Um estudo inédito lançado nesta quinta-feira (22) pelo
Núcleo de Estudos da População “Elza Berquó” (Nepo), da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp), aponta que, diferente do que ocorreu nos séculos 19 e
20, quando os fluxos migratórios se concentravam nas capitais, principalmente
em São Paulo, no cenário contemporâneo eles têm se deslocado para o interior,
acompanhando a distribuição de empresas transnacionais para essas localidades.
Outra pesquisa, divulgada simultaneamente, também mostra uma tendência para
imigração entre países do hemisfério sul.
O "Atlas Temático Observatório das Migrações -
Migrações Internacionais" e o livro "Migrações Sul-Sul" utilizam
dados da Polícia Federal (PF) e do governo federal, que traz diversas
informações sobre as pessoas que obtêm o Registro Nacional de Estrangeiro
(RNE), documento concedido a quem é admitido no país na condição de temporário,
permanente, asilado ou refugiado.
Autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros
2006
15.587
15.587
Fonte: Ministério do Trabalho e Previdência Social
De acordo com o levantamento, de 2000 a 2015, foram
registrados 391.282 imigrantes com o Registro Nacional de Estrangeiro, dos
quais 256.979 estavam no município de São Paulo, e 35% se dirigiram para o
Interior, com 470 municípios do Interior (excluindo os municípios da RMSP) com
registro de imigrantes. O país segue a tendência, segundo as análises.
Já entre 1890 e 1929, entraram 2.522.737 imigrantes
internacionais no Estado de São Paulo, dos quais 43% ficaram na cidade de São
Paulo. "Isto porque a política era para trabalho em fazendas de café no
interior paulista", analisa a cientista social Rosana Baeninger, uma das
organizadoras do estudo.
"Os últimos cinco anos que o Atlas pode nos trazer é
justamente a interiorização das migrações internacionais. Estávamos muito mais
acostumados à concentração da imigração na cidade de São Paulo e os dados
mostram justamente que há um espraiamento dessa imigração, tanto de mão de obra
qualificada quanto de menor qualificação e de diferentes nacionalidades",
explicou a pesquisadora.
Ela acrescentou que o perfil desses grupos também
tem mudado. "O imaginário migratório do Estado de São Paulo é sempre
pautado pela imigração europeia, branca, do século 19 e século 20. E, hoje, a
imigração que vamos receber cada vez mais no Estado de São Paulo é uma
imigração Sul-Sul (entre países do hemisfério sul), uma imigração não Branca,
uma imigração latino-americana, e que, portanto, é preciso que as localidades
aprendam a conviver e ter uma visibilidade dessas migrações internacionais afim
de que possam ter políticas sociais para que esses imigrantes aproximem cada
vez mais da sociedade local", acrescentou.
E essas transições territoriais têm sido pautadas
pelas fontes de emprego, de acordo com Rosana. "O que ocorre é que a
instalação de empresas em outras localidades desde o final do século, os novos
grandes investimentos e empreendimentos acabam atraindo uma mão de obra menos
qualificada e migrante internacional. Então, esses diferentes polos de
crescimento no Brasil também se refletem na possibilidade de imigrantes se
direcionarem para essas áreas, e principalmente interioranas", completou.
Registro de estrangeiros por ano no Brasil
Ano
|
Registros
|
2010
|
55.461
|
2011
|
76.463
|
2012
|
102.280
|
2013
|
114.065
|
2014
|
99.542
|
2015
|
65.535
|
Fonte: Polícia Federal
Ainda conforme a pesquisadora, o perfil do
imigrante que busca o mercado de trabalho é concentrado em pessoas entre 15 e
40 anos. Os migrantes que já vêm com qualificação ou com suas empresas, têm
perifl mais envelhecido, acima de 40 e 50 anos, acrescentou. "Isso vai
denotando perfis e necessidades de políticas distintas. No caso da Venezuela,
chama atenção que temos uma presença feminina maior [...] E pro ano de 2016 a
Venezuela em São Paulo já apresenta uma presença significante de crianças na
composição familiar", acrescentou.
'Mito'
Presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da
Pessoa Humana da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), o deputado Carlos
Bezerra Junior participou da apresentação e ressaltou que é um "mito"
a afirmação de que estrangeiros "roubam" emprego dos moradores
locais.
"Todos os países que trabalharam com integração (de imigrantes), os
estudos de impacto econômico mostram que no médio prazo há não apenas a
integração desses nessa sociedade, com aporte cultural, vários aportes, mas há
também um ganho econômico, porque há uma geração de empregos locais a partir da
integração desses", apontou.
Ele divulgou que teve aprovado na Alesp um projeto
que prevê isenção nas taxas de revalidação de diplomas para refugiados. "É
um dos principais fatores impeditivos de reintegração [...] Estamos na
expectativa da sanção do governador, que deve acontecer, no mais tardar, na
próxima semana", afirmou. Hoje a taxa pode chegar a até R$ 20 mil,
dependendo da qualificação da pessoa, segundo o parlamentar. Para ele, os
estudos lançados darão condições para que a sociedade e o poder público se antecipem
a problemas envolvendo crises imigratórias.
Solicitações de refúgio no Brasil
2013
267
267
Fonte: Comitê Nacional para os Refugiados
G1 Campinas
www.miguelimigrante.blogspot.com
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