Os estrangeiros refugiados em Salvador veem no empreendedorismo uma alternativa de sobrevivência e de cultivar os costumes de seus respectivos países.
Natural da República do Togo, na África, Zakari Aboudouraoufou, de 33 anos, aproveitou a ligação da cultura baiana com os costumes do seu continente de origem para exercer o mesmo trabalho que fazia quando morava lá: confeccionar e vender roupas no estilo africano.
Refugiado há dois anos na capital, ele já possui uma oficina de costura, localizada na avenida Mário Leal Ferreira, a Bonocô. No entanto, quando chegou aqui, Zakari vendia as roupas pelas ruas do centro da cidade.
“Foi assim que conheci muitas pessoas, que hoje se transformaram em clientes fixos e passaram a frequentar a oficina”, explica o costureiro togolês sobre a ascensão de seu negócio.
A satisfação de Zakari com as vendas tem relação, segundo ele, com o momento econômica e político do Brasil. “No Togo, não tinha como trabalhar direito, porque a política era instável e tinha muita violência”, conta.
Ele diz estar adaptado à cultura soteropolitana, “porque as pessoas daqui se identificam com os costumes africano”. “O jeito de se vestir e as danças são bem parecidas”, acrescenta o estrangeiro.
Além do espaço de vendas, Zakari divulga suas roupas em uma página na rede social Instagram. Os interessados devem procurar o perfil: Raufzak-moda africana.
Trabalho na rua
A costura e o comércio de roupas no estilo africano também é a especialidade do refugiado da República do Benin Soule Labode, 43.
Ele, diferente do togolês Zakari, vende os tecidos por diversos pontos da cidade. “Fico pela Estação da Lapa, Pelourinho e na Feira de São Joaquim”, explica o estrangeiro, que está há dois anos morando na em Salvador.
Quanto ao ofício da costura, Soule conta que desenvolveu com amigos da escola, à época em que era adolescente. “Aprendi a costurar porque trocava conhecimento com os amigos do meu país, da Nigéria e do Senegal”, afirma.
Soule não comentou o motivo de ter saído de seu país de origem. Ele também não detalhou como era a sua vida no Benin, mas admitiu que está feliz morando na capital.
Questionado sobre como fazer para relembrar das suas raízes africanas, ele disse que, além de costurar e vender as roupas, faz questão de conversar na língua iorubá com amigos que fez aqui.
Soule Labode não possui perfil nas redes sociais para divulgar os seus produtos.
No setor de alimentos
Além da venda de roupas e tecidos, Salvador abriga estrangeiros refugiados que comercializam comidas típicas de seus países. Pelo menos essa é a especialidade do geólogo sírio Ali Zidane, 28, que produz esfirras, pães e pizzas árabes.
Ali, como prefere ser chamado, mora há três anos na capital. Ele aprendeu a cozinhar com a mãe, na Síria. “Sempre gostava de acompanhá-la com a mão na massa”, afirma.
O estrangeiro participa de feiras de artesanato em praças públicas para divulgar os seus pratos e garantir a clientela. “A pessoa come, gosta, e aí a gente mantém contato para encomendas futuras”, explica o sírio.
Além dos eventos públicos, ele também fornece pães, esfirras e pizzas árabes em porções de 30 unidades para festas de aniversário e encontros de amigos e empresas.
Integração e vida digna
As histórias do sírio Ali Zidane e dos costureiros africanos Zakari Aboudouraoufou e Soule Labode têm o empreendedorismo como uma forma de inserção na sociedade.
Para a professora de relações internacionais da Unifacs, Rafaela Silva, a participação deles na economia local é “muito importante para quem está recomeçando a vida do zero”.
“Os estrangeiros vieram para cá fugindo de guerras, epidemias e crise econômica. Nesse cenário, a liberdade de empreender no Brasil significa que estamos dispostos a dar oportunidade para que refugiado tenha uma vida digna”, argumenta a professora, que coordena o curso de português para refugiados na Unifacs.
A Tarde
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