segunda-feira, 12 de junho de 2017

O desafio da integração de imigrantes com síndrome de Down na Suíça

Com praticamente um quarto da população composta por estrangeiros, a Suíça tem entre as suas preocupações centrais promover a integração dos cidadãos. O desafio adquire importância ainda maior ao se tratar da assimilação de crianças imigrantes com necessidades especiais. Essa parcela vulnerável da sociedade vem obtendo vitórias, mas ainda luta contra estigmas e modelos que dificultam o acesso delas ao sistema educacional.  

Amanda Almeida reside em Genebra há dois anos.
Amanda Almeida reside em Genebra há dois anos.
(swissinfo.ch)
Essa é a história de Amanda, Adrian, Emer, Letícia e tantos outros, que desejam ser aceitos com normalidade. As famílias desses jovens buscam a inclusão dos seus filhos num contexto de estudo padrão, mas tiveram de enfrentar dificuldades para assegurar o acesso deles à escola. Cada cantão lida com o assunto na sua própria forma e reformas que permitem uma abordagem uniforme vêm enfrentando resistência de alguns setores mais conservadores.
Resistência é justamente o que vivenciou Amanda, carioca com síndrome de Down que reside em Genebra há dois anos. A menina teve o pedido de inscrição em um colégio público regular rejeitado. A mãe, Patrícia Almeida, que é diplomata e ativista da causa se sentiu profundamente decepcionada com a decisão do estado.
"Ela tem condições de acompanhar, pois é alfabetizada e capaz, mas eles não quiseram nem considerar", diz Patrícia. A jovem recebeu um convite para frequentar as instituições especiais comandadas pelo Estado, mas a família - após infrutíferas tentativas de reverter a avaliação- preferiu educá-la com uma tutora particular.
Atualmente com 27 anos, Adrian Albrecht também precisou custear alternativas do próprio bolso para conseguir experimentar uma vida normal. O jovem enfrentou resistências diretas e veladas à sua inscrição no sistema educacional padrão nos anos 90.
"Naquela época não se falava em integração ainda", relembra a mãe Priscilla, suíça nascida na Argentina. "A única proposta que existia era a institucionalização das crianças. Era colocá-las em órgãos fechados simplesmente. Eu disse que não queria isso para ele", recorda. 
Desde o começo, a família desejava ver o jovem em uma rotina comum, mas isso só foi possível no sistema privado. "Até os 11 anos o governo não nos deu nada. A creche e o colégio fomos nós que pagamos. O estado não nos deu nenhum centavo à partir do momento em que insistimos na integração", lamenta.

Mudanças e resistências

Após ter ratificado em 2013 a Convenção pelo Direito das Pessoas com DeficiênciaLink externo, a Suíça tem reforçado seu comprometimento em cumprir o objetivo do documento internacional, que estipula a integração de pessoas com Down na sociedade.
Isso requer mudanças práticas na administração em nível cantonal, algo que tem suscitado dúvidas entre os profissionais de saúde que lidam com crianças especiais. Em abril, no cantão de Genebra, mais de 500 funcionários do OMPLink externo (Office Médico-Pédagogique), o Escritório Médico-Pedagógico, assinaram uma carta aberta à política Anne Emery-Torracinta, questionando a forma como se dará a inserção das crianças especiais no sistema aberto.
No texto os servidores afirmavam se opor "…a qualquer anexação do nosso escritório às escolas ordinárias, porque nos recusamos a assumir o risco de reduzir a especificidade e qualidade das nossas intervenções diante de crianças e jovens com dificuldades".
Os trabalhadores temem que as mudanças provoquem uma fissão entre os setores médico e pedagógico da organização e argumentam que uma abordagem completa necessita abraçar apoio clínico também.

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