Nostalgia por ter deixado seus país, família e amigos, solidão por não ter ninguém com quem brincar ou falar o idioma, e inquietação diante de uma nova vida em um lugar distante, são alguns dos sentimentos que as crianças imigrantes experimentam ao chegar à Espanha.
Suas experiências estão recolhidas em um livro que será apresentado na próxima segunda-feira, em Madri, e que reúne os relatos de crianças e jovens que participaram do primeiro concurso de contos "Integrando Culturas", incentivado pelo Instituto para o Desenvolvimento e a Inovação Educativa (IDIE-Imigração), que faz parte da Organização de Estados Ibero-Americanos (OEI).
O objetivo era dar "voz" às crianças, porque normalmente em estudos sobre imigração só os adultos falam, explicou à Agência Efe a coordenadora do IDIE-Imigração, Gloria Arredondo.
Dessa forma foram ouvidos relatos como o de Munier, um pequeno marroquino que era chamado de "mouro" pelas outras crianças, que não o deixavam nem brincar nem sentar com eles. "Me sentia muito sozinho e pensava o dia todo no Marrocos, no quanto era feliz lá", relata.
Ou como o de uma menina chinesa que, ao chegar, "não sabia falar nada" e que, quando começou o colégio, seus companheiros a chamavam de "chinesa ou chinatown".
Nas histórias é possível notar um ponto comum: após as dificuldades iniciais, maiores quando os pequenos não falam o idioma, as crianças conseguem pouco a pouco se integrar.
"Após um ano fui para o colégio onde ficava sozinho todos os dias até que um dia as crianças me chamaram para brincar", lembra uma criança romena.
Embora em algumas ocasiões a rejeição continue, como mostra a decisão dos pais da pequena marroquina Touria, que cansados "das travessuras" das crianças que não queriam brincar com sua filha, decidiram viver com outro povo.
Escritos com a espontaneidade da qual só as crianças são capazes, os relatos, no entanto, impactam por sua crueldade e pelo fato de que, apesar da pouca idade, sejam "tão conscientes" dos custos da imigração, como destaca Gloria.
Nas duas situações é possível usar como exemplo o relato de uma menina equatoriana de Chigüinda, que com 12 anos viajou para Madri para se encontrar com sua mãe, que não via desde os três anos.
"Por um lado eu não queria vir, porque lá tinha minha avó, meu pai e meus sobrinhos. Por outro lado queria vir para conhecer minha mãe. Então cheguei na Espanha, já estava no aeroporto. Saí, me encontrei com minhas irmãs e minha mãe, eu não me lembrava delas. Quando fiquei de frente para minha mãe não a reconheci", relembra.
O livro reúne 18 relatos escritos por menores com idades entre 6 e 12 anos e outros 45, de jovens entre 12 e 18.
Entre os jovens é possível perceber a origem de uma dupla ruptura emocional, a primeira causada pela emigração de seus pais e a segunda pela sua própria.
A figura dos parentes diretos, principalmente a da avó, tem grande importância para estes jovens.
Raymond, da República Dominicana, resume muito bem: "É duro deixar uma avó que nos criou desde pequenos".
No processo de adaptação, as crianças, que não deram nomes completos para preservar a identidade, destacam o apoio oferecido por outros companheiros que viveram o mesmo processo.
Há entre eles os que só pensam em voltar para seu país de origem, mas também os que, como a venezuelana Lizeth, a cada dia se sente melhor na Espanha, país que "ama como sua própria nação".
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