A 18 de dezembro é
assinalado pelas Nações Unidas o dia Internacional dos Migrantes. Que sentido
tem lembrar a importância desta data? Olhamos para 2017 ainda no contexto da
"crise dos refugiados" que conduziu ao fecho de fronteiras na Europa
e a um acordo mais que duvidoso com a Turquia, revelando simultaneamente a
tibieza e a miopia de muitos políticos e o falhanço do programa europeu de
recolocação de refugiados.
Passamos os olhos pela crise dos rohingya que expôs
as hesitações de uma prémio Nobel da Paz face à constante destituição de
direitos de uma etnia. Ficamos estarrecidos perante o aberrante tráfico de
escravos de migrantes africanos na Líbia às portas da Europa, e indignamo-nos
com o muro americano que, mais do que betão, é feito de uma retórica que atira
para o outro lado todos os que não são wasp, com as guerras sectárias no Médio
Oriente e em África e já não nos espantamos com a decisão do atual presidente
Trump de abandonar os esforços internacionais para construir uma política
global para as migrações e que vê autorizada, em última instância, a terceira
versão do veto migratório dirigida a imigrantes de vários países, na sua
maioria muçulmanos.
A importância desta
data reside na necessidade de contrariar a forma negativa como as migrações
continuam a ser vistas quer pelas populações quer pelos media quer sobretudo
por muitos responsáveis políticos do mundo, apesar de vivermos no tempo da
maior mobilidade humana de sempre. Esta dimensão permanente de hostilidade face
ao estrangeiro é conclusão que atravessa a maioria dos relatórios das
organizações de defesa dos migrantes, como Caritas, Serviço Jesuíta aos
Refugiados, a Amnistia Internacional, Organização Internacional das Migrações.
As constantes
violações de direitos humanos de migrantes devem fazer-nos questionar a
legitimidade da hostilidade exercida sobre estas pessoas em tantas fronteiras
convertidas em lugares de dor, morte e negócios ilegais e o facto de se
materializar tantas vezes por discursos públicos e práticas que estigmatizam e
se autoalimentam.
Neste dia do
migrante, importa sobretudo dar lugar a sinais positivos de acolhimento e
solidariedade que podem contribuir para que algumas políticas sejam mudadas
para que venham também a dar resposta à inadiável urgência de replantar
princípios, valores e políticas e trazer para o espaço público a ideia da
hospitalidade como valor fundamental a defender. A hospitalidade tem sido a
bandeira sobre a qual se encontram várias dimensões do trabalho a favor dos
migrantes. Aquele que hoje pode parecer um valor em desuso relegado para
segundo plano tem mostrado que não está esquecido, através dos gestos de
pessoas e comunidades que abrem as portas de casa e os corações ao estrangeiro.
A primeira condição para construir a hospitalidade é ligarmo-nos à nossa
condição de seres vulneráveis e necessitados de cuidados sem esquecer que
precisamos do outro, dos outros, para viver. Não só individualmente, mas
enquanto nação ou sociedade. A segunda revela-se na hospitalidade enquanto
expressão pública, através de leis e instituições.
As práticas pessoais e
comunitárias são o substrato para a construção da política pública. É urgente
questionarmo-nos como se pode fazer a ponte entre estas iniciativas pessoais,
comunitárias, locais e as responsabilidades públicas. Fazendo esta ponte, a
hospitalidade pode dissolver a hostilidade e o medo.
André Costa JorgeDN
www.miguelimigrante.blogspot.com
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