domingo, 12 de fevereiro de 2012

Brasileiros deprimidos por terem de regressar devido à crise em Portugal



Brasileiros em situação financeira precária devido ao desemprego em Portugal e que recorrem ao Programa de Retorno Voluntário da Organização Internacional para as Migrações (OIM) estão a sofrer de depressão, alerta uma psicóloga de uma associação lusófona.
«É principalmente a depressão que aparece e, em alguns casos, surge alguma desagregação mental, que provavelmente nunca aconteceria se estivessem junto dos familiares, no local onde cresceram, perto das suas referências», declarou à agência Lusa Alcione Scarpin, psicóloga que atende os brasileiros indicados pela Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania (ALCC).
Segundo dados da OIM, em 2011, 2114 pessoas candidataram-se ao Programa de Retorno Voluntário (PRV). Os brasileiros (que são 119.363 em Portugal, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras - SEF) lideram a lista representando 84,2 por cento das candidaturas ao PRV, percentagens superiores às registadas nesta comunidade em 2010.
A advogada Vanessa Bueno, que presta apoio jurídico a imigrantes lusófonos na ALCC, revelou que grande parte dos brasileiros que recorrem ao PRV são, sobretudo, adultos solteiros, ilegais e que estão com imensas dificuldades em arranjar emprego, diante do atual quadro de crise económica em Portugal.
«A maioria dos casos (para o PRV) que atendemos na associação é considerado prioritário. São pessoas que estão em casas de apoio, abrigos e há ainda situações de mães com filhos pequenos sem condições para manter uma casa. São situações extremas, ocorrendo alguns casos também de doenças graves» referiu Vanessa Bueno.
A advogada acrescentou que na ALCC os imigrantes lusófonos preenchem uma ficha de inscrição para o PRV e depois é feita uma triagem, indicando a OIM quais são os casos prioritários.
Alcione Scarpin indicou que há dois grupos que são mais vulneráveis aos problemas psicológicos decorrentes da precária situação financeira: «Os jovens adultos que estão sozinhos em Portugal e famílias com crianças pequenas».
A psicóloga indicou que os brasileiros têm o objectivo de emigrar para dar melhores condições de vida às famílias no Brasil, entretanto, quando esse ideal cai por terra, «cria-se um sentimento de vazio, frustração, de insucesso, o que proporciona a ocorrência de casos de depressão».
Por outro lado, a advogada Vanessa Bueno afirmou que os brasileiros querem voltar para o seu país somente porque não têm como se manter economicamente em Portugal.
«O facto de ouvir que o Brasil está muito bom e aqui está muito mal (financeiramente) faz com que os brasileiros pensem também nessa questão do retorno», sublinhou ainda a advogada.
A presidente da ALCC, Nilzete Pacheco, disse acreditar que o número de brasileiros a deixar Portugal aumentou devido ao desemprego, seja através do PRV, por recursos próprios ou ajuda de familiares.
Gerido pela OIM, em colaboração com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), e financiado pelo Fundo Europeu de Regresso (em 75 por cento) e pelo Estado português (em 25 por cento), o PRV financia a viagem de regresso do imigrante (o preço médio ronda os 900 euros) e atribui-lhe ainda 50 euros de dinheiro de bolso para despesas.
O programa impõe um período de interdição de três anos, que obriga os imigrantes que dele beneficiaram a, se voltarem a Portugal, ressarcirem o Estado no valor que lhes foi pago.

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