sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

A revolução interna no ato de migrar

Migrar é fácil?  O processo de chegada dos imigrantes do ponto de vista da individualidade e subjetividade humana

O processo migratório, por si, provoca mudanças significativas na vida cotidiana do indivíduo, desde o deslocamento, assim como nas referências culturais básicas, como trabalho, família, amigos e instituições. Podemos chamar esse fenômeno como um “processo”, indicando uma mudança progressiva no sistema: sai-se de algum lugar para chegar a outro.
O imigrante terá a tarefa de realizar a integração das questões económicas, políticas e sociais do novo país com as regras do seu país de origem e deverá se organizar subjetivamente, baseando-se nas expectativas e nos projetos que estabeleceu antes da imigração. Quais eram seus sonhos, desejos, ambições? O que queria realizar nessa nova terra?
A imigração por si só não causa sofrimento ou mal-estar psíquico. Esse ocorrerá dependendo do estado de saúde emocional antes do início do processo imigratório, ou seja, dependendo das condições que impulsionaram o imigrante a realizar a imigração, deve-se ter uma atenção especial à saúde. São muitas transições e rupturas que serão encontradas ao longo do processo.
O deslocamento de um país a outro causa uma descontinuidade e rupturas. Por exemplo, relacionamentos familiares se tornam mais distantes, a saída de um trabalho, de uma casa. Esse desmanchar de laços emocionais podem, então, provocar um sofrimento, podendo causar uma doença.
A psicóloga Miriam Debiuex Rosa afirma que no processo de imigração, o indivíduo passa por algumas mudanças significativas, como “a legalização de sua permanência no país, trabalho, aprender uma nova língua, moradia”. Ela ainda menciona que elaborar esse processo, além das perdas inerentes ao imigrar, é árduo e está vinculado à reinterpretação do passado e uma resposta à nova situação que se apresenta.
Pode-se aceitar viver essa revolução interna que acontece na imigração, porém é doloroso assumir o processo de luto que ocorre ao estar em novas terras, ter deixado para trás algo que já não será mais acessível. Vive-se um luto que exige do indivíduo um trabalho emocional de separação, perda e incorporação de uma nova vida, implicando nesse processo mudança, reorganização e criação.
O processo migratório apresenta duas etapas fundamentais que devem ser analisadas no contexto da dualidade ruptura- estabilidade. Esse processo está relacionado com os de “perdas/ganhos; isolamento/integração social; segurança/insegurança; segmentação/integridade; ruptura/continuidade; baixa autoestima/autoestima.
A primeira etapa do processo acontece nos primeiros meses da chegada quando a descoberta se mistura com novos pontos de referência, sinais culturais diferentes e lembranças do que deixou e do que desejou viver. Isso pode gerar no indivíduo um tipo de choque cultural, já que terá que aprender a viver a vida de um modo diferente, além de solucionar questões básicas como moradia, documentações, trabalho etc.
Na segunda etapa, os indivíduos vão construindo novas amizades, conhecendo e se apropriando dos signos culturais, da língua, das regras de conduta e sendo pouco a pouco incorporados a esse novo cotidiano, ou seja, adaptando-se a esse novo país.
Dessa forma, caso o imigrante não consiga lidar com essas situações sozinho, é importantíssimo que ele procure ajuda de profissionais de saúde habilitados em instituições, sejam elas governamentais ou não. Ser ajudado nesse processo facilitará a inserção em uma nova cultura, assim como lhe garantirá uma adequada saúde emocional e a apropriação de seus direitos enquanto cidadão.

Carolina Mirabeli é psicóloga e mestre em Psicologia Social pela PUC-SP (CRP 06/69647). Pós-graduada em Consultoria Interna de Recursos Humanos. Especialista em Psicologia Transpessoal. Consultora de Vida e de Carreira. Facilitadora em Constelação Familiar. Pesquisadora da temática imigratória do ponto de vista da subjetividade humana.
FSMM2018
www.miguelimigrante.blogspot.com

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