A turquia de mustafa Kemal Atatürk construiu-se laica à força dos militares e de um nacionalismo de contornos autoritários habituado a usar o poder das fardas (houve golpes militares em 1960, 1971, 1980 e 1997) e a ameaça dos tribunais para controlar quaisquer dissidências à interpretação oficial da história e do papel do Estado na Turquia moderna.
A chegada ao poder de Recep Tayyip Erdogan marcou uma nova era, para o próprio primeiro- -ministro que modernizou o discurso, aligeirou o islamismo do seu partido e procurou mostrar-se à Europa como o interlocutor privilegiado entre o Ocidente e o mundo islâmico. E para a Turquia, cujo crescimento económico faz hoje inveja a uma Europa em crise.
A Turquia tudo tem feito para estender a mão a Bruxelas, mas a União Europeia continua a postergar a sua entrada, alegando, essencialmente, as violações dos direitos humanos; temendo, sobretudo, o problema da imigração. Neste caso, vale o peso da Alemanha, que tem mais de 3,5 milhões de turcos a viver no seu país, muitos deles nascidos em território alemão.
É talvez o maior falhanço dos dois mandatos de Erdogan à frente do governo turco. A incapacidade de convencer a UE de que a sua adesão tem mais aspectos positivos que negativos. Daí que Ancara tenha nos últimos anos procurado assumir de um modo mais activo o seu papel de potência regional, de peça activa no xadrez euro-asiático e do Médio Oriente, demonstrando, ao mesmo tempo, que um partido de ideologia islâmica pode, no século XXI, governar um país moderno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário