sábado, 25 de fevereiro de 2012

HOLANDA:Brincando com os números da imigração



Quantos imigrantes estão chegando à Holanda hoje em dia? Esta é uma questão politicamente delicada. De fato, um parlamentar de oposição recentemente acusou o governo de estar "brincando" com as cifras para que o número de imigrantes pareça maior do que realmente é.

À primeira vista, pode parecer confuso. O governo do primeiro-ministro Mark Rutte, apoiado no parlamento pelo Partido da Liberdade (PVV), de Geert Wilders, fez da redução da imigração uma prioridade. Então por que eles iriam querer inflar os números de imigrantes? Interesse político, diz o parlamentar do partido verde Groen-Links, Tofik Dibi.

“Se o problema da imigração desaparecer, a necessidade do Partido da Liberdade continuar a apoiar o governo em grande parte também desaparece. O governo tem interesse em fazer o problema parecer maior”, diz Dibi.

Estatísticas cruzadas

O parlamentar Tofik Dibi fez suas acusações sobre a manipulação dos números da imigração pelo governo holandês depois que uma pesquisa da agência de notícias ANP e do site Sargasso.nl comprovou que o Serviço Holandês de Imigração e Naturalização (IND) também conta bebês nascidos na Holanda como imigrantes em reunificação familiar. Desta maneira, a cifra da imigração para reunificação familiar, como contada pelo IND, fica aproximadamente 20% acima dos números computados pelo CBS, o Escritório Central de Estatísticas da Holanda.

O ministro Geert Leers diz que não tem planos de modificar a forma de registro do IND porque mesmo bebês nascidos na Holanda precisam receber um visto de permanência.

O ministro da imigração, Geert Leers nega a acusação e diz que mantém a contagem exatamente como faziam seus predecessores.

Quem está certo?
A comoção gira em torno do número de pessoas pedindo vistos para reunificação de famílias. Imigrantes que receberam um visto de residência têm o direito de que seus familiares diretos se unam a eles. Nos últimos dez anos, a Holanda vem impondo mais e mais restrições à reunificação familiar, ostensivamente para evitar abusos. O atual governo tornou a reunificação familiar a linha de corte de uma nova política de imigração, mais rígida, e anunciou na semana passada ainda mais restrições.

Discutindo estas novas medidas com o parlamento, o ministro Leers disse que 25 mil pessoas receberam vistos em 2010 com base na reunificação familiar. Mas quatro mil destes vistos eram para bebês nascidos na Holanda, de imigrantes que já viviam no país.

E, como até o ministro Leers concorda, um bebê nascido na Holanda não pode ser qualificado como imigrante pedindo visto de reunificação familiar do exterior.

Promessa é promessa
Mas Geert Leers tem uma tarefa dura diante de si. A coalizão de governo prometeu reduzir a imigração. De fato, a imigração de países considerados não-ocidentais deverá ser reduzida pela metade. Esta foi uma das promessas feitas a Geert Wilders em troca do apoio de seu partido à coalizão minoritária.

Mas um corte tão drástico não é tão simples. Existem regras europeias para a imigração, e o gabinete holandês não pode controlar eventos internacionais que causam o seu aumento.

O governo está fazendo o possível com suas novas restrições para a reunificação familiar, e o ministro Leers faz lobby em Bruxelas para que as regras europeias de imigração se tornem mais rígidas. Mas este é o principal tópico de Geert Wilders, e, seja como for, o gabinete de Mark Rutte tem que diminuir estes números para justificar o apoio do PVV.

E é por isso, afirma Tofik Dibi, que os números agora estão sendo mantidos artificialmente altos. Quanto maior o número inicial, maior será a diferença no final, então será mais fácil atingir a meta de reduzir a imigração pela metade durante o mandato deste governo.

Matemática nebulosa
Esta não é a primeira vez que surgem acusações com respeito a estatísticas de imigração. No passado, o PVV foi acusado de exagerar o número de imigrantes, particularmente dos países considerados não-ocidentais. O parlamentar Sietse Fritsma usou estatísticas de maneira que pode ser considerada enganosa durante debates parlamentares. Por exemplo, ele se referiu corretamente a 154 mil imigrantes em 2010, mas esqueceu de dizer que 28 mil deles nasceram na Holanda e estavam retornando depois de viver no exterior. No total, 40 mil de todos os imigrantes computados em 2010 já tinham nacionalidade holandesa.

No que se refere a imigrantes não-ocidentais, foram 53 mil em 2010. Este é o principal grupo que Fritsma e seu Partido da Liberdade querem ver diminuir. Mas também aí Fritsma deixa algo de fora. No mesmo ano, 34 mil pessoas de países considerados não-ocidentais emigraram, deixando um aumento ‘líquido’ de 19 mil não-ocidentais na Holanda. Nem de longe o tsunami de imigrantes ao qual Geert Wilders certa vez se referiu.

Números oficiais
É claro que políticos de todas as tendências são suscetíveis a manipular estatísticas, mas este caso envolve cifras oficiais do governo, o que faz com que o ministro Leers levante suspeitas quando reporta ao parlamento que houve pedidos de reunificação familiar para quatro mil bebês nascidos na Holanda.
Em sua defesa, o ministro concorda que estas crianças não são “imigrantes comuns”, mas não chega a dizer que está manipulando os números. Em vez disso, ele prefere dizer que a burocracia do governo é configurada para contar estes bebês como imigrantes, e que tem sido assim nos últimos 20 anos.

Na verdade, o excesso de imigração de países considerados não-ocidentais tornou-se uma espécie de boato, já que há muito mais imigrantes chegando à Holanda vindos de outros países europeus. Um desenvolvimento que não passou despercebido ao PVV, que lançou um controverso website onde as pessoas podem reclamar anonimamente sobre imigrantes do leste europeu. Uma controvérsia na qual o governo não quer se envolver.

Um comentário:

  1. Holanda, com sua imagem de tolerante, mostra sua cara verdadeira de xenófobo. Graças a deus há ainda holandeses que questionam e resistem, mas hoje são uma minoria. Valeu Miguel por repassar estas informações! Só tinha lido no jornal holandês

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