A vaga de emigração no
continente europeu cresce a um ritmo avassalador. Os jovens atingidos pelo
desemprego crescente nos países em crise fazem as malas e partem à procura de
uma vida melhor e principalmente de um salário condigno.
A
Austrália é o país de sonho para os jovens irlandeses, mas os espanhóis
consideram a América Latina o “eldorado”.
Para
Enric Balaguer, o natal de 2012 poderá ser um dos últimos passados na Europa,
pelo menos a curto prazo. Enric é um jovem arquiteto de 29 anos altamente
qualificado, mas não vê futuro a trabalhar como “freelancer” em Barcelona.
Procura agora a sorte na América Latina. Como ele milhares de jovens espanhóis,
gregos, portugueses e irlandeses iniciaram uma verdadeira peregrinação em nome
de uma vida melhor.
“É
um sentimento estranho, porque estou prestes a deixar para trás a minha cidade,
a minha família, as pessoas de quem gosto, os meus amigos. Ao mesmo tempo tenho
um sentimento positivo. É irónico. Felizmente ainda durmo bem, não tenho
pesadelos. No entanto, ainda não estou completamente consciente da situação”,
desabafa Enric Balaguer.
Enric
e a namorada vão partir rumo a Cordoba, no coração da Argentina. A viagem não
tem regresso marcado. A bordo 180 quilos de bagagem e livros de arte, os
favoritos do jovem arquiteto.
Outro
país, outro quarto e mais um dia a fazer malas. Kilrush, uma pequena cidade
costeira da Irlanda, tem um vasto historial em matéria de emigração. Mary
Gilligan tem mais cinco irmãos. Joe é o mais novo. Terá de se habituar à ideia
de crescer sem Mary, que ruma à Austrália.
“Muitas
pessoas saíram de casa. Kieran, o meu irmão mais velho, partiu com os amigos
para a Austrália há três semanas. Também tenho alguns amigos que estão a ir
para lá. O número de pessoas a partir neste momento é significativo”, explica
Mary Gilligan.
A
emigração alcançou o nível mais alto desde o período da “Grande Fome” que
atingiu a Irlanda. Estima-se que cerca de três mil pessoas deixem o país por
mês. Representam uma centena por dia.
A
nova vaga de jovens irlandeses leva forças, talento e consequentemente a
possível prosperidade que a ilha poderia vir a ter.
Mary
segue o irmão rumo a Brisbane. Como ela, muitos outros embarcam nesta viagem de
mais de 20 horas. É formada na área da assistência social, mas em fevereiro
começará a trabalhar na colheita de cerejas numa quinta australiana. A maneira
de conseguir um visto alargado e mais perspetivas, como explica: “É um grande
passo. A Austrália está muito longe. E francamente, olhando para as
fotografias, é um país atrativo. Decididamente estou entusiasmada com a
mudança. Pelo que ouvi, as perspetivas de trabalho na área da assistência
social são boas na Austrália. É uma área em que estão à procura de pessoas.
Esperemos que tenha sorte quando chegar lá.”
Na
Irlanda, a taxa de desemprego atingiu os 15%. O cenário para os mais jovens é
ainda mais negro: quase um terço está sem trabalho.
E
em Espanha, jovens como Enric Balaguer confrontam-se com um mercado laboral
deprimido e com uma taxa de desemprego juvenil de até 50%.
Enric
está orgulhoso de ter participado no planeamento de uma extensão para um
hospital de Barcelona, mas com a crise financeira e o rebentamento da bolha
imobiliária, o projeto foi abandonado.
A
namorada Vicky veio para Espanha há doze anos. Saiu da Argentina, mas a crise
atingiu primeiro os imigrantes. Neste momento Vicky está desempregada e quer
voltar a casa. Enric e Vicky querem construir uma família. Que conselhos têm a
dar aos que pensam partir?
“Primeiro
é preciso não ter medo. Depois é preciso pensar bem no país para onde nos
dirigimos, as línguas que conhecemos ou que temos de aprender. Também devemos
estar informados sobre as exigências a nível burocrático. Acima de tudo é
preciso por o medo de parte e saltar para a água”, diz Enric Balaguer.
Na
Irlanda, o condado de Clare terá um Ano Novo mais pobre, sem Mary, a rainha
local da beleza. A mãe, Shirley Gilligan, também lamenta: “É uma grande mudança
e parece que há uma geração que desapareceu. Sentimos isso. Todos estes jovens
educados, inteligentes e preparados querem deixar o país. Todos. E não sabemos
se alguma vez voltarão, porque as alternativas lá fora são boas.”
Em
nome de um futuro melhor, a Comissão Europeia propôs a criação de uma “Garantia
da Juventude”, um mecanismo que assegura que os mais jovens são encaminhados
para o emprego. Se os Estados-membros não aderirem à iniciativa, a Europa perderá
ainda mais cérebros como Mary e Enric.
Euronews
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