Pe. Alfredo J. Gonçalves
O capital financeiro e globalizado desconhece fronteiras. Circula livremente entre países e continentes. Capital “andorinha”, “volátil”, “virtual”, como é chamado, percorre o mundo em questão de segundos, com a velocidade de um toque na tecla do computador. Os migrantes, por sua vez, encontram leis cada vez mais rígidas para sua circulação. Erguem-se novos muros, dificulta-se para os trabalhadores o direito de ir e vir. Por outro lado, cresce em toda parte a discriminação, o preconceito e as atitudes xenófobas, ao lado da intolerância para com o outro, o estrangeiro, o diferente. Apesar disso, o fenômeno das migrações adquiriu nas últimas décadas um caráter planetário. Os deslocamentos humanos tornam-se sempre mais intensos, plurais e complexos. As migrações são as ondas aparentes de transformações subterrâneas, correntes visíveis de maremotos invisíveis. Uma espécie de termômetro que, ao mesmo tempo, revela e esconde profundas mudanças de ordem econômica, política, social e cultural. Modifica-se a geopolítica global do planeta.
Esse quadro constitui um tremendo desafio para toda a sociedade e, em especial, para a Igreja. Com razão, esta revista foi batizada de “DISPERSOS”. De fato, uma grande quantidade de pessoas, famílias e grupos humanos experimenta, atualmente, uma permanente diáspora. O quadro universal do fenômeno migratório, por sua vez, tem reflexos e conseqüências em nível regional e local. Daí o desafio às dioceses, paróquias e comunidades.
No final do século XIX e início do século XX, Dom J. B. Scalabrini, bispo de Piacenza, norte da Itália, sentiu-se interpelado por essa realidade. A partir de sua vida e obra, as congregações scalabrinianas, feminina e masculina, durante mais de cem anos marcaram presença em vários países, incluindo o Brasil. A Campanha da Fraternidade de 1980, com o lema “Para onde vais?” representou novo e significativo impulso no campo da mobilidade humana. Criou-se o SPM – Serviço Pastoral dos Migrantes, responsável junto à CNBB pela articulação nacional das ações em prol dos migrantes.
E hoje, o que fazer? Na tentativa de responder a esse desafio, gostaria de começar com a seguinte pergunta: como uma diocese poderia implantar ou dinamizar a Pastoral Migratória? O presente artigo tem a finalidade de fornecer algumas pistas. Não se trata de uma seqüência obrigatória de passos para iniciar a pastoral junto aos migrantes. Trata-se, antes, de elementos que podem ser enriquecidos com iniciativas locais. O mais importante é a criatividade a partir do contexto da mobilidade humana onde se efetua a ação pastoral.
1. Acolhida
A primeira preocupação de qualquer trabalho com os migrantes é a acolhida. Quem chega e quem parte precisa de apoio. Normalmente essa ajuda restringe-se às relações familiares. O desafio é ampliá-la em nível diocesano, paroquial e comunitário. É importante criar mecanismos para receber bem os que acabam de chegar de mudança, bem como encaminhar os que deixam o local. Aqui valem as “antenas” – pessoas ou equipes atentas à saída ou chegada de novas famílias. A presença da Igreja nestas horas é fundamental, uma vez que as pessoas encontram-se fragilizadas pelo impacto da migração. Podem ser vítimas fáceis do proselitismo e da exploração. A preocupação com escola, emprego, moradia, transporte, creche e outros serviços públicos costumam ser os maiores problemas da chegada. Devem constituir, pois, preocupações da pastoral da acolhida.
No caso dos estrangeiros, acrescentam-se outras preocupações: documentação, língua, inserção na comunidade local. Muitos acabam caindo na clandestinidade, em situação irregular. Isso pode levar os oportunistas, não raro seus próprios conterrâneos, a utilizá-los como mão de obra barata e até gratuita.
