sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Alerta vermelho para a saúde mental na população migrante

Os aspectos psicológicos da vida de um migrante são únicos e pedem ações consistentes na prevenção de problemas mais graves.
A migração não tem a ver só com se movimentar de um lugar para outro ou neste caso de um país para outro. Quem já passou pela experiência de ter que sair de seu país para residir em outro, sabe que existem vários elementos que afetam não apenas a pessoa que migra, mas também a quem fica no país de origem, e a nova sociedade receptora.
Lamentavelmente, a migração tem sido discutida mais dos pontos de vista político, econômico e sociológico, enquanto, principalmente no Brasil, o tema da saúde mental tem sido pouco considerado. Até mesmo algumas instituições que trabalham a favor dos imigrantes não têm cogitado a participação dos profissionais psicólogos ou psiquiatras dentro das suas equipes.
A questão é que a saúde mental é um ponto fundamental quando falamos da migração. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1946), há uma inter-relação muito complexa entre situações físicas, elementos psicológicos e sociais. Se estes elementos forem negativos como: doenças, solidão, preocupações, falta de oportunidade laborais, discriminação, isolamento social ou violência, o resultado na saúde mental também será negativo, afetando o bem-estar e a funcionalidade da pessoa.
A migração supõe um elevado grado de estresse por motivos que fazem parte da experiência migratória, já que como imigrantes deixamos nossa família, amigos em nosso pais de origem, ficamos sem uma rede de apoio social.
Estamos em outro país com regras diferentes, com um idioma diferente, com uma cultura diferente, com hábitos alimentares diferentes, com um sistema de organização social diferente, com patrões de conduta diferentes, e muitas vezes com um status social diminuído pela impossibilidade de trabalhar na nossa área de formação devido as dificuldades burocráticas e administrativas do novo país.
Além disso, sabemos que a comunidade imigrante no brasil não tem direito a voto, o que o torna pouco ou nada interessante para os partidos políticos e autoridades locais e nacionais.
Na medida em que não se precisa pensar nesta população para alcançar poder político na governança da cidade ou do pais, esta termina sendo uma parte da sociedade negligenciada em todos es espaços públicos, como no aceso a saúde, educação, trabalho e moradia entre outros.
Mesmo tendo avançado na construção de uma nova lei migratória, não existem políticas públicas eficientes para imigrantes que garantam o exercício dos direitos fundamentais aos quais  todo ser humano tem direito.
Sendo assim, o imigrante termina exposto a violência, não apenas da população civil do novo país, que muitas vezes reage com preconceito e discriminação, mas também de algumas autoridades públicas como a polícia, de quem deveriam de receber proteção.
Também é frequente que nos postos de trabalho na maioria das vezes só tenha vagas para os nacionais, ou que nas escolas as crianças sejam vítimas de Bullying  e outras formas de violência, da mesma forma. Muitos têm dificuldades para poder alugar uma casa em boas condições simplesmente pela condição de imigrantes.
Todas estas situações de estrema vulnerabilidade no final podem trazer consequências muito negativas à saúde mental do migrante.
As manifestações mais frequentes são: dificuldades para dormir, dores de cabeça, fata de energia ou cansaço, problemas digestivos entre outros. Podem também ter sentimento de culpa, tornam se mais irritáveis, dificuldades para se concentrar.
Tudo isso, requer urgentemente um apoio integral do sistema de saúde, das instituições que trabalham em favor dos imigrantes e do resto das instituições públicas do pais.
É preciso pensar numa abordagem holística da pessoa em todas suas dimensões: biopsicossociais, culturais, laborais e claro político-econômicas.
Agir desde o contexto da pessoa – onde ela mora, do que ela pensa e sente, possibilitando a troca de boas práticas, e a realização de projetos interdisciplinares dentro de política públicas – até no estímulo e apoio a pesquisas na área da  saúde mental, para a identificação das possíveis causas de representações mentais que podem alterar a saúde mental da população migrante.

Lineth Hiordana Ugarte Bustamante – psicóloga e imigrante boliviana.
FSMM
www.miguelimigrante.blogspot.com

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