A Embaixada e o Consulado do Brasil em Berlim são os primeiros a anunciar uma próxima audiência pública com os emigrantes para se avaliar o funcionamento do CRBE, Conselho de emigrantes (atualmente suspenso), nos seus dois anos de existência. Outras embaixadas e consulados deverão promover igualmente tais audiências públicas ou encontros com os emigrantes com o mesmo objetivo.
Durante a audiência, os emigrantes presentes serão convidados a responder uma série de questões relacionadas com o desativado CRBE. Essa iniciativa é importante porque demonstra publicamente o reconhecimento do fracasso do CRBE, da maneira como funcionou.
Essa constatação confirma nossas críticas publicadas, neses dois anos, aqui e na mídia alternativa, e pode ser um primeiro passo do Itamaraty para reconhecer a falha cometida na I Conferência Brasileiros no Mundo, se houver a real intenção de se encontrar o formato ideal para uma correta política da emigração.
O movimento Estado do Emigrante, sucessor dos Brasileirinhos Apátridas, saiu reforçado com a suspensão do CRBE, por nós criticado por não corresponder aos anseios da população brasileira vivendo no Exterior. E, por isso, esperamos que o MRE e Itamaraty nos dêem condições para participarmos direta e ativamente dessa anunciada busca na elaboração participativa de uma política de emigração.
Porém, ela responde apenas a uma parte de nossas reivindicações, feitas há quase cinco anos, no Rio de Janeiro, por ocasião da I Conferência Brasileiros no Mundo. Um longo trajeto sem rumo e muito tempo perdido em reuniões sem objetivo definido teriam sido evitados, se o Itamaraty tivesse cumprido o requerido, naquela ocasião, pela maioria presente, em favor da criação de uma Comissão de Transição, constituída de uma parte por emigrantes mas igualmente por representantes dos ministérios relacionados com a emigração, autoridades versadas na questão emigrante, parlamentares, o Conselho Nacional de Imigração e entidades ligadas à migração e imigração para se elaborar a esperada política de emigração.
Infelizmente, o Itamaraty, querendo assegurar o recente controle da questão emigração, que lhe fora outorgado pelo governo, e temeroso de perder essa primazia que lhe permtiria desenvolver todos um setor com verbas e novos postos criados, impediu fosse atendido o objetivo do abaixo-assinado maioritário, e assumiu de maneira intempestiva o papel de tutor dos emigrantes.
A atual intenção de promover-se audiências públicas pode ser positiva mas só cumprirá uma parcela mínima do requerido pelos emigrantes na I Conferência Brasileiros no Mundo. Propomos ao atual chefe da Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior que retire do arquivo o abaixo-assinado e veja o vídeo da última sessão dessa primeira Conferência, quando o embaixador Oto Maia comentava, com o apoio entusiasmado do embaixador Moscardo, o pleiteado pelos emigrantes. E a maneira antidemocrática como certos «donos» dos emigrantes impediram a aceitação do princípio da criação da Comissão de Transição.
E o que visava o abaixo-assinado com a criação da Comissão de Transição ? Queria que um grupo capacitado, com a confiança do governo, de maneira laica, estudasse a construção de uma política da emigração, inspirada na experiência de países de emigração, que reconhecesse a independência dos emigrantes, criando-se para isso um órgão institucional emigrante, reivindicação que, nestes anos, tomou o corpo de uma Secretaria de Estado da Emigração ou de ser integrada num Ministério das Migrações, incluindo igualmente a migração e a imigração.
As audiências públicas só serão válidas se completadas com a criação de uma Comissão de Transição, cujos membros já representativos da sociedade civil poderão dar sua contribuição e resultar, desse esforço coletivo, um novo conceito e formato de política da emigração, em substituição à criação minimalista e imperfeita de um conselho de emigrantes sob a tutela do Itamaraty, o atual fracassado CRBE. Refazer o CRBE com base nas respostas a um questionário levará o governo a uma nova frustração e a um novo fiasco em política de emigração.
