quinta-feira, 2 de junho de 2011
Eleições: Atenção à crise em Portugal sem impacto na baixa participação dos portugueses nos EUA
A crise em Portugal é seguida e discutida pelos portugueses nos Estados Unidos, que contudo não deverão votar significativamente mais nas próximas eleições legislativas, segundo fontes da comunidade ouvidas pela Lusa.
Para Fernando Rosa, da associação comunitária PALCUS, o "atual sistema [eleitoral para a comunidade luso-americana] não ajuda as pessoas a participar", apresentando dificuldades que levam os emigrantes a desligar-se do processo.
Se nestas legislativas o voto é por correspondência, nas presidenciais e para o conselho das comunidades, em que o boletim é depositado em urna, os votantes podem "perder o dia inteiro para se deslocarem ao Consulado", por haver poucas mesas de voto, adianta.
De mais de um milhão de emigrantes portugueses no país, menos de 11 mil estão recenseados.
Os emigrantes veem a crise em Portugal, diz Rosa, "com uma preocupação enorme" e o debate é seguido, mas "a participação deve ser mínima outra vez".
Com o "coração em Portugal", Albertino Coutinho, empresário de 73 anos de Newark (Nova Jérsia), vê o país "na maior crise da sua história" e diz que não seria "um bom português se não acompanhasse a situação".
"É uma vergonha ver um país com 1.000 anos de história afundar-se desta maneira. Acompanho todos os dias, todos os noticiários, porque gosto de Portugal, é sempre o meu país", afirma Albertino Coutinho, até 2009 à frente da organização do Dia de Portugal em Newark, considerado o maior das comunidades.
"Fizemos mal em emigrar. Se estivéssemos lá, talvez o país não estivesse assim. As pessoas que estão cá fora têm ambição, querem vencer", afirma à Lusa.
Para "contrariar a abstenção exagerada" e para uma mudança social que a permita voltar a encontrar "motivação profissional" para estar em Portugal, Leonor Sousa Uva, jovem estagiária do programa Contacto em Nova Iorque, foi esta semana ao consulado enviar o boletim, mesmo de muletas devido a uma recente lesão.
"Espero sinceramente que haja grande afluência às urnas, e acredito que sim, principalmente porque os jovens - e vejo isso pelos meus amigos - estão bastante cientes que têm de ter um papel ativo na vida política do nosso país", diz à Lusa.
A imprensa das comunidades tem vindo a noticiar as eleições, mesmo a de língua inglesa, como o Portuguese-American Journal, cuja editora, Carolina Matos, diz que os artigos sobre o tema têm sido lidos e até partilhados nas redes sociais, embora localmente as eleições não suscitem "paixões" ou participação.
"A imigração está em transição, não temos tido imigração direta nos últimos 20 anos ou mais e agora esta primeira geração integrada. Está a perder um bocado o contacto com as origens", diz a editora do jornal eletrónico.
Carolina Matos lamenta também que haja pouca movimentação dos partidos.
Fernando Santos, ex-diretor do jornal Luso-Americano, deixou de votar há muitos anos e também não espera que a crise em Portugal se traduza num impulso da participação.
Defende mesmo que os imigrantes cujas aspirações para si ou para os seus filhos estejam nos Estados Unidos pensem bem antes de votar, porque podem vir a "ter problemas" profissionais.
Aponta o caso de uma imigrante portuguesa que teve de entregar o passaporte português porque a empresa onde trabalhava foi contratada pelo Departamento de Defesa, que ao abrigo de uma lei recente não poder ter trabalhadores com dupla nacionalidade.
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