O trabalho para o imigrante é um tema extremamente importante e está relacionado à construção da sua subjetividade. O funcionamento do mercado de trabalho, assim como a busca por trabalho, implicam em enormes entraves para quem migra, podendo trazer desde sofrimento até esperança na conquista por maior independência econômica e autonomia no ir e vir. Ao analisar os diversos depoimentos de imigrantes que conheci durante a minha história (pessoal, acadêmica e profissional), pude observar a importância desse tema para a constituição da identidade, para a inserção no novo mundo social e para a conquista da “liberdade”.
É através do trabalho que nos afirmamos no novo
território, podemos adquirir bens, alugar uma casa e enviar dinheiro para a
nossa família (situações reais muito comuns entre os imigrantes). Dessa
maneira, o trabalho representa não apenas a possibilidade de subsistência, mas
um alicerce no qual estruturamos a nossa própria vida, integramos a nossa
representação na sociedade como um ser atuante e digno. É nele em que
asseguramos a nossa inserção no real e garante condições de desenvolvimento, de
busca pelo crescimento profissional e equilíbrio psicológico.
Note que muitos imigrantes que chegam possuem formação
acadêmica e experiência profissional, porém, na maioria dos casos, essa
formação e experiência são ignoradas nessa procura incessante por trabalho, uma
vez que os empregos oferecidos são, na sua maioria, operacionais ou com baixa
qualificação.
“Ao mesmo tempo em que o trabalho é fundamental para a
existência no novo território e para a nova identidade que se forma, corre-se o
risco de submeter-se a condições de trabalho degradantes”, afirma Diane
Português, doutoranda de Psicologia Social da PUC-SP. Os empresários que sabem
da precária condição de vida a que são submetidos os imigrantes – que, muitas
vezes, nem conhecem seus direitos − acolhem-nos e os exploram prometendo
dinheiro (em alguns casos, em proporções que nunca teriam acesso em seus países
de origem), alimentação e estadia. E é assim que a relação de servidão se
forma. Com o crescente aumento de imigrantes latino-americanos no Brasil
(haitianos, bolivianos, peruanos, colombianos entre outros) bem como africanos,
as questões citadas são alvo de
discussões pertinentes e atuais. Há um crescimento importante de notícias que
envolvem trabalhos em condições precárias aos quais estes imigrantes têm sido
submetidos.
Sobre os trabalhos caracterizados como escravidão, o
Ministério do Trabalho e Emprego comenta na publicação Trabalho Escravo em
Retrospectiva: Referências para Estudos e Pesquisas: “Em geral, essas denúncias
dizem respeito à servidão por dívida, trabalho forçado, maus tratos, precárias
condições de segurança e saúde, assédio moral e sexual, espancamentos, jornadas
de mais de 16 horas de trabalho e outras”.
É necessário um olhar não só para a legislação e para o
acolhimento do imigrante, mas também na inserção no mercado de trabalho. Faz-se
urgente a orientação dos imigrantes no que tange à legislação brasileira e à
garantia de condições para que a escolha do trabalho seja consciente e capaz de
assegurar uma vida digna. Cabe lembrar também a importância da punição dos
responsáveis pela exploração do trabalhador como uma forma de combate ao
trabalho escravo. Por isso, denuncie caso saiba de qualquer irregularidade.
Vamos em luta pelo direito ao trabalho digno!
*Carolina Mirabeli
Psicóloga e Mestre em Psicologia Social pela PUC-SP (CRP
06/69647). Pesquisadora na temática de imigração e histórias de vida.
FSMM
www.miguelimigrante.blogspot.com
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