Memórias
da imigração são sempre muito comoventes. Ainda mais quando tratadas com a
sensibilidade empregada por Paulo Pastorelo neste belíssimo "Tokiori -
Dobras do Tempo". A entrevistas com personagens, o autor mescla seu
depoimento pessoal, cartas, filmes e músicas para compor o painel da imigração
japonesa ao Brasil, em particular a São Paulo. Seu foco são cinco famílias
estabelecidas no bairro de Graminha, distrito de Oscar Bressane, no oeste
paulista, a 500 quilômetros da capital.
O,
digamos assim, pivô da história é Yoshie Sato, que chegou ao Brasil aos nove
anos de idade, acompanhada dos pais e irmãos. A família chegou a Graminha em
1936 e, através de uma série de casamentos, uniram-se em parentesco às famílias
fundadoras do bairro, os Yanai, Yoshimi, Funo e Okubo.
Aos
poucos, a memória da imigração vai se estabelecendo através dos elementos
reunidos pelo diretor. Em especial, pelo vai e vem que se estabelece entre
Brasil e Japão quando o fluxo se inverte e muitos brasileiros descendentes de
japoneses seguem para a terra dos ancestrais em busca de vida melhor.
Exatamente o que havia motivado esses ancestrais a procurarem uma terra tão
distante e improvável como o Brasil.
Pelos
depoimentos dos mais velhos, temos um retrato de como nos viam. Uma terra
ignota, selvagem, incompreensível. Uma vez estabelecidos, afloram alguns
preconceitos, como o de que o "brasileiro não gosta de trabalhar".
Por outro lado, a incorporação inevitável dos costumes locais, o feijão com
arroz cotidiano à mesa. São experiências contraditórias, cruzadas, aquele
sentimento que os franceses descrevem como dépaysement - a falta de solo na
ausência do país de origem e das suas referências culturais.
Alguns
fatos notáveis emergem em meio às lembranças banais do cotidiano. A guerra e
suas consequências, quando os japoneses foram considerados inimigos internos e
vistos com desconfiança. A experiência talvez tenha sido ainda mais dramática
para os japoneses, com a divisão interna na colônia entre os que acreditavam
que os japoneses haviam sido derrotados e os que se recusavam a crer nos fatos.
Mas
é no âmbito subjetivo que este documentário apresenta suas melhores cartas. Nas
fotos que, em seu rigoroso silêncio, não cessam de falar e nas cartas, uma em
especial que narra a longa e penosa travessia marítima do Japão ao Brasil. A
magia sofrida da imigração, este estar perene entre duas culturas e duas
esperanças, desvela-se então por inteiro. Quem é imigrante, ou de família de
imigrantes, sabe o que é isso.
O Estado de S. Paulo.
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