quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Migração: um caminho para a paz mundial

Acolhida e solidariedade são características importantes para respeitar a identidade legítima do migrante. A Igreja no país de acolhida deve se interessar e ir ao encontro dos migrantes. Por meio dos agentes de pastoral precisa dar a conhecer ao país receptor os complexos desafios e problemas das migrações para superar suspeitas infundadas e preconceitos que ofendem os migrantes, mostrando inclusive a realidade de exploração, tráfico e contrabando de seres humanos. 
O Papa Francisco ensina que a migração “é uma das principais manifestações da globalização”. Ele chama atenção para o fato de que mesmo diante do grande fluxo de migrantes presentes em todos os continentes e em quase todos os países, a migração ainda é vista como emergência ou como fato circunstancial e esporádico, mas afirma que se tornou um elemento característico e um desafio para as sociedades. “Muitas pessoas obrigadas a migrar sofrem e muitas vezes morrem tragicamente; muitos de seus direitos são violados. Elas são obrigadas a se separar de suas famílias e infelizmente continuam sendo objeto de comportamentos racistas e xenófobos”, revela o Sumo Pontífice. Para Francisco, “é necessário passar de uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização – que, no final, corresponde precisamente à ‘cultura do descartável’ – para uma atitude que tem por base a ‘cultura do encontro’, a única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno, um mundo melhor.”
Um dos fenômenos mais importantes da atualidade é o processo da mobilidade humana. A globalização, como bem destacou o Papa Francisco, trouxe uma movimentação entre povos bem maior.
Portanto, a Igreja diante dessa realidade tem um papel fundamental de assistência e acolhida aos migrantes à luz da Palavra de Deus numa missão que ultrapassa fronteiras geográficas. Nesse desafio, “ir ao encontro do outro” é uma característica importante do perfil dos missionários. A instrução Erga Migrantes Caritas Christi chama os “agentes de uma pastoral de comunhão” de “homem-ponte”. Assim, cada agente deve ser formado no encontro pessoal com Jesus Cristo, deixando-se conduzir pelo Espírito Santo. Isso é uma vocação. “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16-17). 
Esse universo tão complexo da mobilidade humana requer tanto ação missionária da igreja como de políticas públicas para os migrantes. Essas duas forças, infelizmente, não se somam, restando para a igreja e pessoas de boa vontade resolver sozinhas todos os problemas que requer o serviço de atendimento aos migrantes e refugiados. Do ponto de vista político, é preciso ter a consciência que o fluxo migratório requere uma análise muito mais profunda, tendo em vista o desenvolvimento de políticas públicas comprometidas com a promoção e a dignidade humana do migrante, tendo presente que lutar pelos direitos de quem migra é lutar pela defesa da vida. 
No que se refere à igreja, na medida que os problemas dos migrantes aumentam, começa a surgir também a necessidade de novas doutrinas e diretrizes pastorais dadas pela própria igreja, que ao longo da história sempre reconheceu nesse fenômeno uma grande oportunidade evangelizadora. Estudos revelam que é “a circularidade da fé e vida” na eclesiologia da comunhão que encontra na mobilidade humana uma das formas de alteridade com as quais a igreja se relaciona e pelas quais se constrói em sua capacidade de ser casa que reúne todos os filhos.

A igreja que tem na sua origem a cultura da peregrinação segue seus passos na história da humanidade, quando oferece seus serviços aos nossos irmãos no acolhimento, na chegada, na escuta, nos momentos de dificuldades. Assim, é possível termos um mundo mais justo e promover a cultura da paz mundial.

GILVANDA SOARES TORRES , Membro da coordenação da Pastoral dos Migrantes da Arquidiocese de Fortaleza, CE


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