Assunto há muito tempo discutido na Europa e nos EUA, a questão da imigração tem sido recentemente tratada no Brasil. Conhecido até recentemente como um país de emigrantes, essa nova realidade na qual se vê o país nos últimos anos implica uma série de novos desafios, com claros desdobramentos na sua economia, política externa e Direito, para os quais tanto a sociedade quanto o governo brasileiro devem preparar-se com urgência caso as perspectivas de ascensão do Brasil no contexto global se confirmem.
Brasil dos imigrantes e emigrantes
Como todas as ex-colônias europeias da América, o Brasil recebeu várias vagas imigratórias de muitas partes do mundo. A primeira começou com a ocupação portuguesa do território brasileiro no século XIV, logo seguida pela importação de mão de obra escrava da África e depois da abolição da escravatura em 1888, para substituir a mão de obra negra pela dos imigrantes europeus. Desde então a sociedade brasileira mudou radicalmente por causa desses afluxos imigratórios, dando a cada Estado da federação características étnicas e culturais próprias.
Como todas as ex-colônias europeias da América, o Brasil recebeu várias vagas imigratórias de muitas partes do mundo. A primeira começou com a ocupação portuguesa do território brasileiro no século XIV, logo seguida pela importação de mão de obra escrava da África e depois da abolição da escravatura em 1888, para substituir a mão de obra negra pela dos imigrantes europeus. Desde então a sociedade brasileira mudou radicalmente por causa desses afluxos imigratórios, dando a cada Estado da federação características étnicas e culturais próprias.
Quanto aos primeiros emigrantes brasileiros,
estes foram inicialmente em direção aos países vizinhos, mas não tardou para
que fossem para os EUA, Europa e Japão. Entre as razões para deixar o país
estavam a baixa perspectiva de ascensão social, desemprego e a inflação
galopante que afetava o Brasil nos anos 1980. Paralelamente, havia a existência
de redes sociais já estabelecidas que facilitavam o estabelecimentos desses
emigrantes em países como Japão (decasséguis) e Portugal. O fato é que o número
de brasileiros que procuraram melhores condições de vida no exterior aumentou
exponencialmente desde então e hoje totalizam cerca de 3 milhões, entre legais
e ilegais.
O momento atual:
brasileiros que retornam
Com a atual crise econômica, muitos desses brasileiros retornam ao Brasil, principalmente para os Estados de São Paulo, Paraná e Minas Gerais. O blog Geo-Conceição apresenta números interessantes a respeito desses imigrantes:
(…) 65% dos imigrantes
são, na verdade, brasileiros que retornaram ao país. São os chamados
“imigrantes internacionais de retorno”. Em 2000, os brasileiros que voltavam
para casa representavam 61% do total de imigrantes.
O maior número de brasileiros retorna principalmente dos Estados Unidos, Japão, Portugal, Espanha, Paraguai e Bolívia. Alguns dados sobre a imigração de retorno chamam atenção, como o fato de 84,2% dos imigrantes dos Estados Unidos serem de brasileiros voltando ao país. No caso do Japão, esse percentual chega a 89,1% e no de Portugal, a 77%.
O maior número de brasileiros retorna principalmente dos Estados Unidos, Japão, Portugal, Espanha, Paraguai e Bolívia. Alguns dados sobre a imigração de retorno chamam atenção, como o fato de 84,2% dos imigrantes dos Estados Unidos serem de brasileiros voltando ao país. No caso do Japão, esse percentual chega a 89,1% e no de Portugal, a 77%.
Alguns setores da sociedade brasileira
mostram-se atentos a esse movimento de regresso. Por exemplo, o Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) informa ter firmado um acordo com o MRE (Ministério das Relações
Exteriores) para estabelecer uma parceria que ajude os brasileiros que retornam
ao País:
O Sebrae em Minas Gerais e o Itamaraty [MRE] firmaram
nesta sexta-feira (23) uma parceria de auxílio a brasileiros que vivem no
exterior e pretendam abrir e gerir um negócio próprio quando retornarem ao
Brasil. Com a atual crise econômica nos Estados Unidos e em países da Europa, a
expectativa é de que aproximadamente 500 mil dos cerca de 3 milhões de
emigrantes retornem ao país dispostos a tocarem seus próprios empreendimentos.
Em recente declaração,
o ministro Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República (SAE), afirma que as leis sobre imigração seriam
anacrônicas e dificultariam a absorção de mão de obra qualificada sem
oportunidade em seus países de origem.
É claro, conforme destacou Moreira Franco, que a educação
é a melhor ferramenta para o País alcançar o desenvolvimento necessário. Mas
esse é um caminho mais demorado. Por isso, ele salientou a importância de o
Brasil aproveitar este momento de grande oferta no cenário internacional.
A afirmação do ministro é paradoxal, pois que
uma das antigas demandas das classes mais baixas da sociedade brasileira era
justamente maior acesso à educação. Entre as demandas sempre estiveram a
concessão de bolsas de estudo a alunos de origem pobre, a valorização da
profissão de professor através de planos claros de carreira bem como salários
dignos à classe e o barateamento dos livros.
A lista é bastante longa, contudo o que foi
dito anteriormente mostra o quanto o Brasil desperdiçou de seu próprio povo. A
este não seriam necessárias alterações em caráter urgente das leis que regem os
vistos de trabalho para estrangeiros nem programas especiais de adaptação ao
novo país - o que inclui a aprendizagem da língua portuguesa - caso fosse
aplicado um plano que facilitasse o seu retorno ao mesmo tempo que aumentasse o
investimento em educação para os jovens no Brasil.
O Brasil, ao entrar nessa corrida pelos
cérebros estrangeiros, passa a competir com países como a Austrália(en) e o Canadá, sobretudo o Quebec(fr), que possuem programas arrojados para
a captação de imigrantes de alto nível para cobrir o déficit causado pelo
envelhecimento de suas populações. Caso bastante diferente do Brasil, que conta
com uma população ainda relativamente jovem e numerosa, chegando próximo dos
200 milhões, e sem grandes vazios demográficos como aqueles países, além dos 3
milhões de emigrantes no exterior desejosos por retornar ao seu país.
O professor de Relações
Internacionais, Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas pergunta-sequal cenário o futuro pode trazer:
O número crescente de pessoas do exterior em busca de
emprego mudará a forma como o Brasil se relaciona com estrangeiros. Visitantes
do exterior são bem quistos no Brasil, pois são poucos, ricos e não costumam
ficar por muito tempo. No futuro, os imigrantes virão em maiores números, serão
relativamente pobres, e terão a intenção de se instalar no Brasil.
[…] Embora possa levar décadas para que imigração ao Brasil chegue às
proporções conhecidas na Europa, resta a ver quão bem o Brasil lidaria com uma
nova onda de imigração, e os desafios que a acompanham.
Um possível cenário é o Brasil repetir as
mesmas políticas equivocadas que levaram esses 3 milhões de brasileiros a
emigrar: concentração de renda nas mãos de parcelas da sociedade
descomprometidas com a justiça social. Um outro cenário é o país ter aprendido
a lição dos “anos de chumbo” e atentar-se à divida que tem
tanto com os brasileiros que emigraram como com os que continuaram no Brasil,
sobretudo quanto ao acesso à educação e, por conseguinte, o direito a empregos
dignos.
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