quarta-feira, 4 de abril de 2018

Refugiada promove evento de comida palestina em São Paulo

Refugiada promove evento de comida palestina em São Paulo

A guerra na Síria completou 7 anos de existência em março passado e o sofrimento da população local está longe de acabar. Segundo informações divulgadas pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados(ACNUR), o país está na primeira posição no ranking mundial de maior número de pessoas forçadas a fugir de determinado território. 

É o caso de Joanna Ibrahim, 30 anos, refugiada que vive no Brasil desde 2015. Anteriormente, ela já havia morado nos EUA por decisão própria para estudar enfermagem, mas precisou largar os estudos para volta à Síria e ajudar sua família. “Vi a guerra de perto”, relembra. Atualmente no Brasil, mais de 9,5 mil refugiados de 82 nacionalidades vivem em terras brasileiras, de acordo com dados de 2016 do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE).

Consciente e preocupada por haver tantas pessoas em situação parecida com ela, Joanna criou o aplicativo Bab Sharki, em 2016, uma plataforma que reúne produtos e serviços feitos por refugiados. O nome faz referência a um ponto turístico da capital síria e, em livre tradução para a língua portuguesa, significa “Portão do Sol”. O interior do portão é repleto de lojas e outros pequenos comércios, por isso a escolha.

“No fim de 2016, fomos até Boston para participar da Hult Prize, a maior premiação internacional de empreendedorismo social. Fomos selecionados entre 50 mil startups, mas não conseguimos chegar até a final. Porém, foi importante porque começamos a validar essa ideia de marketplace e dar o pontapé inicial. Após criarmos a rede, entramos em contato com os refugiados”, explica.

No mesmo período, Joanna também foi selecionada pela Bluefields Development, uma aceleradora de startups com foco em tecnologia e impacto social. “Nesse momento descobri que o aplicativo não era o suficiente. Os refugiados precisavam de um local para trabalhar e para fazer os produtos alimentícios. Porque suas cozinhas não são grandes o suficientes. A partir daí o nosso foco mudou para a estrutura: precisávamos encontrar um lugar para eles conseguirem produzir em escala industrial”, conta Joanna.

A partir da necessidade de um espaço físico, a síria arregaçou as mangas e conseguiu um espaço apropriado para colocar em prática os planos dos refugiados cadastrados no app. “Vamos começar ocupando uma cozinha compartilhada a partir do mês de abril. A cada semana, um refugiado fará um prato típico”, conta. 

A primeira edição do projeto Open Taste – A Experiência vai acontecer no dia 6 de abril, das 11h às 22h, na cozinha comunitária House of Food, localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Esse evento no Facebook dá mais informações sobre a programação.

“Estão conosco nesse projeto refugiados haitianos, colombianos, entre outros. Esperamos, em breve, conseguir arrecadar dinheiro o suficiente para abrirmos nosso próprio negócio. O objetivo é criar uma experiência para o cliente. Não queremos que comprem pela simpatia, mas sim porque o produto é muito bom porque eles precisam conhecer a história. Por isso vamos fazer essa conexão da história com a culinária”, explica a síria.

Responsabilidade social e vontade de voltar

Joanna comenta que, independentemente da posição política, a bandeira do radicalismo é perigosa. “Somos um povo muito pacífico, a maior parte da população não concorda com o que está acontecendo. A guerra mostrou o ser humano de verdade, como é bem feio. Para nós é realmente muito ruim que qualquer grupo radical consiga estar no governo”, comenta.

Para ela, uma possível volta para casa seria norteada por saudades e também por muita dor. “Penso em voltar somente para visitar. Na minha visão, se a guerra acabar agora, levará pelo menos dez ou quinze anos para tudo se normalizar. Sinto saudades de caminhar toda sexta-feira na região mais antiga de Damasco, de tomar café da manhã. Aquele é um lugar muito bonito, mas está completamente destruído. Os mísseis caíam que nem chuva”, relembra.

Joanna elogia o caráter receptivo dos brasileiros. “Discriminação vai existir em qualquer lugar, mas o que faz diferença para nós são as pessoas e não o governo, porque no fim do dia a gente tem que comer, pagar conta, a gente tem que se virar. A Alemanha, por exemplo, dá uma ajuda monetária para os refugiados, mas não há apoio da população. Por outro lado, o Brasil recebe o refugiado como pessoa, com amor. E mesmo sem ajuda financeira, vocês dão apoio”, diz.

Claudia

www.miguelimigrante.blogspot.com

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