Com a continuidade das operações militares no norte do Mali, a
Agência da ONU para Refugiados está reforçando sua equipe para assistir os 710
mil deslocados internos e refugiados.
Segundo a
porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming, a Comissão de Orçamento da instituição
reuniu-se em Genebra na última quinta-feira para aprovar o envio de dezenas de
especialistas para a região.
"Em
Burkina Faso, enviamos funcionários da capital Ouagadougou para monitorar a
fronteira e ampliar a assistência nos campos de refugiados na região
administrativa do Sahel. O novo planejamento permite ajudar mais de 300 mil
pessoas deslocadas dentro do Mali e 407 mil nos países vizinhos”, disse
Fleming.
O número de
refugiados têm aumentado significativamente. Até ontem, 2.744 pessoas já tinham
deixado o país desde os novos combates e a incursão aérea francesa, em 10 de
dezembro. Destes, 1.411 estão na Mauritânia, 848 em Burkina Faso e 485 no
Níger.
Incluindo
estes refugiados e os que se deslocaram desde o início da crise no Mali, há um
ano, já são 147 mil pessoas nos países da região: 55.221 na Mauritânia, 52.875
no Níger, 38.776 em Burkina Faso, uma estimativa de 1.500 na Argélia, 26 na
Guiné e 20 no Togo.
Cerca de 229
mil pessoas estão deslocadas internamente no Mali, Segundo a Comissão sobre
Movimentos Populacionais, incluindo 8.700 que saíram do norte em direção a
locais mais seguros. Grande parte foi para a capital, Bamako, como Aichatou, de
28 anos, originária de Timbuktu.
"Deixei
minha vila no ultimo domingo, cheguei a Bamako na última terça-feira. Precisei
sair por causa dos bombardeios, fiquei com medo pelas minhas quatro
crianças", ela disse. "Pedi US$60 emprestados para pagar o
transporte. Agora vivo na casa de um tio em Bamako, dividindo um quarto com
meus filhos e outras nove pessoas". Ela disse não haver eletricidade ou
água corrente, tampouco dinheiro para comprar remédio para seu bebê que está
doente.
Na última
quarta-feira, em Burkina Faso, a equipe do ACNUR visitou os postos de entrada
de Inabao, na região do Sahel, poucos quilômetros distante da fronteira com o
Mali. A agência encontrou 265 refugiados que haviam atravessado nos últimos
dias das cidades de Intahaka, N'Tillit e Dorage, além de áreas nos arredores de
Gao, no norte do país.
Os
refugiados relatam que estão deixando a região por causa da intervenção
militar, pela falta de meios de subsistência e medo da aplicação da norma
islâmica, a Sharia. Eles dizem ter presenciado execuções e amputações, e que os
civis estão sendo aliciados com dinheiro para lutar contra o exército do Mali e
seus apoiadores.
De acordo
com relatos, existem crianças entre os rebeldes. Algumas pessoas disseram ter
familiares desaparecidos.
Os
refugiados estão chegando a Burkina Faso por meios de transporte público,
pagando o equivalente a US$50 pela viagem – para muitos deles, é o
orçamento de um mês inteiro. Os recém-chegados são principalmente mulheres e
crianças da etnia tuaregue. Elas dizem que mais pessoas, incluindo seus maridos
e pais, estão a caminho de Burkina Faso, seja à pé, de burro, transporte local,
muitos carregando tudo o que têm.
Apesar da
insegurança no norte do Mali, muitos dizem que demoraram a deixar o país para
cuidar dos negócios e dos animais da família.
Os
recém-chegados em Burkina Faso estão sendo levados para o campo de Goudebou,
onde estarão mais seguros. "Pelas mesmas razões, continuamos realocando as
pessoas longe de Ferrerio e Gandafabou", disse a porta-voz do ACNUR.
As pessoas
estão sendo levadas para campos perto das cidades Dori e Djibo. Até agora, o
ACNUR conseguiu fazer 14 comboios para realocar 4.169 refugiados em campos nas
imediações destas duas cidades, e cerca de 6 mil outras pessoas ainda serão
levadas.
No Níger,
os refugiados que chegaram no ano passado e vivem nos campos do ACNUR dizem
estar preocupados com sua família que permaneceu no norte do Mali, incluindo as
áreas de Menaka, Anderamboukane e Ansongo.
A maioria
dos recém-chegados ao Níger está sendo dirigida aos campos de Mangaize e Tabareybarey,
assim como para as áreas de Banibangou e Tillia. Eles dizem que as pessoas
estão tendo dificuldades para deixar as áreas de conflito pela falta de
trasnporte. Motoristas de caminhão temem ser confundidos com rebeldes do Mali e
serem vítimas dos ataques franceses.
Os
refugiados dizem ainda que a esperança de a intervenção francesa durar pouco
pode estar fazendo muitos malineses esperar em vez de deixar o país. Enquanto
isso, o ACNUR continua providenciando ajuda aos ao quase 53 mil refugiados nos
campos e áreas de Mangaize, Banibangou, Ayorou, Abala e Tillia.
Grande
parte dos recém-chegados a Mauritânia vem da região central do Mali, de áreas
como Lere, Lampara, Niafounke e Timbuktu. A maioria diz que deixou o país por
causa do ataque francês contra os rebeldes islamitas, que tem espalhado o
pânico.
Alguns
refugiados deixaram suas casas à pé, outros usaram carro e alguns chegaram à
fronteira e ao centro de trânsito de Fassala de carroça. Os recém-chegados são
principalmente tuaregues, árabes, songhai e bella , e quase todos mulheres e
crianças, além de alguns idosos.
Por
Hélène Caux em Dacar, Senegal
Por: ACNUR
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