segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

‘Oásis’ global, Brasil ‘importa’ mais e ‘exporta’ menos trabalhadores



‘Oásis’ global, Brasil ‘importa’ mais e ‘exporta’ menos trabalhadoresRetomada do crescimento e resistência contra crise global de 2008 e à volta dela em 2011 invertem fluxo de pessoas que cruzam fronteiras do país. Número de brasileiros no exterior cai pela metade e o de imigrantes, sobe 50%. Portugueses e espanhóis em fuga de Europa decadente se destacam. Imigração ilegal também avança.
Najla Passos
BRASÍLIA – Houve um tempo em que os jovens brasileiros, pressionados pela falta de oportunidades no país, sonhavam em ganhar a vida nos Estados Unidos, mesmo que, para isso, precisassem arriscar a própria vida para cruzar, ilegalmente, a fronteira da maior economia do mundo.
Hoje, essa é uma realidade cada vez mais distante. O crescimento econômico brasileiro, a crise internacional que assola a Europa e castiga até mesmo os Estados Unidos, além dos recentes desastres naturais no Japão, inverteram as estatísticas migratórias.
Há seis anos, quatro milhões de brasileiros viviam no exterior, conforme estimativa do Departamento de Estrangeiros da Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça. Hoje, acredita-se que esse número tenha caído pela metade.
Dados do Banco Central apontam que o envio ao país de dólares mandados por brasileiros que vivem no exterior foi reduzido em cerca de 10% de 2009 para 2010.
Em contrapartida, o número de estrangeiros que escolhem o Brasil aumentou cerca de 50% de 2010 para cá. Segundo o Departamento de Estrangeiros, até junho de 2011, eram 1,466 milhão de estrangeiros vivendo regularmente no país, enquanto em dezembro de 2010, era 961 mil.
Os estrangeiros que chegam ao Brasil atraídos pelas notícias sobre a boa fase da economia brasileira são, principalmente, portugueses e espanhóis bem qualificados profissionalmente, que deixam a crise das economias europeias para contribuir com o desenvolvimento brasileiro.
Mas cresce também o número de estrangeiros que, pelos mesmos motivos, entram ilegalmente no país, em busca de emprego. Eles vêm da Bolívia, do Paraguai e, em condições mais precárias, do Haiti.
Do ano passado pra cá, os portugueses aumentaram de 276.703 para 328.856 e, os espanhóis, de 58.505 para 59.322. Segundo secretário-executivo do Ministério da Justiça e presidente do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), Luiz Paulo Teles Barreto, eles vêm para o Brasil exercer funções altamente especializadas, como na atividade de prospecção de petróleo. Entretanto, são trabalhos sazonais. “Eles passam um tempo no país e depois vão embora para outras terras”, afirma.
Na sequência, estão os bolivianos, que aumentaram de 35.092 para 50.640; os chineses, de 28.526 para 35.265; e os paraguaios, de 11.229 para 17.604. Os bolivianos e paraguaios procuram melhores condições de vida em um país próximo e de economia sólida. “Eles exercem o direito humano à migração e vêm em busca de oportunidades”, explica. Já os chineses, ainda de acordo com ele, reforçam um fenômeno global, verificado principalmente com os países que mantêm boas relações comerciais com a China.
Os haitianos, em número bem menor, fogem da miséria do mais pobre país latinoamericano, devastado por um furacão, em 2010, e por um consequente surto de cólera, este ano. Mesmo tendo que entrar no Brasil de forma ilegal, eles sabem que, aqui dentro, terão condições de vida muito melhores do que no Haiti.
Apesar de manter suas fronteiras fechadas, o país jamais negou alojamento, refeição diária, trabalho e visto humanitário para os cerca de quatro mil haitianos que já cruzaram s fronteiras brasileiras, desde o ano passado. Entretanto, o país não possui uma política sólida que garanta abrigo a essa população.
“O Brasil tem uma forte participação no Haiti. Mantém o maior efetivo da Força de Paz e realizou um jogo de futebol que foi fundamental na reconstrução da auto-estima daquela população. A notícia de que a construção da usina de Belo Monte iria empregar mais de 25 mil trabalhadores se espalhou naquele país devastado pela miséria, provocando a alta do fluxo migratório”, explica Teles Barreto.

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