Não é exclusivo da Líbia, ou de África. Há
escravos, aos milhões, um pouco por todo o mundo: adultos e crianças em
trabalho escravo, casamento forçado ou escravatura sexual
No Bangladesh, raparigas e mulheres da etnia
rohingya, sobreviventes das atrocidades dos militares birmaneses, estão a ser
vendidas como escravas sexuais. Na Líbia, ponto de acesso privilegiado pelas
redes de tráfico de pessoas para chegar à Europa, um vídeo de um leilão de
escravos divulgado pela CNN alertou a comunidade internacional para as
condições em que se encontram milhares de subsaarianos. É a ponta do véu de uma
prática que a maioria pensava estar erradicada, mas que atinge cerca de 40
milhões de pessoas por todo o mundo.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas condenou
na quinta-feira, esses atos "como hediondos abusos dos direitos humanos,
que também podem constituir crimes contra a humanidade". E saudou as
declarações da presidência do governo de unidade nacional da Líbia, que recusou
o tráfico de seres humanos e reafirmou que decorre uma investigação sobre as
alegações de tráfico de escravos.
Após a cimeira da União Africana-União Européia, a
Organização Internacional para as Migrações foi atribuída para reforçar a iniciativa de repatriar
migrantes para os países de origem. Até novembro, a organização baseada em
Genebra tinha transportado 14 mil migrantes e o objetivo é transportar mais 15
mil até ao fim do ano numa ponte aérea em grande escala. "Pode não
resolver a situação dos migrantes na Líbia, mas é nosso dever tirar os
migrantes dos centros de detenção como uma questão de prioridade
absoluta", comentou o diretor-geral da OIM, William Swing.
não resolve,
de fato: a agência das Nações Unidas registou mais de 400 mil migrantes na
Líbia e calcula que naquele país do norte de África ainda estejam entre 700 mil
e um milhão de pessoas com o sonho de um futuro melhor.
Destas, um número indeterminado enquadra-se na
definição de escravatura: quando uma pessoa é explorada em benefício de outrem
pela força, fraude ou coerção e lhe é negada forma de sair. A organização não
governamental Free the Slaves não tem ativistas na Líbia (tem no Congo, Senegal
e Gana, na Índia, Nepal e Haiti). Mas a lógica é igual em todo o lado. "É
importante lembrar que o problema que se passa na Líbia também está a acontecer
noutros lugares do mundo todos os dias", diz ao DN o diretor de
comunicação Terry FitzPatrick. "Os migrantes e os refugiados são
especialmente vulneráveis aos traficantes de seres humanos. Estão longe de casa
e das suas famílias, longe da proteção do seu governo, longe das suas línguas e
das redes de apoio. Cerca de 23% dos 40 milhões de pessoas em escravatura
moderna estão fora do país de origem, o que acentua os riscos que as pessoas
enfrentam ao sair de casa em busca de trabalho", completa o ativista da
ONG com sede em Washington.
Como combater a escravatura
Agir para mudar o cenário não se limita aos
voluntários e aos trabalhadores das ONG no terreno. Qualquer pessoa pode ajudar
em uma ou mais de quatro frentes, lembra-nos FitzPatrick. Em primeiro lugar, ao
apoiar o trabalho de organizações que estão na linha da frente como a Free the
Slaves (13 mil pessoas libertadas e 200 traficantes presos desde 2000, 1395
comunidades a receber apoio em 2016). Não só para libertar os indivíduos da
escravatura, mas também ao acabar com as condições para que persista, ao educar
os mais pobres e marginalizados coisas tão óbvias como o facto de a escravatura
ser ilegal, mas também ao conceder microcrédito ou a pressionar a polícia a
agir.
Em segundo lugar, ao passar a palavra, quer nas
redes sociais, quer no trabalho ou na escola. "Use um dos nossos vídeos
para iniciar a discussão", sugere o ativista. Em terceiro, ao assinar
petições para que organizações como as Nações Unidas, União Europeia e União
Africana ajam. "O tráfico transnacional de seres humanos exige uma
resposta internacionalmente coordenada." Por fim, ao preferir produtos do
comércio justo que não sejam criados por escravos ou que incluam
matérias-primas construídas pela escravidão; e, por fim, investir as economias
em fundos socialmente responsáveis que não compram ações em empresas com um
histórico duvidoso de direitos humanos.
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