sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Fronteira com a Venezuela segue com longas filas de migrantes em busca de regularização no Brasil

Venezuelanos aguardam atendimento em ruas de Pacaraima — Foto: Caíque Rodrigues/G1 RR

Em Pacaraima, município ao Norte de Roraima e que faz fronteira com a Venezuela, migrantes seguem enfrentando longas filas para conseguir a regularização no Brasil. Alguns aguardam há semanas no local. O fluxo intenso é registrado desde que o governo federal liberou a passagem de estrangeiros em situação de vulnerabilidade.

De acordo com militares da Operação Acolhida, força-tarefa do Exército que atende migrantes e refugiados venezuelanos no país, 300 pessoas são atendidas diariamente no posto de regularização.

Aqueles que não conseguem se regulamentar, no entanto, disputam vaga para passar a noite em um dos dois abrigos instalados no município e que comportam até 600 pessoas — entre famílias, idosos e mulheres desacompanhados. Já os que não conseguem uma vaga, dormem ao relento.

Venezuelanos aguardam em filas — Foto: Caíque Rodrigues/G1 RR

Em junho, o Brasil flexibilizou a entrada de migrantes venezuelanos em Pacaraima, liberando a passagem daqueles que estão em vulnerabilidade social. Os grupos de prioridade são: crianças ou adolescentes desacompanhados; famílias com crianças ou adolescentes; pessoas com problemas de saúde; idosos; e pessoas que sofrem grave ameaça à integridade física.

Apesar da flexibilização, a fronteira continua oficialmente fechada desde 18 de março de 2020, como medida do governo federal para conter o avanço do coronavírus. Antes da liberação, os venezuelanos entravam no país apenas por rotas clandestinas para fugir da crise econômica e social de seu país de origem.

Os caminhos alternativos, no entanto, continuam sendo o principal meio dos migrantes chegarem ao país. Isso porque a maioria deles não têm dinheiro para pagar transporte para entrar pela fronteira regular.



Depois de chegarem ao país, os migrantes se organizam em longas filas no município, enquanto aguardam a vez para o atendimento da Acolhida.

Jessica Acosta, de 36 anos, veio de Anaco, no estado venezuelano de Anzoátegui, e está há uma semana aguardando a regularização. Ela conta que sua rotina desde que chegou se baseia em ir ao abrigo para dormir e, assim que acorda, voltar para a fila.

 

"Estou aqui há uma semana, cheguei pelas trochas [nome dado às rotas clandestinas usadas pelos migrantes na travessia entre os dois países]. Já tirei a foto, mas falta os documentos para eu entrar no país. Uma semana é tempo demais", desabafa a migrante.

Jessica Acosta também relata que deixou a família no seu país natal com a esperança de conseguir uma vida melhor no Brasil.

"Espero que eu consiga ser ajudada aqui no Brasil. Só quero ajudar minha família que ainda está na Venezuela. Meus filhos, minha mãe, meu pai, que estão doentes. Tenho três filhos", disse.


Filas de venezuelanos para regularização — Foto: Caíque Rodrigues/G1 RR

Regularização no Brasil

Segundo o coordenador da Operação Acolhida, general Antônio Manoel de Barros, o motivo para a formação das grandes filas é a adoção de um sistema de controle que dá prioridade às pessoas que entram pela fronteira oficial, que são atendidas de imediato, em detrimento das que entram pelas rotas clandestinas.

"Essas pessoas estão na rua por diversos motivos. Alguns querem ficar na rua, alguns estão aguardando a documentação e alguns estão na fila de espera dentro do atendimento da Acolhida. Por experiência, sabemos que irá chegar em um ponto de estabilidade", disse o general.

A Operação Acolhida informou ainda que, desde a flexibilização, prestou 31.682 atendimentos referentes à obtenção de documentos nos Postos de Interiorização e Triagem (PI Trig), sendo 19.141 em Pacaraima; 9.438 em Boa Vista; e 3.103 em Manaus.

 

A ação, segundo a Acolhida, integra o primeiro eixo da Operação, que é o ordenamento da fronteira, e inclui a testagem de Covid, a vacinação, a emissão de permissos (documento que autoriza a entrada do imigrante no país e tem validade de 60 dias); de CPF; de protocolos de refúgio ou de residência temporária; entre outros serviços.

A capacidade total dos abrigos e alojamentos em Roraima é de 12.094 pessoas, conforme a Operação Acolhida. Atualmente, há 7.895 pessoas abrigadas e cerca de 4.199 alojadas. Em termos percentuais, a capacidade utilizada nos abrigos é pouco superior a 88% e de alojamentos é de cerca de 75%.

Enormes filas nas ruas de Pacaraima — Foto: Caíque Rodrigues/G1 RR

Contexto

Desde o final de 2015, Roraima passou a ser o destino de venezuelanos em fuga da crise política, econômica e social do regime de Nicolás Maduro. Em 2018, a situação se agravou: migrantes chegavam no Brasil e, sem perspectivas, moravam nas ruas e encaravam a pé a rota da fome para chegar a Boa Vista.

Em meio ao descontrole, a Operação Acolhida foi criada para organizar o fluxo migratório, mas, três anos depois, as cenas agora vistas em Pacaraima - de muitos migrantes nas ruas - relembram o estopim da crise humanitária em Roraima, o estado com a menor população e o menor PIB do país.


G1 Boa Vista

www.miguelimigrante.blogspot.com

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