Deportação atingiu recordes no governo de Obama; imigrantes são mandados
de volta a seus países depois de anos nos EUA
Um dos aspectos mais tristes da
vida de um imigrante ilegal nos Estados Unidos é o fato de seu filhos, nascidos
no país e cidadãos americanos, ficarem para trás com desconhecidos, caso eles
sejam deportados.
As deportações de imigrantes
ilegais atingiram recordes durante o governo do presidente Barack Obama. Em
alguns casos, os imigrantes são mandados de volta a seus países depois de anos
vivendo nos Estados Unidos, com vidas estabelecidas e filhos nascidos no país.
Em meio a esta situação, surge
Nora Sandigo, uma americana de origem nicaraguense e que mora na Flórida. Sob a
custódia de Nora estão 817 filhos de imigrantes que nasceram em solo americano
e, por isso, são cidadãos americanos.
Mas, os pais de todas essas
crianças e adolescentes foram deportados ou correm risco de passarem por isso.
Nora Sandigo tem os olhos
brilhantes e fala pausadamente. Há 25 anos ela trabalha com a comunidade de
imigrantes no país.
Quando ela chegou aos Estaos
Unidos em 1988, onde recebeu asilo político, Nora se especializou na comunidade
de seus compatriotas, vindos da Nicarágua.
Agora, em seu escritório em
Kendall, sul da Flórida, ela dirige a Fraternidade Americana. A organização se
transformou no apoio para essas centenas de crianças e adolescentes cujas
famílias foram atingidas por uma legislação que, desde 1996, não faz diferença
entre os imigrantes que têm filhos nos EUA e os que estão sozinhos.
O trabalho de Nora abrange
aspectos legais, médicos, psicológicos, logísticos, políticos e de
contabilidade.
Custódia
legal
Em 2008 Nora começou a assumir a
custódia legal de crianças e adolescentes que eram obrigados a ficar com
famílias adotivas ou então ficar fora do sistema depois que seus pais eram
deportados por estar em situação irregular nos Estados Unidos.
O que começou como um favor para
amigos peruanos acabou crescendo e, agora, Nora, ou "Norita", tem a
custódia legal de 817 crianças e adolescentes - número que ela diz acreditar
que vai aumentar enquanto o governo americano não acabar com as deportações.
Os imigrantes ilegais que estão
em solo americano podem ser descobertos pelas autoridades por um motivo banal,
como uma infração de trânsito. Por isso, alguns deles preenchem um documento
com firma reconhecida em cartório no qual cedem a custódia de seus filhos a
Nora Sandigo, caso algo aconteça a eles.
Claudia Fonseca é uma das
mulheres que cedeu a Nora a custódia de seus quatro filhos, de forma preventiva.
Claudia vive em Miami mas não sabe por quanto tempo poderá continuar assim.
Ela é da Nicarágua e a única
responsável por Kelvin, de 16 anos, Shirley, 8, Ashley, 6 e Yardley, 5. O
marido dela, Santos Banegas, foi deportado há cerca de três anos.
Claudia trabalha sem registro
como ajudante de cozinha e divide um pequeno apartamento. O que ela ganha mal
dá para pagar as contas.
Nora visita Claudia toda semana,
quase sempre acompanhada de sua ajudante, Doris. Elas levam uma caixa com
alimentos, brinquedos e, no caso desta semana, um computador para o filho mais
velho.
Claudia vive com medo constante
de que as autoridades de imigração a encontrem e a deportem para a Nicarágua.
"Para lá eu não volto. Aqui, os pobres comem frango e carne", disse.
Dinheiro
Nora olha o apartamento de
Claudia para saber o que mais precisa comprar e também repassa a lista de
visitas que ainda precisa fazer naquele dia, calculando quantos ovos e litros
de leite precisa comprar.
Nos casos em que tanto o pai como
a mãe são deportados, os filhos ficam na casa de Nora, mesmo que seja
temporariamente. Outra possibilidade é colocá-los em casas de familiares ou
conhecidos de Nora.
Mas, a responsabilidade legal
cabe a Nora e, por isso, ela precisa ser muito cuidadosa para garantir que nenhuma
criança ou adolescente passe por nenhum tipo de carência ou abandono - algo que
a deixaria exposta ao risco de um processo. Todos estes esforços têm um custo e
muitos se perguntam de onde vem o dinheiro.
"Não pedimos nada, não
cobramos nada por este serviço", disse Nora.
A Fraternidade Americana conta
com uma subvenção anual de US$ 29 mil (quase R$ 66 mil), dada pelo escritório
de Desenvolvimento do Condado de Miami. Além disso, Nora destaca que não recebe
mais nenhum dólar do governo.
Ela recebe doações,
principalmente roupas e alimentos, mas a maior parte dos gastos é paga por ela
e o marido, que estão usando suas economias.
De
Kendall para Washington
Para Nora, a questão econômica
parece importar muito menos do a política. O que Nora exige é que estas
deportações sejam suspensas e seja feita uma reforma migratória nos Estados
Unidos. Mas, ela mesma admite que agora não vê a possibilidade de isto
acontecer.
Ela também se revolta com o uso
de tornozeleiras eletrônicas que as autoridades americanas colocam nos
imigrantes que serão deportados.
"Este governo está violando
os direitos civis, humanos e constitucionais que qualquer criança do mundo
tem", disse.
"Está ficando muito ruim, nos faz parecer um
povo insensível. Os menores cujos pais são deportados são afetados
emocinalmente, precisam de um médico, um psicólogo, alguem que os abrace,
precisam de seus pais", disse.
Ultimo segundo
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