sábado, 9 de novembro de 2013

Imigrantes e refugiados no processo de Integração


O drama dos imigrantes e refugiados no mundo contemporâneo emerge e se impõe com a força de águas represadas. Estas se traduzem, de um lado, pelo medo e a fuga diante da pobreza, da violência ou da guerra; mas de outro lado, pelos sonhos, esperanças e lutas de novas gerações – em busca de trabalho e futuro, pão e paz. A travessia é sempre uma aventura arriscada de um “não lugar” para uma terra com sabor de pátria. O mar e o deserto, muitas vezes, se convertem em cemitério de imigrantes ou de cadáveres insepultos. 
Do ponto de vista das autoridades de muitos países, tanto os imigrantes quanto os refugiados constituem um problema. Transformam-se, não raro, em caso de polícia – ainda no pano de fundo da ideologia de segurança nacional, que remonta aos tempos da guerra fria. Outras vezes são confundidos genericamente com a realidade do tráfico de drogas, armas e seres humanos. Com isso é mais fácil fechar-lhes as fronteiras e rechaçá-los. Sem dúvida os atentados de 11 de setembro de 2001 agravaram tal clima no mundo da mobilidade humana. Respira-se uma atmosfera de tensão, hostilidade e conflito. 
Do ponto de vista da sociedade, em geral, ou da opinião pública, os estrangeiros podem ser vistos como “intrusos”. Além de estranhos e diferentes, pretendem roubar nossos postos de trabalho, o lugar de nossos filhos na escola, etc.... Instala-se um dualismo entre “nós” e “eles”, os de “dentro” e os de “fora”, os “bons” e os “maus”. Nessa perspectiva, nascem e crescem as mais variadas formas de preconceito, discriminação e xenofobia. A intolerância cerra portas e janelas à “invasão” do outro. Daí o ressurgimento de grupos neofacistas ou neonazistas diante da maior intensidade e complexidade do fenômeno migratório. 
Entre esses dois cenários – a guerra fria e o medo do outro – convém refletir sobre uma via alternativa. O fenômeno migratório tornou-se tão vivo e estridente que não permite indiferença. Em lugar de muros e leis cada vez mais rígidas e restritivas, resta-nos o desafio de construir pontes. Deafio que pressupõe, simultaneamente, uma constatação, uma novidade e uma ação. A constatação é a de que as diferenças, longe de nos empobrecerem, nos tornam mais ricos. Línguas, povos, culturas e costumes diferentes, quando colocados lado a lado, representam um enorme potencial de recíproco crescimento humano. A identidade de cada pessoa ou nação só se realiza plenamente no confronto com o outro. 
A novidade está nos olhos, no coração e na alma de quem faz da fuga uma nova busca. Imigrantes e refugiados carregam nas veias uma enorme vontade de vencer. Constituem sangue novo em organismos e sociedades às vezes marcadas por um senil declínio; oxigênio primaverial num mundo que caminha para o outono. Essa energia juvenil, própria de quem se põe a caminho, faz marchar a própria história. Vigor e coragem (e não só medo e desilusão) costumam fazer parte da bagagem dos migrantes. Estes tornam-se profetas e protagonistas (não somente vítimas) de horizontes mais largos, abertos e plurais. 
A ação, por fim, requer em primeiro lugar acolhida, escuta e compreensão diante do outro/diferente. Aqui não basta a tolerância ou a coexistência pacífica do multiculturalismo – uma espécie de justaposição de água e azeite. É urgente e necessário um salto qualitativo em direção ao interculturalismo, o qual exige o confronto e o diálogo que depuram, purificam e trazem um enriquecimento mútuo. É o que se pode chamar de processo de integração, que passa, ao mesmo tempo, por um reconhecimento dos vícios a serem superados e dos valores a serem incorporados – numa palavra, inculturação. 
Neste caso, longe de ser um problema ou um intruso, o estrangeiro – imigrante ou refugiado – se converte em oportunidade. Oportunidade múltipla de aprendizado, de confluência de energias renovadas e de encontros. Pavimenta-se o terreno para a cultura da solidariedade, da paz e do encontro. Pontes ao invés de barreiras – eis o que precisamos construir. 
Pe. Alfredo José Gonçalves é sacerdote. Foi assessor das Pastorais Sociais na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), desempenhou ministério pastoral no Brasil e Paraguai.


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