No processo de acolhida, é indispensável envolver as comunidades, associações, movimentos, sindicatos e outras organizações de base. Na medida em que tal articulação ocorre, o migrante vai aos poucos inserindo-se não apenas no novo bairro ou cidade, mas também nas lutas concretas por melhores condições de vida. Não resta a menor dúvida de que o principal instrumento da acolhida é a visita à família que acaba de chegar. Por si só, ela se reveste de uma importância à qual nem sempre conferimos o devido valor. Visitar é abrir a porta do bairro ou da cidade a quem bate.
2. Equipe da Pastoral Migratória
Para iniciar esse trabalho de acolhida e outros, que virão a seguir, é necessário contar com uma ou mais equipes responsáveis. Essas equipes não precisam ser grandes. Quando o são, em geral tornam-se lentas demais. Tem que ser um grupo ágil e móvel, aquela “antena” de que falávamos na introdução. A equipe diocesana pode ser constituída por representantes das equipes paroquiais e estas, por sua vez, constituídas por representantes das equipes comunitárias.
É papel de tais equipes ficarem de alerta à chegada e saída dos migrantes, no sentido de acionar a rede de apoio. Além disso, a equipe deve estar atenta a um diagnóstico sócio-político e econômico constantemente atualizado da realidade migratória. Para isso, ela pode contar com especialistas, assessoria e pesquisas de campo. Deve, ainda, manter a diocese, paróquia ou comunidade informadas dessa realidade, o que pode ser feito através de palestras, encontros, cursos específicos, boletins informativos, cartas.
Evidente que os membros das equipes devem encontrar-se com relativa freqüência em todos os níveis. Devem também estar conectados com a Pastoral Migratória em termos mais amplos, vale dizer, com o Serviço Pastoral dos Migrantes, bem como com os organismos responsáveis por esse setor junto às Conferências Episcopais de outros países, de onde se originam ou para onde se destinam os migrantes.
3. Presença na origem e destino
A migração, embora apresentando-se nos dias de hoje como um vaivém mais ou menos desordenado, em muitos casos a origem e o destino de determinados grupos ainda continua bem identificada. É o que ocorre, por exemplo, com os trabalhadores temporários, especialmente os safristas da cana, da laranja, do café, do algodão; os operários de grandes obras da construção civil; as empregadas domésticas; os serviços em geral e outras formas de mobilidade temporária. Nestes casos, é fundamental uma presença regular tanto nas áreas de origem quanto nas áreas de destino.
Nas regiões de destino, muitas vezes alojamentos precários e insalubres, a presença pode ser efetuada através de visitas, atos religiosos, encontros, organização por melhorias e por direitos trabalhistas, ligação com o sindicato e outras associações, estímulo à manutenção dos laços familiares e das práticas religiosas.
Na origem, onde se localizam as famílias e as comunidades, podem-se promover, visitas às famílias dos migrantes, missões populares, encontros de mães, esposas ou crianças, trabalho de conscientização, romarias, celebrações específicas.
O intercâmbio pastoral entre os dois pólos é de vital importância. Neste sentido, os agentes e lideranças das regiões de origem podem se organizar e realizar visitas missionárias aos locais de trabalho. E inversamente, os agentes e lideranças das áreas de destino, nos períodos de entre-safra, podem organizar missões populares nas comunidades de onde saem os migrantes.
Com isso, diante da ponte que os migrantes estabelecem um pólo e outro por motivos de trabalho e sobrevivência, a igreja estabelece também uma ponte pastoral entre ambos os pólos, com vistas a um acompanhamento evangélico. No fundo, com a saída dos trabalhadores, sofre quem parte e quem fica. A presença pastoral, portanto, deve procurar articular as duas realidades.
4. Encontros de Migrantes
Os encontros de migrantes, seja por nacionalidade, categoria ou região de origem, podem se tornar decisivos na criação e/ou fortalecimento das redes de apoio. Nesses encontros é bom que haja espaço para a troca de experiências, pois os caminhos dos migrantes se cruzam e recruzam em inúmeras encruzilhadas comuns. Ademais, esse intercâmbio favorece o aprofundamento das relações, o que ajuda a combater a anomia, a perda de valores e do sentido da vida. São momentos oportunos para a redefinição da identidade, a qual, nos caminhos e descaminhos da migração, sofre golpes muito duros e profundos. Os encontros ajudam a curar cicatrizes do corpo e da alma.
