terça-feira, 17 de abril de 2012

Por meio do trabalho, refugiados colombianos se integram à sociedade gaúcha



De segunda a sexta-feira, o refugiado colombiano Juan Pablo* acorda cedo. Da casa simples (dois quartos, sala, copa e cozinha) e alugada onde mora, no interior do Rio Grande do Sul, sai com o filho mais velho dirigindo seu próprio carro, um modelo popular ano 2010 cujas prestações ainda estão sendo pagas.

Após deixar o filho no emprego, às 7h30 Juan Pablo se apresenta na fábrica de componentes de calçados, onde exerce a função de operador de máquinas. Ele sairá de lá por volta das 18hs e retornará à sua casa para reencontrar sua esposa Johanna*, também colombiana, que está em licença maternidade cuidando do pequeno Pedro*, filho brasileiro que nasceu em dezembro do ano passado. Em breve, Johanna também estará de volta ao seu trabalho.

A rotina de Juan Pablo pode parecer comum à esmagadora maioria dos brasileiros, mas é uma grande conquista para ele e sua família, que foram forçados a deixar a Colômbia em 2008 devido às ameaças que sofriam na sua propriedade rural, na região de Cali. Reconhecidos como refugiados no Equador, continuaram sob ameaça naquele país, por agentes de perseguição da Colômbia. Então, foram reassentados no Brasil, onde chegaram em dezembro de 2009.

Juan Pablo sempre soube que só poderia reconstruir sua vida de forma digna se tivesse um trabalho decente. Após os primeiros meses sob assistência do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e da Associação Antônio Vieira (ASAV), conseguiu um emprego de pedreiro. Depois, trabalhou numa metalúrgica e, desde junho de 2010, está empregado com carteira assinada na Discover, uma empresa de 130 funcionários que vende componentes de calçados para toda a região sul do Brasil.

Neste período, a mulher também conseguiu trabalho na mesma empresa, e o filho mais velho foi contratado em uma fábrica de embalagens de papelão. “Sem o trabalho, não teríamos chegado onde estamos. O emprego traz segurança, pois tenho mesmos direitos que qualquer trabalhador brasileiro. Quero aposentar-me e fazer um empréstimo para adquirir minha própria casa”, afirma Juan Pablo, ecoando o sonho de todo brasileiro.

Numa cidade vizinha à de Juan Pablo, também no interior gaúcho, outro refugiado colombiano consolida sua integração no Brasil como gerente de um bar noturno. De terça-feira a domingo, Ricardo* coordena a equipe de 29 garçons, seis cozinheiros e quatro caixas do movimentado Estação Bangalô, que recebe pelo menos 600 clientes a cada noite.

Ex-policial no seu país e enólogo amador, Ricardo participou dos processos de paz entre o governo e os grupos armados irregulares em seu país. Mas foi obrigado a se refugiar no Equador em meados de 2004, por causa da perseguição destes mesmos grupos. Devido a problemas de integração no primeiro país de refúgio, foi reassentado no Rio Grande do Sul, em agosto de 2005. Desde então, trabalhou como garçom em um grande hotel da cidade e retomou os estudos de enologia. Tornou-sesommelier e maître do hotel, sendo posteriormente chamado para orientar cursos para garçons. Foi em um desses cursos que foi convidado a assumir a gerência do bar onde trabalha atualmente.

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“O trabalho é tudo. Sem um salário, é impossível se sustentar e se integrar na comunidade onde se vive. Tenho meu próprio carro e moro em um apartamento alugado, no meu próprio nome”, orgulha-se Ricardo.

A auto-sustentabilidade dos refugiados que vivem em áreas urbanas é um dos principais objetivos dos projetos implementados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Em vários países, inclusive no Brasil, o ACNUR e seus parceiros apoiam os esforços dos refugiados na busca pelo emprego e atuam com autoridades públicas e o setor privado para facilitar a inserção dessa população no mercado de trabalho.

No Brasil, os refugiados têm acesso a aulas de português, cursos profissionalizantes e a recursos para iniciar negócios que sejam economicamente viáveis. Além disso, a avançada legislação brasileira sobre refúgio garante aos refugiados a documentação necessária para buscar empregos formais, como Carteira de Trabalho, CPF e identidade.

“O emprego é um caminho seguro para a auto-sustentabilidade, assegurando soluções duradouras para refugiados no primeiro país de refúgio ou reassentados em outros países. É também uma poderosa ferramenta de integração”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Andrés Ramirez. Ele lembra que o ACNUR lançou, em 2009, uma política específica para a proteção de refugiados em áreas urbanas. “Atualmente, mais da metade dos refugiados em todo o mundo vivem em áreas urbanas, e as cidades são um espaço legítimo de proteção e direitos para os refugiados”, completa Ramirez.

