Uma ativista e
especialista em questões migratórias admitiu hoje que nos próximos anos poderão
existir mais 200 milhões de refugiados devido às contínuas alterações
climáticas e sem instrumentos internacionais para os proteger.
"Para além dos atuais 300 milhões de
refugiados no mundo, nos próximos anos haverá outros 200 milhões, que serão
refugiados climáticos. E não existem instrumentos internacionais para os
proteger. A Convenção de Genebra não inclui os refugiados climáticos, mas eles
também vão morrer, porque o clima muda", considerou em declarações à Lusa
Lora Pappa, fundadora e presidente da Ação para Migração e Desenvolvimento
(Metadrasi, uma organização não governamental grega fundada em 2010).
A ativista grega, laureada em 2015 com o
Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, confrontou-se com a realidade dos
incontroláveis fluxos migratórios em 2015 e 2016 entre as costas da Turquia e a
Grécia, que baixaram radicalmente na sequência do "acordo UE-Turquia"
de março de 2016, e que lhe merece muitas críticas.
"É mais uma declaração, não é um
acordo... e foi feito numa situação de pânico, o que não é positivo. Perdemos a
ocasião, enquanto UE, de apoiar a Turquia, de melhorar o sistema de
proteção", considerou.
Caso a Turquia desse alguns passos nesse
sentido, poderíamos estabelecer um acordo. Mas estávamos em pânico, fizemos
esse suposto acordo, é verdade que o fluxo migratório diminuiu, mas em
simultâneo aumentaram as redes de traficantes na Grécia e na Europa",
acrescentou a responsável da Metadrasi, que participou hoje no painel
"Gerir as Migrações", no primeiro dia do 23.º Fórum Lisboa do Centro
Norte-Sul do Conselho da Europa.
A iniciativa, sob o tema "Interligando
as pessoas: gerir as migrações, evitar o populismo, construir sociedades
inclusivas e reforçar o diálogo norte-sul", decorre até sexta-feira no
Centro Ismaili da Rede de Desenvolvimento Aga Khan.
O falhanço no combate às redes de
traficantes, após o fluxo migratório ter sido desviado para o Mediterrâneo
central a partir de meados de 2016, e a linguagem difusa dos responsáveis
políticos também são aspetos decisivos para a ativista grega.
"Seria importante que os políticos
falassem honestamente às pessoas. Não é possível travar este fluxo. Continuamos
a propagar o conto de fadas de que é possível parar o fluxo migratório. E
existe aqui uma escolha difícil: que a prioridade consista em travar, por
qualquer meio, um caminho muito perigoso para a democracia, ou enfrentar esta
realidade".
Ainda numa referência ao acordo com a
Turquia, que entre diversas medidas prevê o repatriamento de indocumentados ou
de migrantes a quem foi recusado o pedido de asilo, Lora Pappa alertou para a
formação de "zonas-tampão" em Estados com "inúmeros
problemas", incluindo em "pequenos países" como a Jordânia, o
Líbano, mesmo a Grécia".
"Com estas políticas, criam-se
"zonas-tampão, e não é seguro que esses políticos escolham entre o seu
futuro político ou em proteger os refugiados", admitiu.
"Pensam nos resultados das próximas
eleições, e intensificarem-se as expulsões de refugiados, mesmo para os seus
países de origem onde a sua vida está em perigo, ou afastá-los cada vez para
mais longe, e ignorar os movimentos dos traficantes. É um caminho muito
perigoso para a Europa", concluiu.
DN
www.miguelimigrante.blogspot.com
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