quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Gastos de turistas contrastam com salários de brasileiros na Espanha



Descobrir que o turista brasileiro gasta em média 183 euros por dia (R$411,00) na Espanha pode causar espanto a muitos brasileiros que estão no país para trabalhar. Isso porque parte significativa dos imigrantes tem empregos cuja remuneração semanal equivale aproximadamente a essa mesma quantia.
Uma pesquisa realizada em 2008 pelos professores Duval Fernandes e Carolina Nunan, do programa de pós-graduação em geografia da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais) aponta que os imigrantes brasileiros na Espanha trabalham, principalmente, nos setores comerciais e de serviços, com destaque para o serviço doméstico -- ocupação de 54,9% das mulheres entrevistadas.
De acordo com Fernandes, a remuneração informada por elas girava em torno de 800 euros mensais (cerca de R$ 2.256,00, considerando-se a cotação do euro a R$2,82 em setembro de 2008, mês em que foi concluída a pesquisa). Já a dos homens girava em torno de 1.200 euros (R$ 3.384,00, de acordo com a mesma cotação). O envio de remessas ao Brasil era de mais ou menos 300 euros por mês (R$846,00), segundo os entrevistados.
À época, 49,1% dos homens ouvidos pelos professores estavam empregados na construção civil, setor que esteve a todo vapor até a recente crise econômica que atinge a Europa. Por isso, o pesquisador acredita que essa porcentagem tenha mudado e que os homens brasileiros estejam agora em outros setores – ou mesmo que tenham retornado ao Brasil, já que os índices positivos da economia brasileira servem como fator de atração.
Pesquisar a ocupação dos brasileiros na Espanha é uma tarefa complicada, já que muitos estão empregados irregularmente e têm medo de se expor. Para realizar o estudo sobre o perfil do imigrante em 2008, os professores da PUC Minas procuraram entrevistados em locais específicos, como a fila de espera para o atendimento no Consulado do Brasil em Madri, lojas freqüentadas por brasileiros, igrejas com culto voltado para brasileiros, entre outros.
O Consulado Geral do Brasil em Madri informa que não há dados atuais sobre a ocupação dos brasileiros na Espanha e seus níveis de renda. O número com o qual trabalha é de 106.908 brasileiros residentes no país ibérico no momento, fornecido pelo Instituto Nacional de Estatística da Espanha. Este dado vem do “empadronamiento”, que é o registro de domicílio dos estrangeiros no país. Tal registro é o primeiro passo para o acesso a serviços básicos, como a saúde pública – e, para realizá-lo, não é necessário estar em situação regular na Espanha. Por isso, o número engloba tanto estrangeiros com documentos quanto os irregulares.
Perspectiva de retorno
De 2008 para cá, a situação econômica da Espanha alterou o mercado de trabalho e as remunerações de diversos postos. Analisando a situação dos brasileiros no país, o professor Duval Fernandes acredita que os que retornaram ao Brasil fugindo do desemprego são os que estavam com ocupações mais precárias. Os que continuaram, por sua vez, são os que têm melhores condições de permanecer na Espanha, como contratos de trabalho e empregos mais estáveis. Desse modo, é possível que tenha diminuído a quantidade de brasileiros em situação irregular no país ibérico.
De acordo com o professor, a crise na Espanha e os indicadores positivos da economia brasileira (como a redução do índice de desemprego e o aumento do salário mínimo) interferem no fenômeno migratório sob duas perspectivas: o efeito-chamada para quem está fora e a permanência de quem está dentro do país. “Só quem estiver em uma situação de vulnerabilidade muito grande e contar com uma rede de apoio muito forte no exterior pensa em deixar o Brasil neste momento”, conclui.

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