Pelo
menos 3.744 cubanos entraram no Brasil nos últimos dois anos e pediram refúgio
oficialmente. Eles formam o segundo maior contingente de estrangeiros
registrados no período pelo Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), do
Ministério das Relações Exteriores, atrás somente dos venezuelanos, superando
haitianos e angolanos.
Comparando os dados do ano passado com
2015, o número de cubanos que pediu ao Conare o reconhecimento do status de
refugiado aumentou 352%. O fluxo de cubanos para o País começou em 2015. Antes,
de 40 a 145 cubanos batiam na porta do conselho por ano.
O cubano Javier Ramirez Vakdez é um dos que
chegaram a Bonfim, em Roraima, no dia 19 de dezembro, depois de cruzar a
fronteira brasileira em Lethem, na Guiana. Deixou em Cuba dois filhos, três irmãos e sua
mãe para buscar trabalho, dinheiro e a liberdade que lhe faltava na ilha
caribenha.
— Cuba está em uma situação muito difícil, o
salário mínimo é insignificante e o que se paga não dá para viver — conta
Vakdez, motorista de ambulância.
A coordenadora do Centro da Pastoral do Migrante da
Igreja, em Cuiabá (MT), Eliana Vitaliano, afirma que a principal razão para a
chegada de imigrantes no país é a crise econômica que tem assolado Cuba.
— Eles estão chegando quase toda semana — afirma
Vitaliano.
Na vizinha Várzea Grande, os cubanos montaram uma
pequena colônia e se dedicam ao comércio de roupas. Vakdez está no abrigo da
pastoral há 20 dias. Ainda não conseguiu emprego, mas já tem carteira de
trabalho. Preferiu ficar em Cuiabá em vez de ir para São Paulo por acreditar
que a capital mato-grossense era um lugar mais pacato.
Cuiabá fica no meio do caminho dos cubanos que
buscam as Regiões Sul e Sudeste para se estabelecer. Organizações ligadas ao
acolhimento de imigrantes registraram nos últimos dois anos a presença de
cubanos em Minas, São Paulo e no Rio Grande do Sul.
Passagem
No começo, eles usavam o Brasil como passagem para
outros países, como Estados Unidos, Uruguai e Chile, como conta a coordenadora
do Programa de Reassentamento Solidário de Refugiados da Associação Antonio
Vieira, Karin Wapechowsk.
— Foi aí que alguns começaram a se fixar, pois
perceberam que no Brasil há mais liberdade e o País lhes concede a proteção do
status de refugiado — afirma Wapechowsk.
Para entrar no Brasil, os cubanos contratam
coiotes, pessoas que transportam e facilitam a entrada de imigrantes em um
país. A rota começa por Guiana porque a antiga colônia inglesa é um dos únicos
países do mundo que não exige visto de entrada dos cubanos. Eles saem da ilha
de avião - a passagem aérea custa cerca de US$ 900 (R$ 3.080) -, desembarcam na
capital Georgetown e vão até a fronteira brasileira. Os coiotes os auxiliam na
travessia.
— É muito mais barato vir para o Brasil. Para os
EUA (atravessando a fronteira mexicana), os coiotes cobram até US$ 10 mil (R$
34,2 mil) por pessoa — relata Vakdez.
O trajeto por terra segue pela BR-401 até Boa
Vista. De lá, a viagem para o sul do País pode ser feita por terra ou por
avião. Letícia Carvalho, que trabalha na Missão Paz, instituição de São Paulo
(SP) que atende e acolhe imigrantes e refugiados, foi a Roraima para tratar dos
venezuelanos no começo do ano e acabou encontrando um grupo de cubanos que
embarcava no aeroporto da capital Boa Vista para Brasília.
— Eram dez pessoas. Eles buscavam informações sobre
como obter documentos. O destino final deles era Porto Alegre — conta Letícia.
GauchaZH
www.miguelimigrante.blogspot.com
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