Períodos de crise política e econômica favorecem a ida de descendentes de japoneses à terra de seus antepassados para temporadas de trabalho. Agências em Campo Grande especializadas em encaminhar esse público ao oriente afirmam que nos últimos meses, por exemplo, a procura pelo serviço tem aumentado em torno de 50%.
Mário Akira Ariyoshi, gerente da agência Itiban, explica que normalmente os brasileiros são ocupados nas linhas de produção de fábricas de eletrônicos, automóveis e plásticos. “O objetivo deles é fazer um pé-de-meia para investir no Brasil quando retornam, construindo casas, montando empresas ou negócios que lhes confiram uma independência financeira”, afirma.
O Japão, segundo ele, libera vistos até a terceira geração de descendentes dos imigrantes. Quando essas pessoas decidem tentar a vida do outro lado do mundo, eles saem da cidade já com a documentação regularizada, com moradia e emprego.
“Normalmente ficam em média três anos. Tem gente que fica mais tempo e temos brasileiros que não pretendem mais voltar ao Brasil, inclusive compraram casa e apartamento, fixaram raízes”, afirma Ariyoshi.
Maíra Taíra, dona da agência Taíra, afirma que não existe um perfil certo de quem vai ao Japão para temporadas de trabalho. “Tem alguns que só estudavam aqui no Brasil, outros trabalhavam como balconistas, mas também alguns com ensino superior”, pontua.
“Alguns não voltam porque ficam revoltados com o país ao conhecerem o Japão, pois trabalhando lá, a pessoa consegue se manter e ter controle financeiro melhor do que aqui”, relata.
Experiência – A secretária Adriana Sueny Sakae, 41 anos, saiu do Brasil rumo ao Japão em 1992, período em que o país era administrado por Fernando Collor. Na época, o pai havia sofrido um derrame, a mãe não podia trabalhar para dedicar-se a ele e a irmã era muito nova. Aos 17 anos, foi emancipada e aventurou-se na terra dos antepassados em busca de melhores condições financeiras.
“Trabalhei com montagem de impressoras, fabricação de peças de compressores a ar, ajudante de enfermeiro em hospital e em restaurante. Eu fui para ajudar a minha família”, lembra.
Embora o trabalho para os imigrantes brasileiros seja um tanto árduo, Adriana não se arrepende. “Não me arrependo de nada. Foi uma experiência que, se eu pudesse, faria novamente. Eu amo aquele país que me acolheu. Só voltei porque chega um tempo em que você fica desgastado”.
O químico Américo Okano morou no Japão por cinco anos, entre 1991 a 1995, também durante a crise Collor, o que o fez migrar em busca do “pé de meia”.
“Naquela época havia um índice muito grande de desemprego. Eu fui trabalhar em uma firma de plásticos no Japão que produzia toda a espécie de coisas, desde peças de computador até peças para coração artificial de uso médico”, lembra.
Ele vivia em uma cidade chamada Koga, mas trabalhava em outro município. A empresa funcionava 24 horas e havia um revezamento entre os funcionários. Uma semana o expediente era diurno e na outra, noturno.
“Andava mais ou menos uns dois mil quilômetros a pé até a primeira estação. Pegava um trem e desembarcava em outra estação onde o micro-ônibus da empresa estava aguardando”, lembra o químico.
Foram dias difíceis, segundo ele, mas que acabaram valendo à pena. “Se eu trabalhar a vida inteira aqui, trabalhar mesmo, das 8h às 18h, todos os dias, não vou ganhar o que eu ganharia lá e nem vou trabalhar o quanto eu trabalhei lá”, conta Okano. “Todos os dias eu me perguntava o que estava fazendo lá e por que eu não voltava ao Brasil, com exceção das vezes em que recebia o holerite”.
Campo Grande News
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