Nem precisa lembrar que tais encontros, além do mais, podem se tornar “trampolins” para o engajamento dos recém-chegados na comunidade, nas lutas locais, no sindicato, nos movimentos populares e outras organizações empenhadas na construção de uma sociedade sem exclusões. São ainda momentos fortes de expressão cultural, como veremos adiante.
5. Luta pelos Direitos
Os migrantes e imigrantes, via de regra, constituem presas fáceis da super-exploração. A luta desesperada pela sobrevivência leva a um vaivém que, por vezes, é feito de muitas etapas. De etapa para etapa, a pessoa ou família vê-se quase sempre em condições cada vez mais deterioradas. Trata-se, não raro, de uma trajetória descendente. Esse processo de empobrecimento inexorável e gradativo deixa marcas e fragiliza o caminhante. Ele se torna vulnerável a todo tipo de exploração, tanto mais indefeso quando se trata dos estrangeiros em situação irregular. Daí que a porta de entrada de muitos migrantes no mercado de trabalho seja, em geral, os serviços mais pesados e mal remunerados: construção civil, emprego doméstico, trabalhos temporários, serviços em geral, e assim por diante. Não é difícil encontrar migrantes no trabalho escravo, às vezes junto com seus filhos menores. Para as mulheres, o fim da linha pode ser a prostituição; para a família, a rua; para as crianças, jovens e adolescentes, o mundo das drogas.
Diante disso, a Pastoral Migratória deve estar atenta à luta pelos direitos desses trabalhadores migrantes. Seja, de um lado, o direito ao emprego e os direitos trabalhistas, seja, de outro, a conquista dos direitos fundamentais a uma vida digna: saúde, moradia, terra para trabalhar e viver, transporte coletivo, educação, enfim, a luta pelas condições básicas de vida e trabalho.
Semelhante problemática nos interpela a empenhar-nos pelo engajamento dos migrantes nas lutas pela reforma agrária e agrícola, nas ocupações de terra, nos movimentos populares, nos sindicatos, associações e em todos os instrumentos de luta por uma vida digna e justa. Aqui entra em cena a dimensão sócio-política de nossa fé cristã.
6. Resgate da história e da cultura
As dioceses, paróquias e comunidades devem estar de antenas ligadas para a fonte de riqueza que é o migrante. Sua história e cultura carregam tesouros nem sempre reconhecidos. Neste sentido, é bom promover momentos e criar espaços onde os migrantes possam intercambiar e transmitir sua herança histórico-cultural.
Sobre a história, seja pessoal ou coletiva, as principais pérolas a apreender são a resistência frente às dificuldades, a solidariedade entre os pobres e peregrinos, a rede familiar de apoio, a persistência na busca de vida melhor. Enfim, parafraseando Euclides da Cunha, o migrante é antes de tudo um forte. Não se deixa abater pelas contrariedades da vida. Caminha sempre, abrindo horizontes novos. Além disso, falar da própria história é uma forma de exorcizar os medos e sombras acumulados pelo caminho. Contar o sofrimento pode ser uma forma de libertar-se de suas lembranças.
Sobre a cultura, devemos estar atentos à pluralidade de valores de cada pessoa, grupo ou povo; às diferenças que, longe de nos dividir ou separar, podem trazer um mútuo enriquecimento; às mais diversas manifestações culturais e religiosas; à alegria e às festas de cada grupo. Sabemos que as expressões culturais de qualquer povo estão impregnadas de valores evangélicos, libertadores. São, em última instância, manifestações da vida em suas múltiplas e variadas faces. Altamente positivo será o aprendizado recíproco do respeito pelo outro, o diferente, o estrangeiro.
