terça-feira, 7 de junho de 2011

PARA REFLETIR


*Jairo Moura Costa

Saio do ultimo Encontro de Formação, em que participamos de um Seminário no qual foram debatidas as “GRANDES OBRAS E MIGRAÇÕES” enriquecido. Enriquecido de argumentos e convencido mais do que nunca que é necessário debater as idéias sobre o que pensamos e o que queremos, ou seja, os nossos objetivos. Me refiro aos objetivos e projetos coletivos porque são eles que dão sentido, e direção a nossa caminhada como Pastoral. Há um grande grupo de seres humanos que confiam no nosso trabalho, e de nós esperam sempre o que temos condições de lhes oferecer. A 26ª Semana do Migrante nos interpela para “O QUE TEMOS A VER COM ISSO?” Respondo que temos tudo a ver no que se refere as condições em que vivem este povo do qual nós também fazemos parte. Estamos comprometidos em todos os aspectos da vida humana no planeta. Há um povo que caminha e nós mais do que nunca temos o compromisso de caminhar com ele. E assim seguimos. Mas que compromissos são esses? Lembremos.

AS GRANDES OBRAS

A primeira pergunta que se faz sobre as grandes obras é a quem elas interessam? Quais são seus objetivos? Irão nos responder sobre a necessidade delas para o desenvolvimento do país. Que elas geram grandes canteiros de obras e que geram um grande número de empregos. Hoje o que mais se tem dito no Brasil é a criação de postos de trabalho com carteira assinada. Sabemos o porque. Por causa da contribuição previdenciária, do que se arrecada com o imposto de renda, e outros impostos, que são arrecadados e que não são revertidos em benefícios a classe trabalhadora. O s objetivos verdadeiros das grandes obras não nos são revelados. Pelo simples fato de que eles não são de natureza coletiva. São para atender interesses de pequenos grupos, que usam recursos públicos para tocarem os grandes projetos, que na verdade são projetos políticos pessoais. Os grandes projetos não observam as necessidades das coletividades afetadas por eles. Desmatamentos são feitos, comunidades inteiras são retiradas de seus locais de origem. Uma violência contra as pessoas, com os sentimentos delas, com suas tradições. Sim, sentimentos. O ser humano os tem. Portanto. Não há objetivo, há obsessão. E qual a diferença entre um e outro? Na obsessão não há a análise das conseqüências dos projetos. Não se leva em conta as pessoas afetadas, nada é analisado, o ser humano é apenas um detalhe. No objetivo tudo é levado em conta. Os impactos ambientais, as pessoas que serão afetadas, e se serão afetadas o que se pode fazer por elas, de forma que seus prejuízos sejam pelo menos reduzidos ao mínimo.
O que nós devemos esperar dos grandes projetos? Propaganda externa. Sim os grandes projetos, as grandes obras são divulgadas no exterior e ajudam a melhorar a imagem do Brasil. A imagem do país no exterior é de um franco desenvolvimento, de uma liderança na América do Sul. Devido a isso há um grande contingente de retornados ao país, porque na América do Norte e Europa a recessão é grande. Recebemos imigrantes de toda a América do Sul e Central, que nos enxergam como o país das oportunidades. Estamos na transição do país do futuro para o país de agora. Hoje nos enxergam, nos respeitam, nos escutam. Estamos internamente organizados democraticamente, que é como nos deixamos mostrar externamente.
Mas, internamente, como estamos? Há muito por se fazer. O que mais necessitamos hoje são políticas públicas nas áreas de saúde e educação, para iniciar a nossa reflexão. Ainda há um grande contingente de pessoas sem saneamento básico que inclui rede de esgoto, água tratada. Muitos não tem acesso a um atendimento, para tomar uma simples vacina obrigatória para as nossas crianças. A qualidade do ensino público é precária, frágil, e ineficiente. Desde professores mal remunerados a estruturas e materiais ruins e métodos arcaicos e mal planejados. As nossas cidades sofrem porque as suas populações sofrem. A nossa população é oferecido um serviço de péssima qualidade. Pagamos altos impostos e recebemos pequenos benefícios ou serviços. O que fazer? Ou a quem recorrer? Como exigir os nossos direitos? É o que precisamos debater.

A FORMAÇÃ0

Baseado em livro de Josué Pereira da Silva e entrevista com Jessé de Souza nos debruçamos no labirinto do mundo do trabalho. Nos dias de hoje no mundo inteiro há uma grande tentativa de baixar os custos de mão de obra, que baixam também os custos dos produtos. Um grande desrespeito as conquistas históricas dos trabalhadores no mundo. Uma acirrada concorrência, que chega a deslealdade, em função do lucro a ser obtido. O que mais se fala no Brasil é na flexibilização da legislação trabalhista, e ela vem tornando o trabalhador neste século em escravo. Sim, uma nova modalidade de escravidão. Mas muito real. O mercado, o capital escraviza o trabalhador, e ainda hoje fica uma desigual disputa do capital x trabalho.
O que dizer dos trabalhadores acampados nos alojamentos dos grandes projetos nacionais, em condições sub-humanas, e marginalizados pela mídia quando reivindicam melhores condições de trabalho, e de alojamentos. O que dizer da prostituição juvenil no em torno dos grandes projetos. O que dizer dos trabalhadores temporários que acompanham as suas empregadoras(empreiteiras) Brasil a fora. Como formar uma família e educar os filhos a distância? Como ficam as cidades formadas no em torno dos mega projetos, após os términos das obras?
O que dizer sobre os gatos que aliciam pessoas com falsas promessas e as levam a armadilhas submetendo trabalhadores a regimes de escravidão. A pessoas principalmente mulheres levadas ao exterior para viverem presas a seus aliciadores e vivendo uma vida na prostituição?
A crise mundial no mercado de trabalho é mais de ética. A cidadania está ameaçada. Não há respeito as pessoas, a sua dignidade, a seus valores morais, culturais, religiosos. Onde vamos chegar? Pensemos. Talvez estejamos muito próximos do fundo do poço. Quem sabe acordemos e talvez seja tarde quando isso ocorrer.
É hora de fazermos uma parada como Jonas. Para podermos continuar a caminhada. Fomos bem lembrados pois quem não para não avalia os passos dados até agora. Precisamos do silêncio da parada. Para refletir, e para ter o que dizer depois. A parada, o silêncio nos traz palavras novas como bem nos orientou o Pe. Alfredinho.
É o momento de pensarmos e fazermos as mudanças necessárias. Elas vem do silêncio. Não vem no espetáculo, vem do chão que pisamos, e dos caminhos que fazemos. Que mudanças implementaremos? Que caminhos tomaremos?

CONCLUINDO
A construção de uma nova sociedade e uma mudança de mentalidade, exige de todos sacrifícios. Ela só será possível a partir do momento em que formos convencidos, de que podemos ser solidários e fraternos. Que a todos nós é permitido o direito a verdadeira igualdade. É fundamental a mudança de mentalidade, e para isto é preciso mudar a metodologia de educar as mentes e os corações. Exercitar isso é difícil, pois Cristo tentou e olha o que fizemos a Ele. A Fraternidade o Amor são elementos fundamentais para se alcançar estes objetivos. Precisamos ser homens e mulheres velhos(as) mas com mentalidades novas, com novos conceitos Sociais, Religiosos e Políticos, voltados ou dotados de uma sensibilidade que enxergue verdadeiramente as necessidades das pessoas, que as eduque e as transforme.



*Coordenador do Setor Urbanos do SPM – 2 de Junho 2011.

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