O processo de sanções aberto na semana passada pela Comissão Europeia a três Estados-membros é um exemplo das divisões que a crise migratória criou na Europa, continente para onde vieram 1,4 milhões de refugiados desde 2014.
A crise migratória que a União Europeia atravessa não tem um ponto de partida oficial, mas os dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM) mostram que é em 2014 que os números ganham um relevo incontornável, ano em que o número de refugiados de África e do Médio Oriente ultrapassou os 200 mil, mais de quatro vezes o valor do ano anterior.
Nesse ano, chegaram à costa italiana 170.100 pessoas, a que se juntam mais 43.518 que deram à costa na Grécia, mas é em 2015 que o salto é verdadeiramente significativo. Nesse ano, segundo a contabilização recordada pela AFP, a OIM identifica mais de um milhão de pessoas que chegaram à Europa, num total de 1.011.712 pessoas, incluindo 853.600 que chegaram à costa grega e mais 153.800 nas margens italianas.
A estagnação do conflito sangrento na Síria, a que se junta a deterioração das condições de vida nos campos de refugiados na Turquia, Líbano e Jordânia, onde a ajuda internacional se estava a esgotar, são algumas das razões que podem explicar o enorme aumento do fluxo de migrantes para a Europa.
Em 2016, as travessias do Mediterrâneo conhecem um declínio acentuado: a OIM aponta para um total de 363.401 chegadas às costas da Itália e da Grécia, os dois principais países a que os refugiados tentam chegar, o que representa quase três vezes menos do que o total do ano anterior.
A tendência manteve-se durante este ano, em que a OIM contabilizou 7.699 chegadas por mar à Grécia, mas em Itália a calma é coisa que não existe, com as notícias de salvamentos no mar a sucederem-se, incluindo das equipas da Marinha portuguesa no Mediterrâneo.
No ano passado, as chegadas a Itália bateram um novo recorde, com 181.436 refugiados a tentarem entrar, vindos principalmente da Nigéria (20,7%), da Eritreia (11,4%) e da Guiné-Conacri (7,4%), segundo os números da OIM, sendo que a maioria destes é olhada como migrantes econômicos à procura de uma vida melhor e não como refugiados que fogem da guerra ou da perseguição política ou religiosa.
Em 2017, a escolha dos migrantes pela Itália em detrimento da Grécia mantém-se, muito provavelmente à custa das dificuldades acrescidas que os refugiados enfrentaram quando a chamada 'Rota dos Balcãs' foi fechada ou fortemente limitada pelos governos locais.
Desde janeiro, a Itália já registou mais de 65 mil chegadas, o que representa um aumento de 20% face ao mesmo período do ano passado. Os números dos refugiados que chegam à Europa escondem, no entanto, uma realidade mais dura, que é a dos que não conseguem chegar ao "Velho Continente" e morrem pelo caminho.
Cerca de 14 mil pessoas morreram ou desapareceram nos mares que rodeiam a Europa, a sul, desde 2014, ano em que 3.283 pessoas não conseguiram completar a viagem. Em 2015, foram 3.784 os mortos, e no ano seguinte o valor subiu para 5.098, sendo que nos primeiros seis meses deste ano já morreram mais de 1.800 pessoas a tentar chegar a território europeu.
Entre os que chegam à Europa e pedem asilo, cerca de um terço tem menos de 18 anos, segundo a Comissão Europeia, que dá conta também de que no ano passado, houve 63.300 refugiados menores não acompanhados, dos quais 38% eram do Afeganistão e 19% da Síria.
A agência europeia de coordenação policial Europol tinha indicado em janeiro de 2016, que mais de 10.000 crianças migrantes não acompanhadas tinham desaparecido na Europa durante os últimos 18 a 24 meses, temendo que muitos deles são explorados, incluindo sexualmente, por redes de crime organizado.
No total, os países da União Europeia receberam em 2015 cerca de 1,26 milhões de pedidos de asilo, mais do dobro face aos 562.700 registados no ano anterior, segundo o Eurostat, que alerta que estes dados podem incluir pessoas que tenham requerido asilo em mais de um país pelas mesmas razões. Em 2016 o número de asilos pedidos foi de 1,2 milhões, mostrando que a crise migratória na União Europeia, apesar de ter deixado de figurar constantemente nas primeiras páginas dos jornais, mantém-se um tema em desenvolvimento.
Açoriano Oriental
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