segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ONU alerta para eventuais casos de mutilação genital feminina no país



A ONU alertou para eventuais casos de mutilação genital feminina em Moçambique, face ao fluxo de imigrantes de países onde esta tradição é recorrente, mas refere que em algumas regiões moçambicanas já existe uma tipologia desta prática.
A mutilação genital feminina tem sido ocasionalmente adotada por novos grupos e em novas zonas geográficas após processos de deslocamentos e migração, segundo a recente declaração conjunta para a eliminação da mutilação genital.
Nos últimos anos, Moçambique tem acolhido milhares de refugiados, maioritariamente provenientes da região dos Grandes Lagos, que integra a lista de países onde se pratica a mutilação genital feminina, elaborada por 10 agências da ONU.
Em declarações à Lusa, a médica de Ginecologia e Obstetrícia Alicia Carbonnel, responsável pelo Programa de Saúde da Família na Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique, disse que a mutilação é classificada em vários graus, pelo que se deve "tirar o conceito de que a mutilação é sinónimo de remoção, ou castração" do clítoris ou pequenos lábios.
"Em Moçambique temos um tipo de prática tradicional que se enquadra dentro do tipo número 4 da classificação de mutilação da OMS. Todas as alterações que são feitas para diminuir o orifício da vagina, secar as secreções vaginais, por exemplo, o alongamento dos grandes lábios, pequenas incisões para o tratamento de infertilidade, são realizadas em Moçambique", disse.
"Em Moçambique, a população não pratica este tipo de mutilação genital feminina mais grave - cortar, remover o clítoris, os lábios vaginais -, mas temos que pensar que nós temos cada vez mais imigrantes de países onde são realizadas estas práticas. Acredito que eles, apesar de viverem em Moçambique, continuam a realizar as suas práticas tradicionais", disse Alicia Carbonnel.
No mês em que se comemora o Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina (06 de fevereiro), Alicia Carbonnel considera necessária a realização de pesquisas sobre a matéria.
"Nós não temos mutilação genital feminina realizada pela população moçambicana, mas que em Moçambique não se pratica é algo que merece, realmente, um estudo, tendo em conta que temos imigrantes dos países com maior incidência de mutilação", afirma a médica.
Uma mulher originária do Burundi e que vive em Moçambique há 13 anos, garante à Lusa que mutilou pessoalmente a sua filha mais velha nascida na capital moçambicana, Maputo, no ano em que se refugiou no país, em 1999.
"É uma prática que dói, mas é nossa tradição", diz esta mulher que pediu o anonimato, que, de seguida, esclarece: "Na nossa tradição estica-se (alonga-se) o clítoris até atingir 17 centímetros. Fiz isso sozinha porque ela (a filha que, na altura tinha oito anos) não tem nenhuma tia cá", que é, normalmente, quem fica responsável por estas práticas.
A mutilação genital feminina -- prática corrente em cerca de 30 países, sobretudo africanos, mas também importada por comunidades imigrantes na Europa -- já afetou mais de 130 milhões de mulheres, sendo que outros três milhões estão em risco todos os anos, segundo a Organização Mundial de Saúde.

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