Sorocaba recebeu nos últimos anos um grande número de imigrantes haitianos. Segundo cálculos extraoficiais da Prefeitura, seriam perto de 3 mil vivendo em nossa cidade. Muitos já encontraram colocação em bares, lanchonetes e na construção civil e o maior obstáculo para que consigam empregos melhor remunerados -- muitos deles têm algum tipo de diploma -- é a falta domínio da língua portuguesa. No Haiti fala-se o crioulo, que mistura língua local com o francês, e o francês, que é ensinado nas escolas.
Foi para ajudar essas pessoas que deixaram seu país de origem em busca de oportunidades que um grupo de pessoas realiza um trabalho solidário ministrando aulas de português nos finais de semana. As aulas são aos sábados em um salão onde também funciona uma igreja no bairro Piazza de Roma. Além de alguns jovens universitários, que trabalham voluntariamente, participa do projeto um pastor também haitiano, que domina bem o português e, quando necessário, atua como tradutor durante as aulas.
A história dos imigrantes haitianos tem um ponto em comum, a necessidade de deixar um país em profunda crise econômica e social após o terremoto de 2010, que destruiu inclusive a capital, Porto Príncipe, e matou mais de 300 mil pessoas. Programas humanitários enviados àquele país não foram suficientes nem para sua reconstrução total, nem para sua recuperação econômica. Sem dominar a língua portuguesa, os haitianos só conseguem subempregos e, na maioria das vezes, recebem salários mais baixos que os pagos para brasileiros. A barreira da língua também impede que participem de cursos profissionalizantes e que obtenham maiores chances de empregos mais qualificados.
É difícil saber o número de haitianos que hoje vive no Brasil. Segundo dados da Polícia Federal, em 2015, eles lideraram o ranking de chegada ao país pelo segundo ano consecutivo. Atravessaram nossas fronteiras 14.535 haitianos. Em segundo lugar vieram os bolivianos, seguidos por colombianos, argentinos e chineses. No ano passado e em 2017, a crise econômica brasileira fez com que muitos haitianos escolhessem outros países para emigrar, mas foram substituídos pelos venezuelanos que, aos milhares, entram em território nacional pela fronteira de Roraima, levando os serviços de saúde e assistência social daquele Estado ao colapso. Fugindo de uma crise econômica estratosfericamente maior que a brasileira, são protagonistas do novo fenômeno migratório do Brasil.
As crises política e econômica que afetam a Venezuela têm elevado o número de imigrantes que buscam melhores condições de vida no Brasil. Eles atravessam a fronteira com Roraima e fazem longas filas, todas as manhãs, no prédio da Polícia Federal em Boa Vista para conseguir o pedido de refúgio no país. Para se ter uma ideia do aumento da entrada de venezuelanos, em 2014, 9 venezuelanos pediram refúgio em Roraima. No ano seguinte foram 230 e em 2016 esse número saltou para 2.230 e só no primeiro semestre de 2017 foram 5.787 pedidos de refúgio.
Os estrangeiros que chegam ao Brasil, sejam eles venezuelanos, haitianos ou bolivianos, têm um motivo a mais para escolher nosso país para viver. Desde o último mês de maio está em vigência a Lei da Migração, assinada pelo presidente Michel Temer, que substituiu o antigo Estatuto do Estrangeiro. A nova legislação é considerada uma mudança de paradigma no que diz respeito ao tratamento de cidadãos de outras nacionalidades. Enquanto o Estatuto do Estrangeiro via o imigrante pela ótica da segurança nacional, a nova lei o enxerga sob a ótica dos direitos humanos. Com ela foi criado um visto temporário específico para o migrante em situação de acolhida humanitária, para pessoas que precisam fugir dos países de origem, mas que não se enquadram na lei do refúgio. Permite também que imigrantes regularizem seus documentos dentro do Brasil, entre outros benefícios.
Mas se o imigrante encontra no Brasil um amparo legal para permanecer no país, são atitudes solidárias como a dos estudantes sorocabanos que poderão realmente integrá-los à vida comunitária.
Cruzeiro do sul
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