Um meio de levar tudo isso em consideração é resgatar as festas populares; as comemorações em torno de determinados santos, especialmente os padroeiros; os festivais de música, teatro e outras formas de expressão; comidas típicas e regionais; tradições específicas de cada cultura. Para isso, torna-se necessário abrir os salões paroquiais, ceder espaços, reformular as celebrações, recriar a liturgia, promover encontros de migrantes por afinidades de origem ou trabalho. Essa atenção fará com que os recém-chegados se sintam em casa, não sofram tanto o impacto da mudança, reencontrem seus conterrâneos, reforcem laços rompidos, resgatem sua dignidade e identidade. Numa palavra, dar-lhes-á oportunidade de recomeçar a vida em novas bases, refazendo as raízes e retomando as rédeas do próprio destino. Poderão tornar-se sujeitos de sua história.
7. Momentos Marcantes
As equipes da Pastoral Migratória precisam estar em sintonia com os momentos fortes dessa pastoral em nível mais amplo. A Semana do Migrante, o Dia do Migrante, os festivais de música e teatro são, entre outros, alguns exemplos a destacar. Como trabalhar na diocese, paróquia e comunidade no sentido de que tais eventos constituam um tempo oportuno de reflexão, conscientização, organização e ação em prol daqueles que “habitam” o mundo da mobilidade humana?
Por outro lado, iniciativas como o Grito dos Excluídos, o Plebiscito Nacional sobre a Dívida Externa, as Semanas Sociais Brasileiras,as datas significativas para a índios, as mulheres, os trabalhadores do campo e da cidade, a Consulta Popular – entre outros – não podem escapar à ação da Pastoral Migratória, numa tentativa de participação no processo mais amplo de construção de um “projeto popular e alternativo para o Brasil”.
Neste caso, a sintonia com o Serviço Pastoral dos Migrantes torna-se indispensável. Livretos, cartazes, subsídios e material em geral são produzidos pelo SPM em vista desses momentos. Entretanto, vale a criatividade, a riqueza e a experiência de cada local, no sentido de promover celebrações especiais, romarias, caminhadas, debates, palestras, cursos, semanas de estudo em torno do tema.
São momentos oportunos para envolver os próprios migrantes na caminhada da Igreja, para alertar as comunidades da existência de “gente de fora” ao redor de sua casa e para despertar a sociedade sobre o drama de milhares e milhões de famílias muitas vezes expulsas e excluídas, sujeitas a um vaivém que não tem fim. Oportunidade também para uma crítica mais profunda e radical ao modelo econômico neoliberal, adotado pelo governo e elites dos país. Modelo excludente para tantos trabalhadores e suas famílias, que se vêem privados de uma pátria e de uma efetiva cidadania, às vezes sem sair do próprio país.
8. Formação Permanente
É claro que o trabalho pastoral entre os migrante requer um diagnóstico atualizado e amplo sobre a realidade do fenômeno migratório, da mobilidade humana em sua abrangência. Acrescido a isso, requer também um estudo bíblico-teológico e da Doutrina Social da Igreja que possa iluminar tanto a realidade quanto a ação evangélica. E requer ainda um acompanhamento da conjuntura econômica, política e eclesial, com vistas a uma atuação mais eficaz.
Assim, os membros das equipes devem elaborar um programa amplo de formação permanente. Evidente que será necessário contar com assessoria especializada nas mais diferentes áreas de estudo: sociologia, antropologia, teologia, demografia e assim por diante. O programa de formação deve prever três níveis de participação: a) formação destinada a agentes de pastoral, responsáveis diretos pela pastoral migratória; b) formação destinada a lideranças que vão despontando no desenrolar da ação; c) formação destinada aos grupos de base e a pessoas interessadas no assunto. Isso exige programação de cursos, tempos intensivos de estudo e acompanhamento freqüente.
O processo de formação, nem precisaria lembrar, deverá estar em correspondência com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) e, mais especificamente, com as orientações de cada diocese, no sentido de um trabalho “orgânico e de conjunto”.
