Pesquisa
feita pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) sobre a
situação de crianças sírias refugiadas no Líbano e na Jordânia revela uma
situação generalizada de estresse psicológico, com muitas vivendo sozinhas ou
separadas dos seus pais, sem receber uma educação devida e envolvidas com
trabalho ilegal.
Os dados constam do relatórioThe Future of Syria - Refugee
Children in Crisis (ou O Futuro da Síria – Crianças
Refugiadas em Crise), divulgado hoje pelo ACNUR. Trata-se do primeiro
relatório aprofundado feito pela Agência da ONU para Refugiados sobre crianças
sírias refugiadas desde o início do conflito naquele país, em março de 2011.
O relatório demonstra que muitas crianças refugiadas
sírias estão crescendo em famílias desestruturadas e que, em muitos casos, são
os principais provedores de seus lares. Mais de 70 mil famílias sírias
refugiadas vivem sem os pais e mais de 3.700 crianças refugiadas estão vivendo
ou desacompanhadas ou separadas de ambos pais e mães.
“Se não agirmos rapidamente, uma geração de inocentes se tornará
a última vítima de uma guerra terrível”, disse o Alto Comissário da ONU para
Refugiados, António Guterres.
Ao comentar o relatório, a Enviada Especial do ACNUR, Angelina
Jolie, disse que “o mundo precisa agir para salvar uma geração de crianças
sírias traumatizadas e isoladas pela catástrofe representada por esta guerra”.
O conflito, que já dura 32 meses, está deixando cicatrizes
psicológicas e emocionais. No Líbano, 741 crianças sírias refugiadas deram
entrada em hospitais para tratamento de ferimentos. Na Jordânia, mais de mil
crianças vivendo no campo de refugiados de Za’atri foram atendidas no ano
passado por causa de ferimentos relacionados ao conflito.
Ódio e outras reações emotivas também são comuns entre as
crianças: durante discussões em grupo com meninos refugiados, muitos deles
expressaram seu desejo de retornar à Síria para lutar. Os pesquisadores
envolvidos no relatório também ouviram relatos de crianças sendo treinadas para
o combate em preparação a um eventual retorno para a Síria.
Em muitos casos, famílias refugiadas com poucos recursos
financeiros enviam suas crianças ao trabalho para garantir um meio de sustento. Tanto na Jordânia como no Líbano, os
pesquisadores encontraram crianças de 07 anos de idade trabalhando várias horas
por dia, com ganhos insignificantes, muitas vezes em condições de exploração.
No campo de refugiados de Za’atri, na Jordânia, mais de 680 pequenos
estabelecimentos comerciais empregam crianças. Uma avaliação feita em 11 das 12
regiões administrativas da Jordânia descobriu que aproximadamente 50% das
residências de refugiados pesquisadas dependem parcialmente ou inteiramente da
renda gerada por suas crianças.
A pesquisa feita pelo ACNUR detalha uma dolorosa vida de
isolamento, exclusão e insegurança para muitas das crianças refugiadas. Entre as crianças entrevistadas,
29% disseram que saem de casa uma vez por semana ou menos. O que elas chamam de casa é, geralmente,
um apartamento abarrotado de moradores, um abrigo improvisado ou uma tenda.
O estudo inclui vários depoimentos de crianças. Para Nadia, uma
refugiada recém-chegada na Jordânia, “nossas vidas estão destruídas, pois não
estamos sendo educadas e, sem educação, não teremos nada. Estamos indo ao
encontro da destruição”.
O relatório mostra que há mais crianças sírias refugiadas fora
do que dentro da escola. Mais de metade das crianças vivendo na Jordânia não
estão indo à escola. No Líbano, estima-se que mais de 200 mil crianças em idade
escolar permanecerão fora da escola ate o final deste ano.
Outro sintoma preocupante da crise é o grande numero de
crianças nascidas no exilio, sem certidões de nascimento – um documento
essencial na luta contra apatridia. Dados do ACNUR sobre certidão de
nascimento no Líbano indicam que 77% das 781 crianças refugiadas pesquisadas
não tinham o documento. Entre janeiro e meados de outubro deste ano, apenas 68
certidões de nascimento foram expedidas no campo de Za’atri.
O relatório informa, em detalhes, os esforços feitos pela ONU,
ONGs, governos e até mesmo pelos refugiados para resolver o sofrimento das
crianças refugiadas. Assistência financeira para famílias refugiadas tem sido
oferecida pelo ACNUR para ajudar os núcleos familiares mais vulneráveis. O
relatório enumera atividades criativas do ACNUR, UNICEF, Save the Children e
outras ONGs para dar às crianças a chance de retomar seus estudos. A
generosidade e a compaixão das comunidades de acolhida são temas ressaltados pelo
relatório.
Existe cerca de 1,1 milhão de crianças sírias refugiadas, a
maioria vivendo em países vizinhos. Enfatizando que “esta marca vergonhosa do
conflito deve gerar mais que noticias”, Guterres e Angelina Jolie pedem apoio
aos países vizinhos da Síria para que possam manter suas fronteiras abertas,
oferecer serviços e ajudar as comunidades que acolhem refugiados fora dos
campos.
O Alto Comissário e a Enviada Especial do ACNUR também pedem que
os países além das fronteiras da Síria ofereçam reassentamento e mecanismos de
admissão humanitária para as pessoas que continuam se sentido inseguras no
exilio e para as famílias com crianças seriamente feridas.
Após quase mil
dias de conflito, o relatório do ACNUR é lançado para enfatizar o drama das
crianças sírias refugiadas. De
forma inovadora, o relatório é apresentado por meio de um microsite multimídia (www.unhcr.org/futureofsyria)
contendo fotografias e vídeos, além de declarações e estatísticas
facilmente compartilháveis por meio do Twitter e outras redes sociais.
Alguns dos vídeos foram feitos com câmeras GoPro que seguiram
crianças no campo de Za’atari. O microsite convida os visitantes a
compartilhar as histórias das crianças, doar e escrever mensagens de
solidariedade que serão compartilhadas com as crianças refugiadas.
Por: ACNUR
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