Seminário
apontou propostas e principais desafios para a nova gestão
Durante
a comemoração do Dia Internacional dos Imigrantes, data estabelecida pela
ONU, desde 18 de Dezembro 1990,
a maior cidade do país deu um importante passo rumo à
consolidação de uma estrutura institucional, no âmbito da administração
pública, capaz de executar uma política municipal de migração.
Este
foi o tema abordado pelo Seminário “Por uma Política Municipal de Migração
em Defesa da Vida e da Dignidade dos Trabalhadores Imigrantes e suas Famílias,
organizado pelo Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante-CDHIC,
Instituto de Relações Internacionais IRI-USP e Associação de
Emreendedores Bolivianos da Rua Coimbra, realizado dia 18/12 no Centro
Universitário Maria Antônia, da USP.
O
Seminário teve a participação de 190 pessoas, em sua maioria imigrantes, entre
os quais sul-americanos, europeus e africanos. Entidades de defesa dos direitos
dos imigrantes, associações e grupos culturais também marcaram presença.
Representante
do Governo Federal, o chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Justiça –
SNJ/MJ, João Guilherme Lima Granja Xavier foi um dos convidados. Em
sua fala, João Guilherme destacou o papel que vem sendo desempenhado pela SNJ,
em torno da revisão do Projeto de Lei 5.655/2009, que prevê a substituição do
atual Estatuto do Estrangeiro, por uma nova Lei de Migrações. Guilherme admitiu
que o texto do PL não condiz com a necessidade do país de garantir um
novo viés para esta legislação, baseado na perspectiva do acesso a
direitos e cidadania por parte dos imigrantes.
“Rever
o Estatuto do Estrangeiro, que é herança da ditadura militar, é parte de uma
agenda da redemocratização brasileira, ainda pendente. Esta é a última barreira
legal a ser superada no Brasil, que impõe a determinado grupo de pessoas
diferenciação no acesso a direitos já alcançados pelos outros cidadãos. Há 120
anos os negros escravizados não tinha acesso a direitos. Há 70 anos eram as
mulheres que não podiam votar. Agora, os imigrantes formam o último grupo com o
qual temos essa dívida a pagar.”
Ao final, João Guilherme ressaltou que cada
município tem características particulares no que diz respeito aos imigrantes. ”A possibilidade é que essa política se aproxime das
necessidades e características de cada região e no caso de São Paulo nos temos
a principal faceta dos problemas dos deslocamentos migratórios. A gente está
falando de políticas que se desenvolva pelas ações municipais”.
Presente
no encontro, Ribamar Dantas que é da CGTB - Central Geral dos
Trabalhadores do Brasil e integra o Conselho Nacional de Migração – CNIg, deu
um informe importante de que o CNIg está finalizando proposta para que o
Brasil estabeleça acordo com os países de língua portuguesa, visando
garantir direitos já alcançados por imigrantes de outras regiões, por exemplo
do Mercosul.
Em saudação ao público, Pe. Mario Geremia, do
Serviço Pastoral do Migrante disse que “é
preciso fomentar convenções internacionais, políticas nacionais de
imigração e políticas municipais. Todo caso, as ações práticas e efetivas no
município podem interferir na esfera federal”, explicou.
A
professora Deisy Ventura, do IRI-USP, brindou os presentes com uma
abordagem sobre o tema, destacando a necessidade de uma transversalidade na
política municipal migratória, tanto na área da educação, como saúde,
assistência e demais direitos.
“Vou citar uma definição de Guilherme de
Almeida que em 1929 se referiu a São Paulo como “resumo do mundo. As migrações são elementos cruciais de nossa história e São Paulo
tem um papel especial.” disse Deisy.
Ao se
referir à futura gestão municipal, a professora citou o aspecto positivo de ter
na mesa representantes da equipe de transição, em diálogo com os movimentos
sociais e com as outras esferas governamentais.
“Vejo as lideranças imigrantes a todo tempo
‘vendendo o seu peixe’, que é justamente o acesso aos direitos enquanto
cidadãos. Se Fernando Haddad, hoje figura central na política brasileira,
decidir ‘comprar esse peixe’, será este um passo importantíssimo, de impacto
para todo país. Uma política municipal, com enfoque nos direitos humanos dos
imigrantes, contribuirá para que os mesmos não estejam expostos a uma dupla
vulnerabilidade, a primeira típica de quem vive em São Paulo e
enfrenta diversas dificuldades, e a segunda decorrente de sua nacionalidade, ou
de não ser brasileiro”.
Pela equipe de transição da gestão de Fernando
Haddad, participaram Lariza Beltramin e Frederico Assis. Ambos receberam as propostas
e enfatizaram a abertura do futuro governo em dar continuidade ao diálogo.
Lariza disse que ainda na fase de pré-campanha e elaboração do Plano de Governo
de Haddad, o tema mereceu atenção e foi contemplado. “Estamos estudando algumas questões enos próximos dias teremos
encaminhamentos importantes por parte da equipe”.
Luis
Vasquez, empresário boliviano, que representou a Associação de Empreendedores
da Rua Coimbra, também protocolou um pedido de regularização do comércio
daquela região, conhecida pela grande concentração de bolivianos. Diversas
entidades tomaram a palavra, elencando preocupações como acesso a saúde,
reconhecimento cultural, racismo, discriminação, regularização de imigrantes
africanos, direito ao voto, entre outros.
Também
estiveram presentes integrantes do Projeto Educar para o Mundo/IRI-USP, o
Consul Geral do Peru Fernando Alvarez e Juliana Felicidade Armede, coordenadora
do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas da Secretaria de Justiça e
Cidadania do Estado de São Paulo.
Paulo
Illes, diretor executivo do CDHIC, destacou a proposta de que São Paulo
organize a sua I Conferência Municipal de Migração, aberta a sociedade civil e
capaz de impulsionar políticas públicas na área. Em Novembro o CDHIC se reuniu
com a equipe de Fernando Haddad e entregou um documento com estudos e várias
propostas para a futura administração, todas reafirmadas no seminário.
Em
sintonia com o dia da Ação Global pelos direitos dos/as imigrantes, Illes pediu
um minuto de silêncio para homenagear a todos os imigrantes que durante o
processo de imigração não conseguiram chegar a seus destinos.
No
encerramento do evento, os estudantes do curso de Português e Formação Política
do CDHIC receberam seus certificados de conclusão do primeiro módulo. A
instituição terá novas turmas em 2013.
Cdhic
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