A imigração é um fenômeno humano antigo que se repete ao longo da história. Um imigrante é aquele que busca um país que não o seu de origem para ali viver ou passar um período de sua vida. Ele acredita ser a nova terra uma terra de oportunidades. Nesta segunda reportagem da série vamos ao passado fazer uma breve análise sobre a história da imigração no país.
Quando nos dias de hoje, novos grupos imigram para o Brasil com perfis diferentes dos grupos imigrantes do passado, vale lembrar que guardam algo que lhes é peculiar sempre: os grandes movimentos migratórios são constituídos por pessoas que buscam trabalho e melhores condições de vida e de segurança. É assim no presente e foi assim no passado.
O português foi nosso primeiro imigrante enquanto colonizava e ocupava nosso território. Mas a grande imigração para o Brasil, aquela em que o governo investiu altos recursos para incentivar a vinda de imigrantes europeus e mudar o perfil de seus habitantes, aconteceu entre após o fim da escravidão, 1890, até a crise econômica mundial de 1929. É o que diz o professor especialista em demografia pela UFMG, Duval Magalhães.
"O Brasil era chamado de país da imigração. Tínhamos uma política explícita de governo de atrair imigrantes.".
Foi uma imigração que trouxe ao país mão-de-obra qualificada, principalmente para trabalhar na lavoura do café. Mas esses imigrantes, principalmente italianos, se fixaram também nas cidades para trabalhar em variados ramos de negócios, destaca a professora Neide.
""Isso tudo ganha força com um movimento da Europa para o novo mundo. Era a Europa mandando gente para o Brasil, Argentina e Estados Unidos. Eles chegam e vão para a hospedaria dos imigrantes e de lá para as fazendas do café. Lá viviam em sistema de colonato. Eles entravam ali, moravam na fazenda, plantavam e colhiam. Mas tinham um sistema que ficavam com parte da produção e podiam comercializar o excedente. Com isso começaram a formar um pé-de-meia e serem proprietários de pequenos lotes. Depois passaram a migrar para a cidade."
O trabalho imigrante trouxe mais trabalho. Para escoar o café, logo foi necessário estruturar por todo o interior de São Paulo e Rio de janeiro uma enorme rede de ferrovias fato que levou à criação de inúmeras pequenas cidades. A professora diz que após os italianos, uma segunda grande imigração centenária no país se estabelece.
"Os japoneses ocupavam as franjas das cidades produzindo hortaliças e frutas."
Quarenta anos após a abertura dos portos aos estrangeiros, a imigração sofre brutal interrupção nos anos 30, explica Neide Patarra.
Quarenta anos após a abertura dos portos aos estrangeiros, a imigração sofre brutal interrupção nos anos 30, explica Neide Patarra.
"Em 1930, corta a imigração pela crise de Nova York, pela ditadura aqui, e pelo contexto internacional. E aí cessa esse período que a gente chama de consolidação da ideia do país de imigração."
De acordo com a professora, um movimento de imigrantes que tem como destino o Brasil vai ressurgir apenas depois da Segunda Guerra Mundial. O perfil de imigrantes é outro e eles chegam sem o incentivo do governo. O país entra em fase de forte desenvolvimento, o que o torna atraente.
"Vêm muitos libaneses, tem a imigração de judeus. A quantidade é menor, os grupos são outros e o papel deles na sociedade também é outro. Isso vai de 50 a 80."
Em 1980, muda tudo porque o país passa a ceder brasileiros que vão buscar melhores condições de vida nos Estados Unidos, no Japão e na Europa. Saiu mais gente do que entrou, disse o professor da UFMG, Duval Magalhães.
"A partir dos anos 80, a conhecida década perdida, nós temos uma forte saída de brasileiros. O Itamaraty estimou uma saída de 4 milhões de brasileiros em idade produtiva."
Nos anos 90, diminui o fluxo de brasileiros ao exterior, lembra a professora Neide.
"Se perde a mística do "eldorado" lá fora. E o que o Censo 2010 mostra é um enorme retorno de brasileiros do exterior."
Com uma economia mais forte do que a de muitos países vizinhos, o Brasil dos anos 90 volta a ser atraente como mercado de trabalho.
"Os bolivianos passam a ser o grupo mais forte. Começam a vir desde 1980. Depois vêm os peruanos, paraguaios. Chegam em pequenas levas e vão se instalando. E vamos desembocar na situação dos haitianos."
A professora lembra ainda um fato importante que decorre do novo perfil de imigrante. Nesse processo, as comunidades de antigas imigrações, como a libanesa e a italiana, vão perdendo espaço para as novas que chegam.
"Você vê isso refletido nos clubes, no futebol. Eles estão se diluindo. Você tem uma diáspora, uma diversificação muito grande e nessa os grupos tradicionais perderam força. São muito poucos os espaços de uma cultura italiana ou portuguesa. Estão enfraquecidos."
Para diferenciar a imigração do passado do processo migratório dos tempos modernos, o presidente do Conselho Nacional de Imigração, Paulo Sérgio de Almeida disse o seguinte: no passado, a pessoa vinha para criar raízes, para colonizar. Foi outro tempo na história social do país.
De Brasília, Eduardo Tramarim
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