quarta-feira, 28 de março de 2018

Um grito de alerta por Calais


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Há vitrinas, janelas, caixas de alumínio e de madeira, todas elas com palavras-de-ordem gravadas a ácido e gritando a urgência do tema das migrações e dos refugiados: “La frontière tuée”/ “Jeu de vieLieu de vieNous ne sommes pas des animaux”/ “Stop the blood”/ “We just want to go in England”…

Há inscrições em francês e em inglês. Há roupas e objectos acumulados nestas montras que denunciam o desespero de quantos, nos acampamentos (agora) escondidos de Calais, no norte de França a caminho de Inglaterra via Eurotunel, desesperam por um “passaporte” para uma vida diferente na Europa do Norte de todos as ilusões.

Com Sans toi ni loi – o mesmo título de um filme de Agnès Varda (Sei Eira nem Beira, 1985), em que Sandrine Bonnaire incarna uma adolescente lançada para a berma da estrada da vida –, Jérémy Pajeanc encena o drama dos imigrantes e dos refugiados que, fugindo da África de todos as guerras (mas também de países como o Vietname, o Tibete ou as Filipinas), aspiram a chegar a Inglaterra.

“São frases, grafitti, que eu fui recolhendo nas tendas, nas estradas, nas estações de serviço, a caminho de Calais”, explica o artista luso-descendente nascido em Paris (1988), e que se encontra radicado em Portugal desde 2007, onde se licenciou na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. Decidiu gravar estas inscrições a ácido hidrofluorídrico sobre vidro para que elas não tenham o destino dos grafitti em Calais, que as autoridades francesas limpam diariamente para esconderem uma realidade com a qual não se querem confrontar.

“Eu também sou imigrante, sempre fui, como a minha família; mas, como nasci em Paris, tenho a sorte de poder viajar para todo o lado; já os imigrantes não o podem fazer”, nota Pajeanc, descendente de portugueses, primeiro, emigrados para Angola, e depois da guerra civil neste país, para França.

O artista vem trabalhando o tema genérico das migrações e o drama de Calais desde há meia dúzia de anos, quando em 2012 fez uma primeira instalação, Grades antimotim, na Dinamarca, no âmbito do European Glass Contest. “Decidi agora ser mais incisivo e mais específico sobre o caso de Calais”, realça, lamentando que o seu país não consiga "dar resposta a esta questão humanitária”. “No futuro, a Europa vai ter de responder pelos actos inumanos que agora está a praticar junto dos imigrantes que a procuram”, reclama.
Operários-artistas

Jérémy Pajeanc é o primeiro convidado de No Entulho, o programa de residências artísticas que a Otiima abriu no início deste ano, destinado a proporcionar aos jovens artistas “a pesquisa e a produção artística em ambiente rural-industrial”.

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www.miguelimigrante.blogspot.com

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