O Alto Comissário para as Migrações (ACM) de
Portugal afirmou hoje que apenas 3% da população mundial sai do local onde
nasce, percentagem que, apesar de parecer pequena, representa um grande desafio
para os governos de todo o mundo.
Em declarações à agência Lusa, no final de um
debate sobre "Refugiados: Um Drama nos Nossos Dias", organizado pelo
Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), em parceria com a
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), em que foi orador, Pedro
Calado destacou que há ainda muito a fazer pelos 345 milhões de refugiados no
mundo.
"Procuramos assumir a mobilidade humana como
resposta natural à falta de oportunidades, àquilo que são cada vez mais
desafios climatéricos, ecológicos, um mundo desigual e à falta de respostas
estruturadas, pelo que os migrantes serão sempre pessoas à procura dessas
oportunidades num outro local", considerou Pedro Calado.
"E a pergunta é essa, se as pessoas ficam ou
partem. O que os dados e a realidade nos vai mostrando é que apenas 3% das
pessoas sai do local onde nasce e que 97% das pessoas não é migrante. É
importante termos a noção de grandeza destes fenómenos, sob pena de falarmos de
conceitos que depois não têm ligação à realidade", acrescentou, destacando
quatro dos principais constrangimentos.
"Continuamos a ter uma produção riqueza
desigual no mundo, a ter taxas de fertilidade e de natalidade também muito
diferentes no mundo, guerras e conflitos, e há aqui uma conjugação acrescida
também de fatores que são naturais, que vão fazer com que esta mobilidade não
só tenha vindo para ficar como também para aumentar nos próximos anos",
sustentou.
Para Pedro Calado, a "melhor solução"
passa por "antecipar e prever" como se poderá desenhar uma sociedade
para o futuro, para as próximas gerações.
"Não será erguendo muros, bloqueando estas
pessoas daquilo que é um direito humano. Como conciliamos esse direito humano
com o direito nacional aos Estados receberem apenas quem querem? Essa é a
grande pergunta de fundo", defendeu, salientando que se terá de partir
desses factos e não de mitos e medos.
Por seu lado, e também à Lusa, o ex-ministro das
Relações Exteriores de Cabo Verde, Jorge Tolentino, igualmente orador no
debate, considerou que a questão dos refugiados é um "problema
gravíssimo" e "um drama humano", criticando o facto de nem todos
os países terem a "necessária determinação política" para o resolver.
"Há coisas muito simples que podem ser feitas
e que não requerem dinheiro. Há maus exemplos, como na Europa, pois a própria
União Europeia (UEE) define quotas no que diz respeito ao acolhimento de
estrangeiros em movimento e há membros da comunidade que não cumprem essas
quotas", enfatizou.
"Temos exemplos de violações que são cometidas
noutras zonas do planeta, como na Ásia, e que as condenações das Nações Unidas
e de outras instâncias não têm o impacto e a implicação que seria espectável.
Parece-me ser o ponto fraco no tratamento da questão, que é a (falta de)
determinação da comunidade política internacional para que haja resultados
nesta matéria", disse o também poeta, escritor cabo-verdiano.
Para Jorge Tolentino, tem de se ter em conta a
forma como as coisas estão a evoluir no terreno, onde há conflitos armados e em
que a própria fome é utilizada em determinados países como um instrumento de guerra.
"São dados que não nos permitem esperar uma
evolução positiva nos próximos tempos. Temos de poder continuar a exercer essa
pressão constante para que passe a haver um tratamento com mais resultados
nesta problemática dos refugiados", concluiu.
Já para o antigo representante do Brasil na CPLP, o
diplomata Lauro Moreira, a dimensão de refugiados no mundo é
"trágica", facto que a Europa não está a entender.
"Apesar de ser um problema de fundo e da maior
gravidade, não é tão grande assim. Se imaginar a quantidade de refugiados, em
termos absolutos, a partir de 2015, comparado com a população da Europa (500
milhões), não é nada", sustentou, defendendo "mais compreensão e de
boa vontade" dos governos.
"(O problema) não foi criado por eles
(refugiados), mas por guerras, por uma geopolítica egoísta, por uma falta de
solidariedade, por uma insensibilidade com o sofrimento alheio. É um problema
gravíssimo e a solução não é fácil e é de longo prazo", concluiu.
DN
www.miguelimigrante.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário