sexta-feira, 17 de junho de 2011

Falta comida para haitianos em Manaus


Praticamente todas as semanas tem chegado haitiano em Manaus. Eles se concentram em igrejas, como a do bairro São Geraldo, em busca de emprego e moradia

Com a chegada de mais um grupo com 52 haitianos a Manaus, na última terça-feira, as dificuldades para garantir a alimentação dos mais de 1,1 mil refugiados que já estão vivendo sob condições precárias se agravam e obrigam os religiosos que coordenam os oito abrigos da cidade a racionar comida.
E a situação deve ficar ainda mais delicada com a chegada de um novo grupo, no sábado, vindo de Tabatinga, onde mais de 500 haitianos aguardam a emissão do visto de entrada no país para pegar o primeiro barco em direção a Manaus.
Foi o que relatou o padre Valdeci Mulinari, pároco da igreja de São Geraldo, na avenida Constantino Nery, onde mais de 100 haitianos vem dormindo em colchões espalhados no salão e na casa paroquial.
“Eles não param de chegar e a nossa angústia hoje é pensar no sábado, quando chegam mais. Nunca nos sentimos tão sem saber o que fazer como agora. Não sei como vamos abrigar, tão pouco alimentar toda essa gente”, disse o pároco, preocupado.
De acordo com o padre Mulinari, o número de haitianos que não param de chegar a Manaus surpreendeu até mesmo os religiosos que, voluntariamente, estão dando abrigo, alimentação e aulas de português para os refugiados em paróquias e casas cedidas.
Segundo ele, o número de haitianos na capital cresce mais rápido do que as doações de voluntários e, por isso, falta comida, espaço e até colchões. A maioria dos abrigos também possui problemas estruturais e precisa de uma reforma.
“Na primeira noite após esse último grupo chegar, 22 tiveram que dormir no chão porque não há mais colchões”, contou o padre, que esperava receber uma doação de 30 colchões.
Carne é privilégio
Mas a maior preocupação do padre Mulinari é mesmo garantir a alimentação dos mais de 1,1 mil haitianos em Manaus.
O pároco contou que, nos depósitos de alimentos, a comida existente só é suficiente para alimentar os refugiados por uma semana.
“Só resta um pouco de arroz e feijão, mas já não temos mais óleo nem açúcar. O arroz com feijão tem sido a base da alimentação deles, mas o feijão e o óleo já estão sendo racionados para que não fiquem sem comer”, disse.
Segundo o padre, nem as doações tem sido suficientes e a escassez os obrigou a servir carne aos haitianos apenas uma vez na semana.
“São quase mil pessoas que ainda estão vivendo nos abrigos e consumindo, em média, 200 quilos de arroz por dia”, detalhou.

Maioria dos refugiados é homem
Três dias antes da chegada do último grupo de haitianos a Manaus, na última terça, outros 70 haitianos já haviam desembarcado em Manaus no sábado.
Com o novo grupo, já são mais de 120 refugiados em menos de uma semana. Segundo o padre Mulinari, a maioria é de homens entre 18 e 30 anos. Uma antiga creche no Zumbi 2, Zona Leste, é um dos espaços cedidos que, hoje, abriga 49 haitianos.

1,1 mil haitianos já estão vivendo em Manaus como refugiados. A maior parte está em abrigos organizados por religiosos em bairros das zonas Centro-Oeste, Sul, Leste e Centro-Sul. A maioria homens, mas há mulheres, crianças e recém-nascidos.
200 kg de arroz são consumidos pelos haitianos abrigados em Manaus, segundo estimativa do padre Valdeci Mulinari. Atualmente, eles enfrentam racionamento de feijão e óleo.
Quanto ao consumo de carne vermelha, o padre informa que só ela só é servida aos refugiados uma vez por semana.

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