Não se pode convocar os emigrantes para lhes oferecer algo já previamente preparado. Ora, foi isso o ocorrido. Quando os emigrantes, já no primeiro encontro pediram autonomia e independência, o Itamaraty surpreso e ultrapassado ofereceu um conselho de emigrantes, meramente consultivo, na verdade inútil na sua essência. Política de emigração não é se reunir anualmente os emigrantes e lhes dar um conselho para discutirem temas de cuja solução não partciparão, funcionando na verdade como marionetes sob a batuta do Itamaraty.
A leitura dos quesitos e perguntas a serem submetidos aos emigrantes nas audiências públicas não tocam na questão principal – qual a competência do conselho de emigrantes ? Simplesmente porque o CRBE, o fracassado ou o que será reformulado, não têm nenhuma competência para agir em qualquer tema emigrante. Podem apenas sugerir. Quem faz tramitar ou não a questão levantada são os diplomatas do Itamaraty. Ora, como já dissemos, o Itamaraty para avaliar as necessidade dos emigrantes não precisa nem de Conferência e nem de Conselho, basta contratar uma empresa de sondagens e pesquisas.
A verdade nua e crua é a inutilidade do CRBE ou seu substituto, uma espécie de farolada, neologismo que poderia resumir a intenção de se dar a impressão aos emigrantes de estarem fazendo alguma coisa, quando, na verdade, continua sendo só o Itamaraty quem tem a palavra final e quem coloniza a emigração.
Enfim, em nenhuma das quatro páginas da convocação para audiência pública se fala em verbas de funcionamento para o CRBE. Ora, os membros eleitos do CRBE que quisessem visitar as comunidades de sua região tinham de arcar com as despesas de viagens, pousadas e refeições. Porém, nas poucas vezes que o Itamaraty participou de encontros com os emigrantes, seus diplomatas tiveram viagem, hotel, refeições e diárias pagas.
Nossa orientação aos emigrantes é a de não se deixarem envolver na discussão das perguntas e quesitos que, na verdade, implicam numa aceitação tácita da atual política de tutela dos emigrantes pelo Itamaraty. Se forem a tais audiências, rejeitem os quesitos e insistam sempre na necessidade dos emigrantes terem sua própria independência, seu órgão institucional emigrante e não estarem submetidos à tutela dos diplomatas e do Itamaraty. Não entrem na discussão dos quesitos.
Essa é uma chance única – o Itamaraty quer obter indiretamente a aprovação dos emigrantes para sua política de tutela da emigração, com as audiências públicas simulacros de democracia, balisadas pelos tutores diplomatas. Ou enfrentamos a tentativa, denunciando a jogada, rejeitando discutir a maneira como não teremos acesso à nossa autonomia e rejeitando a formalização da tutela, ou boicotamos.
Mas há uma maneira de se protestar, seja você emigrante ou parente de emigrante -Envie este comentário ao Itamaraty, peça aos amigos e familiares emigrantes para fazerem o mesmo e enviem todos por email ao seguinte endereço – assistencia.berlim@itamaraty.gov.br .
Sem ilusões, na última audiência pública, os emails enviados pelos emigrantes em favor de uma Secretaria dos Emigrantes foram ignorados como foi ignorado o abaixo-assinado em favor da Comissão de Transição. Mas vamos insistir, não queremos uma política de emigrantes marionetes.
Sem ilusões, na última audiência pública, os emails enviados pelos emigrantes em favor de uma Secretaria dos Emigrantes foram ignorados como foi ignorado o abaixo-assinado em favor da Comissão de Transição. Mas vamos insistir, não queremos uma política de emigrantes marionetes.
Rui Martins, criador dos Brasileirinhos Apátridas e do movimento Estado dos Emigrantes, ex-membro do Conselho Provisório e do CRBE, é contra a tutela dos emigrantes pelo Itamaraty.
PS. A referência,ao final da convocação da audiência, ao Decreto que instituiu o CRBE não tem razão de ser. Tal decreto previa reuniões anuais pessoais para os membros do CRBE e para a Conferência Brasileiros no Mundo, que não foram cumpridas pelos Itamaraty. Trata-se de um Decreto sem valor?
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