De acordo com dados oficiais, cerca de 4.500 refugiados (de 77 nacionalidades diferentes) vivem nas cidades brasileiras. No Rio Grande do Sul estão cerca de 250 refugiados, a maioria de origem colombiana e palestina. Esta população é atendida pela Associação Antônio Vieira (ASAV), em 13 diferentes municípios do Estado.

Os refugiados que vivem no Rio Grande do Sul são beneficiados pelo Programa de Reassentamento Solidário, implementado pelo governo federal com apoio do ACNUR e da sociedade civil.

O programa foi concebido para proteger refugiados que são perseguidos ou não têm condições de integração no primeiro país de refúgio. Cerca de 10% dos refugiados no Brasil são beneficiados pelo Programa de Reassentamento, e a maior parcela da população de refugiados reassentados no país reside no Rio Grande do Sul.

Para identificar oportunidades de emprego e mecanismos que favoreçam a qualificação profissional, o micro-crédito e o acesso desta população ao mercado de trabalho no Rio Grande do Sul, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o ACNUR e realizam nos dias 16 e 17 de abril, em Porto Alegre, a 3ª Oficina sobre Trabalho e Emprego para Solicitantes de Refúgio e Refugiados.

O evento tem apoio da ASAV e do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), e acontecerá no auditório da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul (Avenida Mauá, 1013, 10º andar, Porto Alegre, Centro), com abertura às 15hs desta segunda-feira (16/04). Participarão técnicos governamentais, sindicalistas, empresários, refugiados e especialistas em refúgio.

A integração de Juan Pablo e Ricardo proporcionada pelo trabalho e a certeza de que querem viver no Brasil se confirmam quando são perguntados se querem voltar para seus países. “Não queremos ir para nenhuma outra parte. Se Deus permitir, morrerei no Brasil”, afirma Juan Pablo. “Aqui somos muito respeitados”, completa Johanna, sua esposa. “Quero voltar à Colômbia, mas apenas para visitar meus amigos e parentes. É no Brasil que sou valorizado e tenho meu trabalho reconhecido”, declara Ricardo.

* Nomes trocados por razões de proteção.

Por Luiz Fernando Godinho, de Porto Alegre, Brasil

Por: ACNUR

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De acordo com dados oficiais, cerca de 4.500 refugiados (de 77 nacionalidades diferentes) vivem nas cidades brasileiras. No Rio Grande do Sul estão cerca de 250 refugiados, a maioria de origem colombiana e palestina. Esta população é atendida pela Associação Antônio Vieira (ASAV), em 13 diferentes municípios do Estado.

Os refugiados que vivem no Rio Grande do Sul são beneficiados pelo Programa de Reassentamento Solidário, implementado pelo governo federal com apoio do ACNUR e da sociedade civil.

O programa foi concebido para proteger refugiados que são perseguidos ou não têm condições de integração no primeiro país de refúgio. Cerca de 10% dos refugiados no Brasil são beneficiados pelo Programa de Reassentamento, e a maior parcela da população de refugiados reassentados no país reside no Rio Grande do Sul.

Para identificar oportunidades de emprego e mecanismos que favoreçam a qualificação profissional, o micro-crédito e o acesso desta população ao mercado de trabalho no Rio Grande do Sul, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e o ACNUR e realizam nos próximos dias 16 e 17 de abril, em Porto Alegre, a 3ª Oficina sobre Trabalho e Emprego para Solicitantes de Refúgio e Refugiados.

O evento tem apoio da ASAV e do Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), e acontecerá no auditório da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego no Rio Grande do Sul (Avenida Mauá, 1013, 10º andar, Porto Alegre, Centro), com abertura às 15hs desta segunda-feira (16/04). Participarão técnicos governamentais, sindicalistas, empresários, refugiados e especialistas em refúgio.

A integração de Juan Pablo e Ricardo proporcionada pelo trabalho e a certeza de que querem viver no Brasil se confirmam quando são perguntados se querem voltar para seus países. “Não queremos ir para nenhuma outra parte. Se Deus permitir, morrerei no Brasil”, afirma Juan Pablo. “Aqui somos muito respeitados”, completa Johanna, sua esposa. “Quero voltar à Colômbia, mas apenas para visitar meus amigos e parentes. É no Brasil que sou valorizado e tenho meu trabalho reconhecido”, declara Ricardo.

Por Luiz Fernando Godinho, de Porto Alegre, Brasil

Por: ACNUR

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