Um ministro quer deter imigrantes ilegais. Outro responsabiliza os imigrantes pela propagação de doenças. Além da crise econômica, a imigração é tema chave da campanha para as eleições parlamentares na Grécia.
A chamada Lei de Integração apresentada pelo ministro socialista Michaelis Cryssochoidi causou alvoroço na Grécia. Seu fim é deter imigrantes ilegais em antigos quartéis até que sejam deportados. O Parlamento grego já aprovou a lei. Mas, em 2009, o próprio político alegou razões humanitárias e se opôs ao alojamento em casernas militares. Hoje, novamente no governo, Cryssochoidi quer criar 30 campos de refugiados em toda a Grécia, os quais devem ser financiados pela União Europeia (UE).
Mohammadi Yunus, da comunidade afegã em Atenas e da associação das organizações gregas de refugiados, considera o plano uma simples estratégia eleitoral tendo em vista as eleições parlamentares de maio deste ano. Partidos oposicionistas de esquerda e organizações de direitos humanos também criticam o projeto e comparam os campos de refugiados a prisões.
"Vivo na Grécia desde 2001, e é sempre a mesma coisa: toda vez em que há eleições à vista, se fala mal dos imigrantes", diz Yunus. Para o afegão, a imigração é de fato um assunto relevante na Grécia, porém, os problemas não são resolvidos através de perseguições e detenções. Seria muito melhor se as leis existentes fossem aplicadas, considera.
"A legislação grega de asilo político é uma das melhores da Europa, mas infelizmente ela não é aplicada", lamenta Yunus. Por causa da extensa burocracia grega, pode levar até cinco anos até que as autoridades decidam sobre um pedido de asilo político.
Os imigrantes também são considerados parcialmente responsáveis pela crescente criminalidade no país. Três partidos de direita seguem essa linha, os quais aparecem em pesquisas com 5% dos votos e têm boas chances de conseguirem representação no Parlamento grego.
Em Atenas, o grupo de direita Chryssi Avgi ("Aurora Dourada") oferece um serviço de segurança particular. Se idosos querem ir sozinhos ao banco, mas têm medo de assalto, podem entrar em contato com os ultradireitistas e pedir um acompanhante.
Bodes expiatórios
Yunus não nega que a criminalidade tenha aumentado significativamente em Atenas nos últimos anos; não vê, porém, qualquer relação com a imigração. "Há de fato um grande problema de segurança no centro da cidade, mas os imigrantes são os que mais sofrem com a situação", diz o representante da comunidade afegã. Em alguns bairros da capital grega, os estrangeiros evitam sair às ruas à noite com medo de ataques.
"As pessoas ficam bravas com a indiferença do Estado com relação a seus problemas, e os imigrantes são usados como bodes expiatórios", lamenta Yunus.
O ministro da Saúde, Andreas Loverdos, muito popular entre os eleitores gregos, também acusa os imigrantes. Em uma entrevista à televisão, ele apresentou a tese de que os imigrantes são "uma bomba-relógio para a saúde" e que espalham doenças infecciosas como a tuberculose e o vírus da aids.
Tassos Koronakis, porta-voz de políticas imigratórias do partido oposicionista de esquerda Syriza, mostra-se indignado sobre tal afirmação. "Quando a economia ainda ia bem, o governo deixava imigrantes sem documentos legais entrarem no país para usá-los como mão de obra barata. Hoje, eles querem se livrar dessas pessoas e falam em centros de detenção e bombas-relógio para a saúde", critica.
Para Koronakis, não somente a imigração, mas também a pobreza seria a razão para o aumento da criminalidade, e querer castigar os imigrantes por isso seria errado. "Ações criminosas são geralmente comandadas por gregos", afirma o político.
Medo de crítica da União Europeia
Políticos conservadores mostram-se visivelmente reticentes no debate sobre a imigração. Suas antigas propostas polêmicas para a construção de centros de detenção para imigrantes são hoje apoiadas pelos socialistas do governo. Contudo, os conservadores temem que fortes críticas dos parceiros da UE incidam sobre a Grécia. Isso porque o país supostamente não estaria em condições de controlar suas próprias fronteiras, que também são fronteiras da União Europeia.
"Como relator do Parlamento Europeu para a reforma do espaço de Schengen, constatei que nossos parceiros querem de nós principalmente que aquele que pede ajuda esteja disposto e apto a ajudar a si mesmo", considera o conservador grego e parlamentar da UE Giorgos Papanikolaou.
Para o político, a Grécia precisa desenvolver uma política de imigração coerente que abranja desde a vigilância efetiva das fronteiras até o acolhimento de pessoas com direito a asilo, a deportação de imigrantes ilegais e a integração daqueles que já vivem no país. "Também faz parte do conceito que as tensões surgidas a partir do acolhimento de refugiados sejam distribuídas equitativamente na Europa", diz.
Atualmente, o país da UE pelo qual um refugiado entrou é responsável pela avaliação do pedido de asilo político. Muitos imigrantes escolhem a Grécia como porta de entrada para a Europa, e, por isso, políticos gregos exigem uma alteração imediata de tal regulamentação a nível europeu.
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