Dados divulgados ontem (13)
pelo Observatório das Migrações Internacionais (ObMigra), com o apoio do
Conselho Nacional da Imigração (Cnig) e do Ministério do Trabalho, revelam que
no ano passado o número de estrangeiros que alcançaram postos de trabalho
formal no Brasil foi 13% menor que o registrado ao longo de 2015.
Além de afetar milhões de
brasileiros que, em algum momento dos últimos anos, se viram sem emprego, a
crise que o Brasil atravessa desde 2014 atingiu também a inserção dos
estrangeiros no mercado, interrompendo, em 2016, a tendência positiva quanto à
contratação de imigrantes, verificada entre 2010 e 2015.
O coordenador da
pesquisa, Leonardo Cavalcanti, disse que os efeitos da crise demoraram mais a
atingir os trabalhadores estrangeiros do que o conjunto dos brasileiros, devido
à concentração dos imigrantes em setores cujos reflexos do desaquecimento da
atividade econômica tardaram mais a ocorrer.
"Em 2015, enquanto
os brasileiros sentiam os efeitos da forte crise econômica, os imigrantes
continuaram com um saldo positivo de contratações. Já em 2016, eles passaram a
ser mais afetados pela crise", afirmou Cavalcanti, destacando que os dados
relativos ao primeiro semestre deste ano apontam para uma possível melhora do
quadro geral.
"Os dados do Caged
[Cadastro Geral de Empregados e Desempregados] do primeiro semestre apontam
para uma pequena recuperação, para mais admissões do que demissões de
imigrantes. Resta fecharmos o ano para ver se a tendência vai se confirmar ou
não", ressaltou. Ele acrescentou que não há porque o brasileiro se
preocupar com o fluxo imigratório. "Os imigrantes não vêm ao Brasil roubar
empregos. Eles representam menos de 1% da população presente em todo o território
brasileiro."
Predominância masculina
Proporcionalmente, a
maior redução verificada no ano passado ocorreu entre os homens, que são a
maioria a vir de outros países em busca de trabalho. Enquanto, em 2015, 93.256
dos 127.166 imigrantes contratados formalmente pertenciam ao sexo masculino e
33.910 ao sexo feminino, em 2016, do total de 112.681 imigrantes contratados,
80.804 eram homens e 31.877 mulheres. Comparados os dois anos, a
empregabilidade masculina variou -15,4%, enquanto a feminina, -6,3%.
Ainda assim, a
pesquisadora do ObMigra, Délia Dutra, destaca que a predominância masculina
chega a representar 72% da mão de obra estrangeira com vínculos formais de
emprego no Brasil, enquanto imigrantes e refugiadas têm maior dificuldade de
obter uma colocação.
Além de masculina, a
maioria (59%) dos imigrantes absorvidos pelo mercado formal, em 2016, tinha
entre 20 e 40 anos, é branca (42%) e havia completado apenas o ensino médio
(34%), sendo seguida de perto pela parcela de imigrantes com ensino superior
completo (30%).
No entanto, quando
comparados os dados de 2016 e de 2010, chama a atenção o crescente número de
pretos e pardos vindos para o Brasil em busca de trabalho, que subiu de 12%, em
2010, para 40% em 2015, caindo para 38% em 2016.
Considerado o mesmo
período, também chama a atenção a mudança quanto ao grau de instrução: em 2010,
a mão de obra estrangeira no Brasil era composta por 54% de pessoas com nível
superior de ensino. Em 2015, esse grupo já tinha baixado para 32% do total. E,
em 2016, caiu a 30%. Os dados, segundo os pesquisadores do ObMigra, sugerem que
a partir de 2010 novo fluxo de imigrantes passou a procurar o Brasil. O que se
reflete também nos postos de trabalho ocupados: em 2010, 41% da força de
trabalho estrangeira formal se concentrava nos postos hierárquicos mais altos,
como, por exemplo, diretores, gerentes e profissionais com nível superior. Já
em 2016, 30% dos estrangeiros conseguiram trabalho em cargos mais simples, na
produção de bens e serviços industriais.
Haitianos
Desde 2013, os haitianos
ocupam o primeiro lugar entre os estrangeiros inseridos no mercado de trabalho
formal brasileiro. No entanto, em 2016, a presença proporcional dos haitianos
no setor formal caiu 30% em comparação a 2015. No total, 25. 782 haitianos
conseguiram um emprego com carteira assinada no ano passado. Em 2015, os
haitianos contratados chegou a 33.507. A variação negativa de quase 30% entre
os dois anos foi a maior registrada entre as 21 nacionalidades com maior
presença no mercado formal brasileiro.
Em números absolutos, a
lista das dez nacionalidades mais comumente encontrada no setor formal em 2016
é completada pelos portugueses (8.844); paraguaios (7.737); argentinos (7.120);
bolivianos (5.975); uruguaios (3.947); chilenos (3.565); bengalis (3.433);
peruanos (3.195); chineses (2.983) e italianos (2.631).
Os venezuelanos, cujo
recente aumento do fluxo migratório despertou a atenção, ocupam um modesto 19
lugar, atrás, por exemplo, de franceses, norte-americanos e alemães. Contudo,
em 2016, foram justamente os imigrantes venezuelanos o grupo cuja representação
no mercado de trabalho brasileiro mais cresceu proporcionalmente, aumentando
32% em comparação a 2015 e ficando atrás apenas do aumento proporcional, no
período, da presença de angolanos (que cresceu 43%) e de senegaleses (42%).
Mesmo tendo contratado
menos no ano passado do que em 2015, o estado de São Paulo continua sendo o
maior empregador de estrangeiros formalizados, respondendo por 37% de todas as
contratações do ano passado. Na sequência, vem Santa Catarina, Paraná e Rio
Grande do Sul.
ObMigra
www.miguelimigrante.blogspot.com
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