quinta-feira, 9 de junho de 2011

Imigração holandesa - Novos imigrantes


O número de imigrantes que hoje vai da Holanda para o Brasil diminuiu em relação ao passado, mas, de tempos em tempos, uma nova família continua a chegar. Erwin Erkel emigrou com sua esposa Yvette e os três filhos em dezembro de 2007, e hoje leva em Carambeí, no interior do Paraná, uma vida completamente diferente da que tinha na holandesa Geldermalsen.

“Nós viemos para o Brasil porque Erwin sempre teve vontade de emigrar”, conta Yvette.

Erwin descreve como um ‘kriebel’ – uma espécie de cócega – a inquietação que sentia há muito tempo: como será a vida num outro país?

A escolha do Brasil foi por influência dos pais de Erwin Erkel, que emigraram para o Paraná em 1993.
“Você não chega num lugar totalmente desconhecido, e isso é uma vantagem, porque já sabe mais ou menos como as coisas são, embora na prática não seja tão fácil”, comenta ele, que até a mudança só havia passado algumas semanas de férias com a família no Brasil.

Vida nova
Na Holanda, Erwin trabalhava como técnico numa loja de peças de implementos agrícolas e nunca pensou em ser fazendeiro. Yvette, que é ortopedagoga, trabalhava com crianças com problemas de aprendizagem. No Brasil, os dois têm uma chácara onde criam perus e gado leiteiro, e uma rotina que inicia antes do sol nascer.

“É o que na Holanda a gente chama ‘het roer om’: virar o leme e tomar um novo rumo. Aqui temos uma vida totalmente diferente.”

Obstáculos
Nos primeiros tempos de Brasil, as dificuldades foram muitas. Com a burocracia em torno de documentos, mas também com a adaptação. Yvette foi quem teve mais dificuldade.

“Foi muito difícil. Eu achei horrível. Tinha muita saudade da minha família, dos meus pais e minhas irmãs. Saudade da minha vida como era antes, porque aqui era tudo muito diferente. Eu tinha que levar as crianças para a escola todo dia de manhã e depois buscar à tarde, porque não tem um bom transporte público e elas não podiam ir sozinhas como iam na Holanda, então perdi muito da minha liberdade”, ela recorda. “A cultura é diferente, a comida... Demora pra gente se acostumar, e se você tem saudade, tudo fica ainda pior. Mas num determinado momento você tem que decidir se quer mesmo ficar ou se quer voltar, e só assim a saudade passa. Quando comecei a ter minhas próprias coisas aqui, meus próprios objetivos, tudo melhorou. E eu sei que se amanhã quiser ir para a Holanda, de férias ou para ver minha família, posso entrar num avião e logo estou lá. Continuo sentindo saudade, mas agora é diferente. Eu tinha uma ótima vida na Holanda e agora tenho uma ótima vida no Brasil."

Os filhos – Amy, Erwin e Suzanna – também tiveram alguma dificuldade no início, principalmente com a escola, mas logo se adaptaram.

Já para Erwin, a maior dificuldade nos primeiros tempos de Brasil foi ver o sofrimento da esposa. “Acho que o mais difícil pra mim foi o fato de Yvette não ter se sentido tão bem no começo. Já eu me senti bem desde o início, porque já estava ocupado com os afazeres da chácara. Você assume algumas responsabilidades e entra numa espiral positiva. E quando surgem dilemas, problemas, precisa encontrar soluções criativas”, explica Erwin, que se sente estimulado com os novos desafios.

Língua e cultura
Apesar de estarem em Carambeí - uma colônia holandesa -, a língua também foi uma das dificuldades iniciais, já que mesmo com uma comunidade que fala holandês por perto, não dá para viver no Brasil sem falar português.

Suzanna, a filha mais nova, tinha 9 anos quando chegou ao Brasil. Hoje, com 13 anos, ainda acha o português muito difícil: “A língua é bem diferente, tem muito mais gramática e é bem difícil. Aí complica, né? Mas eu gosto, estou bem aqui. Se me falassem que eu poderia voltar para a Holanda eu acho que não voltaria, não”, diz.

“Este foi um grande obstáculo. Você sabe o que você quer dizer em holandês, mas não sabe como dizer em português”, comenta Erwin. “Quando você tem que explicar para os empregados ou conversar com um veterinário, não sabe como dizer o que quer e às vezes, pela limitação da língua, a gente é muito direto, o que para um brasileiro pode soar como rude. E quando você tem perguntas, eu quero um ‘sim’ ou um ‘não’, e não um ‘talvez’. E com o brasileiro quase nunca é um ‘sim’ ou um ‘não’. Esta cultura é muito diferente para nós.”

Mais espaço
Dificuldades à parte, a família está feliz no Brasil e não se arrepende de ter emigrado.

“Aqui tem mais espaço, mais liberdade, mais possibilidades para trabalhar com gado e coisas assim. A Holanda está mais para a indústria e a internet, tudo está mais rápido, e aqui é mais tranquilo, mais lento, às vezes tranquilo até demais”, diz Erwin, deixando claro que o comentário não é uma reclamação. “Eu gosto do clima, da cultura – embora nem sempre –, e o brasileiro é muito alegre. Aqui tudo é possível.”

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