9. Espiritualidade do povo a caminho
O último ponto a assinalar é a busca permanente de uma espiritualidade que possa sustentar e dar sentido à ação pastoral entre os migrantes. Alguns elementos ganham especial relevância: a hospitalidade de Abraão diante dos peregrinos; a mística libertadora do êxodo, na experiência dos escravos do Egito; a peregrinação do Povo de Israel a caminho da Terra Prometida; a “teologia da tenda e do cajado”, que atravessa o Antigo Testamento; a coragem e a força dos profetas em denunciar as injustiças e a opressão do povo; a Boa Nova de Jesus, um “andarilho” à procura do Pai e do irmão pobre; o espírito de acolhida expresso no episódio do Juízo Final, o exemplo das primeiras comunidades cristãs, verdadeiras “casas de acolhida” para o povo disperso, como se lê na Primeira Carta de Pedro; os passos de Paulo na formação e visita às comunidades; o carisma de J. B. Scalabrini, considerado Pai e Apóstolo dos Migrantes, e que hoje se concretiza pelos irmãs e padres scalabrinianos(as).
Os elementos de espiritualidade acima, além disso, devem ser enriquecidos pela experiência dos migrantes a caminho. A história pessoal e coletiva acumula pérolas de sabedoria que podem ser resgatadas numa ótica mística. São as lições da estrada, da solidariedade, da resistência, da busca incessante da vida. A experiência de um Deus a caminho com os peregrinos é a herança de muitos migrantes. Herança que interpela e questiona aqueles que têm a tendência a se instalar, a se acomodar. É um convite ao caminho, à transitoriedade da vida, à busca perpétua do Reino, sem esquecer, claro, a construção de uma sociedade sem exclusões de nenhum tipo.
Vale também a dedicação, a coragem e a perseverança de tantos agentes pastorais e lideranças que, ao longo da história e nos dias de hoje, colocaram e colocam sua vida a serviço dos migrantes. Apostaram o sentido da própria vida e da vocação inserindo-se no mundo da mobilidade humana, descobrindo aí o rosto caminhante de Deus.
Enfim, não podemos esquecer o testemunho de tantas pessoas que tombaram pelos caminhos de todo o mundo. Muitos são migrantes anônimos, perdidos por veredas sem saída; outros, personalidades desconhecidas, que às vezes sem o saber adotam a causa do povo retirante; outros, ainda, gente que abre mãos, casa e coração para quem está a caminho, num gesto profundamente evangélico de acolhida.
Conclusão
Os itens acima não pretendem ser uma fórmula ou uma receita. Apenas indicações de como iniciar um trabalho pastoral junto aos migrantes, levando em conta a realidade cada vez mais complexa da mobilidade humana.
Entretanto, falta dizer algo. Grande parte das sugestões apresentadas pressupõem uma nova metodologia pastoral, no sentido de conferir maior agilidade e flexibilidade à ação envagelizadora. Isso significa que, num mundo profundamente marcado pela mobilidade, uma atuação dentro das circunscrições diocesanas e paroquiais muitas vezes amarra os agentes e acaba fechando as portas aos migrantes. É preciso pensar em “equipes volantes” que possam percorrer os caminhos do migrante com relativa liberdade de ação. As estruturas eclesiais, do ponto de vista geográfico e jurídico, muitas vezes impedem um acompanhamento efetivo em toda a trajetória da migração. Só para citar um exemplo, quantos migrantes vêem-se afastados dos sacramentos pelo fato de não terem moradia fixa e não serem “bem casados”!
Essa nova metodologia pastoral inclui, além disso, uma maior abertura ao ecumenismo, ao diálogo religioso e às parcerias com entidades da sociedade civil. Inclui também dinâmicas próprias que levem em consideração a história e a cultura de cada grupo de migrantes. E inclui, por fim, um grande espírito de desinstalação por parte de quem se dispõe a trabalhar no universo da mobilidade humana. Isto significa incorporar a mística do caminho. Em outras palavras, aprender dos próprios migrantes a lição de que estamos todos a caminho, peregrinos sobre a terra, em busca do Reino de Deus, pátria definitiva. O que não quer dizer, em absoluto, abdicar do direito e da luta por uma vida justa e digna aqui na terra.
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