quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

As migrações e as identidades

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Há uma história rica do que orientou o caminho que levou à situação presente, que nunca eliminou a prática das migrações, tendo a dos invasores vindos do Norte contribuído para se formar a unidade dos europeus, mas que os muçulmanos atuais não parecem ter esquecido os séculos em que dominaram grandes espaços do que viria a ser a Europa. Relembram, hoje, depois de expulsos há séculos, os ataques e submissões que viriam a sofrer pelo colonialismo ocidental, não podendo estar-se seguro de que não existam correntes que atuam porque não esquecem, e demonstram não pôr de lado a vontade de retaliação. Por isso, talvez, surge, no seio da própria União Europeia, o já chamado "desafio identitário", que membros da União publicamente assumem ao nível dos governos, fazendo perigar a unidade da União em favor das identidades históricas que criaram, mantendo a ambição de salvaguardarem a relação de nação-Estado, e por isso ressuscitando incompatibilidades culturais, étnicas, ou religiosas, todas legitimadas pelo passado, não longínquo, que o presente migratório em seu parecer agride, impedindo conceder nem acolhimento nem solidariedade.

Uma das questões que funcionaram como fator destas atitudes defensivas é seguramente a relação sentida entre emigrações e terrorismo, este tendo assumido valores religiosos no seu conceito estratégico, o que agrava a situação. Mas, admitindo abstrair deste conflito terrorista, uma das grandes dificuldades que estão visíveis encontra-se no facto da defensiva não encontrar obstáculos numa inexistente memória de apoio comum proveitoso. Pelo que o fenómeno migratório, mesmo pacífico, mas contagiado pela imagem da agressão criminosa, intencional, e sem objetivo eticamente justificável, não se afigura facilmente livre dos receios. Pelo contrário, o que cresce é a lembrança da perdida ou profundamente afetada "vida habitual" das sociedades atacadas, fazendo do receio um fator das próprias escolhas políticas, como se passa na Polónia, onde como que se estruturou, para hoje, um discurso na linha da cólera causada pelos crimes punidos depois da última Guerra Mundial, por os atuais atos terroristas serem com razão considerados contra a humanidade; também na Hungria encontraram em Viktor Orbán um líder ganhador contra o cumprimento dos deveres humanitários adotados pelos europeus, esquecidos da fuga em massa para o Ocidente quando da revolução de 1956, enfim, fazendo renascer, contra o pregado multiculturalismo, a igual incompatibilidade que levou ao sacrifício dos milhares de judeus nos campos de concentração, e a frequente incompatibilidade entre o islão e os povos de formação cristã, ainda quando os praticantes estão em processo de diminuição.
Tem de se assumir que um dos efeitos não previstos da ofensiva terrorista, articulada nos factos com o descontrolo das migrações seja afetar a solidariedade dos Estados europeus, que esquecem, para apoiar a determinação pregada pelos governos no sentido de salvaguardar o ideal que os orientou, que não haveria continente americano de padrões europeus, com destaque histórico dos EUA, sem os cus os humanos da liquidação de povos como aconteceu aos iroqueses, ou do repovoamento pelos milhões de europeus emigrados em busca de melhor futuro. Resistindo assim à pregação daqueles que hoje agrupamos na Escola Ibérica da Paz, cuja doutrina ainda não foi completamente acatada pelos procedimentos em curso: sobretudo o confronto entre o islão e a laicidade para a qual os europeus foram conduzidos, mas sem esquecer as declarações de direitos, que em todo o caso ainda não permitiram a aprovação da declaração de deveres, há anos elaborada e em espera. A paz, dificílima e em risco grave não dispensa, para ser recuperável nos termos abrangentes dos teóricos ibéricos da "paz da humanidade", a igualdade sem diferenças de crenças, etnias, e culturas, e sem que se respeitem os pressupostos das declarações de direitos. Pelo contrário, parece ganhar força a resposta proposta na Holanda, por um partido, já em 2004, no sentido de dizer aos emigrantes: "Se não está preparado para se conformar com os nossos valores e obedecer às nossas leis, procure um país onde se sinta em casa." Se não conseguimos encontrar uma solução para o convívio cooperante das diferenças, objetivo que presidiu à fundação da UNESCO, agravaremos seguramente a insegurança, e retrocederemos em busca da eficácia repressiva de modelos que supúnhamos definitivamente esquecidos. Retirar-se da UNESCO, como anunciam os EUA, não é aceitável.

Adriano MoreiraDN
www.miguelimigrante.blogspot.com

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