vizinhas, cobertas de cinzas. Cerca de 100 mil pessoas deixaram suas casas, mas a grande maioria voltou semanas depois. Esse é um retrato de como um desastre natural espanta uma população sem afugentá-la definitivamente. Agora, um estudo das universidades americanas de Princeton e Califórnia e do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos afirma que as mudanças climáticas, que ocorrem a longo prazo, provocam mais migrações do que as catástrofes isoladas.

Segundo os pesquisadores, a temperatura e o índice de chuvas são os principais motivadores para as migrações definitivas. Com o avanço dos eventos extremos nas próximas décadas, cada vez mais áreas vão se tornar inabitáveis, e o contingente dos chamados refugiados climáticos deve explodir.

No estudo, publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences”, os cientistas acompanharam por 15 anos o deslocamento de sete mil famílias da Indonésia. O país, que é o maior arquipélago do mundo, tem uma população de cerca de 250 milhões de pessoas. Aproximadamente 40% dependem da agricultura, e muitos vivem em áreas costeiras. São regiões altamente vulneráveis ao aumento donível do mar e outros efeitos ligados às mudanças climáticas.

DESERTIFICAÇÃO É OUTRA CAUSA

Com base nos registros, a pesquisa mostrou que o número de refugiados climáticos é maior em locais onde cresceu a temperatura média do país, que é de 25,1 graus Celsius. Segundo o estudo, isso ocorreu porque o aumento dos termômetros compromete o rendimento das culturas agrícolas. As chuvas teriam um papel mais tímido nas migrações definitivas.

Vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, Suzana Kahn concorda com os resultados do estudo.

— Uma população pode acreditar que um episódio isolado, como um vulcão, logo vai se resolver — lembra Suzana, que também é professora da Coppe/UFRJ. — Mas as mudanças climáticas vão obrigar que estas pessoas se retirem definitivamente de suas regiões. É um fenômeno já visto nos pequenos países do Pacífico, que já negociam uma migração definitiva para a Nova Zelândia, por causa do aumento do nível do mar.

A desertificação no Norte da África também provoca a migração de milhares de pessoas para o Sul da Europa. Esse deslocamento tem levado ao crescimento de legendas de extrema-direita, hostis à chegada dos refugiados climáticos.

— A migração de grandes populações também tem consequências econômicas — ressalta Suzana. — Na Europa, por exemplo, a resistência aos africanos é grande porque eles aceitam condições de trabalho muito desfavoráveis. No Ártico, o derretimento de geleiras proporciona a escavação de novos poços de petróleo, o que atrairia muitas pessoas e empresas. (Renato Grandelle)


O Globo

Nenhum comentário:

Postar um comentário