Casal Anel e Locimene veio para o Estado após terremoto no Haiti
Foto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense
O terremoto que atingiu o Haiti, na América Central, em 2010, mudou
o rumo do casal Anel Brifil, 34 anos, e Locimene Joseph, 41, que tinha casa
própria na capital Porto Príncipe, emprego e possibilidade de estudo. Da
tragédia restou apenas a esperança e a vontade de recomeçar. A primeira
tentativa foi na vizinha República Dominicana, onde viveram por quatro anos.
Sem perspectiva de estabilidade no Caribe, o casal mirou o Brasil.
Os Brifil chegaram a Florianópolis em 2015. Eles compõem os 49,8 mil
estrangeiros residentes em Santa Catarina com registro ativo, segundo
o Sistema Nacional de Cadastramento e Registro de Estrangeiros (Sincre). O
dado foi atualizado em 24 deste mês, segundo a Polícia Federal. Do total, 44,7
mil são estrangeiros permanentes, 4,4 mil são temporários, 476 fronteiriços,
139 refugiados e 46 em condições adversas.
Quando o casal chegou a solo catarinense, o único órgão que
oferecia atendimento e ajudava a regularizar a documentação dos
estrangeiros era a Pastoral do Migrante da Arquidiocese de Florianópolis. A
igreja prestou esse serviço voluntariamente nos últimos 20 anos, não só na
Capital, mas em outras cidades com apoio de voluntários. Mas, a partir desta
quinta-feira (01), o serviço ganha reforço do Centro de Referência e
Atendimento para Imigrantes (Crai), que será inaugurado às 10h na rua Rua
Tenente Silveira, no Centro da Capital. O apoio estará disponível a todos
os imigrantes que residem ou chegam a Santa Catarina.
A Secretaria de Estado da Assistência Social entrará com o recurso
financeiro, que, por enquanto, está garantido apenas para este ano (R$ 300
mil), embora o contrato estime um total de R$ 764 mil para dois anos. O
espaço físico foi cedido pela Secretaria de Segurança Pública.
Os serviços continuam sendo prestados pelo braço social da igreja, por
meio da Ação Social Arquidiocesana (ASA) — entidade que venceu licitação do
Estado, cujo processo não teve concorrente. O convênio foi assinado em setembro
de 2016.
Como já tem experiência na atividade, com o recurso, a ASA poderá
qualificar o serviço. Seis profissionais especializados no tema foram
selecionados no ano passado, mas eles só começam a atuar depois que o dinheiro
for depositado. Se a primeira parcela for paga nesta semana, a ideia pretende
começar o serviço até segunda-feira.
Serviço custará R$ 300 mil ao ano
O secretário de Estado da Assistência Social, Valmir Comin, diz que está
providenciando a liberação do recurso por vias manuais, uma vez que o sistema
do governo ainda não foi aberto. Nesta quarta (31) foram liberados pouco mais
de R$ 80 mil, quantia que dá para manter três meses do serviço.
— Está garantido no contrato, vamos creditar 12,5% agora e vamos
disponibilizar os R$ 300 mil para o ano — afirmou o secretário.
Depois que o Crai engrenar, a Pastoral do Migrante não atuará mais com
documentação e terá tempo para se dedicar àquilo que é a sua expertise: o
acolhimento.
— As pessoas normalmente migram por causa da miséria, por perseguições
(política, religiosa ou racial) e por problemas climáticos. Lamentavelmente,
enfrentam a discriminação. O objetivo da pastoral é inserir o imigrante na nova
realidade do país anfitrião — destacou o padre Sérgio Geremia, atual
coordenador da pastoral.
Crai é esperança para haitiano que quer estudar
Anel Brifil é formado em mecânica, mas não consegue comprovar escolaridade por falta de comunicação entre paísesFoto: Felipe Carneiro / Diário Catarinense
Cinco dias e cinco noites resumiram a viagem de ônibus percorrida pelo
haitiano Anel Brifil, do Rio Branco, no Acre, até Florianópolis. Empresas
ofereciam oportunidades de emprego na época, o que atraiu imigrantes para Santa
Catarina.
A esposa, Locimene, que viajou primeiro, já o esperava na Capital.
