Acolhida e solidariedade são
características importantes para respeitar a identidade legítima do migrante. A
Igreja no país de acolhida deve se interessar e ir ao encontro dos migrantes.
Por meio dos agentes de pastoral precisa dar a conhecer ao país receptor os
complexos desafios e problemas das migrações para superar suspeitas infundadas
e preconceitos que ofendem os migrantes, mostrando inclusive a realidade de
exploração, tráfico e contrabando de seres humanos.
O Papa Francisco ensina que a
migração “é uma das principais manifestações da globalização”. Ele chama
atenção para o fato de que mesmo diante do grande fluxo de migrantes presentes
em todos os continentes e em quase todos os países, a migração ainda é vista
como emergência ou como fato circunstancial e esporádico, mas afirma que se
tornou um elemento característico e um desafio para as sociedades. “Muitas
pessoas obrigadas a migrar sofrem e muitas vezes morrem tragicamente; muitos de
seus direitos são violados. Elas são obrigadas a se separar de suas famílias e
infelizmente continuam sendo objeto de comportamentos racistas e xenófobos”,
revela o Sumo Pontífice. Para Francisco, “é necessário passar de uma atitude de
defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização – que, no final,
corresponde precisamente à ‘cultura do descartável’ – para uma atitude que tem
por base a ‘cultura do encontro’, a única capaz de construir um mundo mais
justo e fraterno, um mundo melhor.”
Um dos fenômenos mais importantes da
atualidade é o processo da mobilidade humana. A globalização, como bem destacou
o Papa Francisco, trouxe uma movimentação entre povos bem maior.
Portanto, a Igreja diante dessa
realidade tem um papel fundamental de assistência e acolhida aos migrantes à
luz da Palavra de Deus numa missão que ultrapassa fronteiras geográficas. Nesse
desafio, “ir ao encontro do outro” é uma característica importante do perfil
dos missionários. A instrução Erga Migrantes Caritas Christi chama os “agentes
de uma pastoral de comunhão” de “homem-ponte”. Assim, cada agente deve ser
formado no encontro pessoal com Jesus Cristo, deixando-se conduzir pelo
Espírito Santo. Isso é uma vocação. “Não fostes vós que me escolhestes; fui eu
que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que vosso fruto
permaneça” (Jo 15, 16-17).
Esse universo tão complexo da
mobilidade humana requer tanto ação missionária da igreja como de políticas
públicas para os migrantes. Essas duas forças, infelizmente, não se somam,
restando para a igreja e pessoas de boa vontade resolver sozinhas todos os
problemas que requer o serviço de atendimento aos migrantes e refugiados. Do
ponto de vista político, é preciso ter a consciência que o fluxo migratório
requere uma análise muito mais profunda, tendo em vista o desenvolvimento de
políticas públicas comprometidas com a promoção e a dignidade humana do
migrante, tendo presente que lutar pelos direitos de quem migra é lutar pela
defesa da vida.
No que se refere à igreja, na medida
que os problemas dos migrantes aumentam, começa a surgir também a necessidade
de novas doutrinas e diretrizes pastorais dadas pela própria igreja, que ao
longo da história sempre reconheceu nesse fenômeno uma grande oportunidade evangelizadora.
Estudos revelam que é “a circularidade da fé e vida” na eclesiologia da
comunhão que encontra na mobilidade humana uma das formas de alteridade com as
quais a igreja se relaciona e pelas quais se constrói em sua capacidade de ser
casa que reúne todos os filhos.
A igreja que tem na sua origem a cultura da peregrinação segue seus passos na história da humanidade, quando oferece seus serviços aos nossos irmãos no acolhimento, na chegada, na escuta, nos momentos de dificuldades. Assim, é possível termos um mundo mais justo e promover a cultura da paz mundial.
GILVANDA
SOARES TORRES , Membro da coordenação da Pastoral
dos Migrantes da Arquidiocese de Fortaleza, CE
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