Ela foi recrutada por uma empresa de Blumenau quando estava em São Paulo — sua
primeira parada no Brasil. Porém, como o salário oferecido no Vale do Itajaí
era irrisório (R$ 700), Locimene foi orientada por colegas a ir para a
Capital, onde conseguiu um trabalho de cozinheira por R$ 1,2 mil.
— O aluguel era R$ 250, dividindo com outras pessoas, e o resto para a
comida. Mas o salário não dava para nada — comentou Lucimene.
Hoje, os dois estão desempregados e sobrevivem de ajuda da comunidade
haitiana. Após quase três anos no Brasil, o casal pensa na possibilidade de
retornar ao Haiti. Brifil critica que é explorado nas vagas de emprego que lhe
oferecem, uma vez que o salário costuma ser inferior ao pago a um brasileiro
nas mesmas condições.
— A única coisa que me dói de coração (por não conseguir) é a vontade de
estudar para conquistar o documento (diploma). Com essa situação, a gente sofre
muito e pensa em retornar ao meu país — desabafou.
Comprovar escolaridade é um dos desafios enfrentados pelos estrangeiros,
principalmente os que vêm de países em conflito ou devastados por fenômenos
climáticos. Com o funcionamento do Crai, o secretário executivo da ASA afirma
que a documentação correspondente à educação é um dos serviços que estará
disponível.
Impasse em convênio com Ministério da Justiça atrasou inauguração
Em janeiro de 2016, a Secretaria de
Estado da Assistência Social assinou um convênio com o Ministério da Justiça e
de Segurança Pública que previa a criação do Crai em 24 meses. No contrato, o
governo federal se comprometeu a investir R$ 1 milhão com contrapartida de R$
21,1 mil do Estado.
O espaço pensado previamente para o centro era uma sala no Terminal
Rodoviário Rita Maria, que, segundo o secretário Valmir Comin, era amplo e
atenderia às necessidades do Crai. No entanto, a sala foi recusada pela ASA,
que já havia vencido a licitação para prestar o serviço. Segundo o secretário executivo da entidade,
o espaço era pequeno e deixaria os imigrantes aguardando na área de embarque.
— A sala era minúscula e, precária por precária, já tínhamos a pastoral
— disse Fernando Batista.
Sem acordo com o espaço físico, a secretaria precisou pedir mais tempo
ao governo federal para buscar nova sala. Aí começaram os obstáculos para dar
continuidade ao convênio.
Segundo Comin, o Ministério da Justiça informou que não faria mais o
repasse por “contingenciamento no orçamento”. Alterações na equipe da pasta
também emperraram o andamento do processo.
Em dezembro do ano passado, o Ministério emitiu nota técnica solicitando
rescisão do convênio, mas, segundo o secretário, com a promessa de reavaliar o
pedido assim que houver disponibilidade financeira.
Como não há prazo para retomar o acordo com o governo federal, a
secretaria está inaugurando o centro com verba do Estado. Mas, se o dinheiro
for liberado, a secretaria deixa de usar recurso próprio.
Entenda quais serviços serão prestados no Crai:
- Atendimento psicológico, principalmente por causa dos imigrantes que vem de países em conflito ou que sofreram catástrofes naturais.
- Assistência social com encaminhamento a benefícios aos quais os imigrantes tem direito.
- Atendimento burocrático com encaminhamento de visto que pode ser provisório, permanente ou humanitário.
- Integração do imigrante no território brasileiro no que diz respeito à educação, cultura e inserção no mercado de trabalho.
- Atendimento psicológico, principalmente por causa dos imigrantes que vem de países em conflito ou que sofreram catástrofes naturais.
- Assistência social com encaminhamento a benefícios aos quais os imigrantes tem direito.
- Atendimento burocrático com encaminhamento de visto que pode ser provisório, permanente ou humanitário.
- Integração do imigrante no território brasileiro no que diz respeito à educação, cultura e inserção no mercado de trabalho.
Serviço
Endereço: Rua Tenente Silveira, no Centro da Capital
Funcionamento: De segunda a sexta-feira
Horário: Das 9h às 12h e das 14h às 17h30min
Endereço: Rua Tenente Silveira, no Centro da Capital
Funcionamento: De segunda a sexta-feira
Horário: Das 9h às 12h e das 14h às 17h30min
DCI
www.miguelimigrante.blogspot.com
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