Os policiais espanhóis têm meta de prisões de estrangeiros em situação ilegal. O número chega 80 por dia na grande Madri, diz o Sindicato Unificado de Polícia (SUP), ainda que apenas 7% do total de detidos sejam de fato deportados. A maioria recebe uma notificação para que deixe o país e é solta novamente. A pressão por detenções afeta os turnos de trabalho e as folgas dos oficiais, disse ao Terra José María Benito, chefe de comunicação da entidade.
A procura por ilegais virou rotina em bares com nomes estrangeiros, nos principais pontos de concentração de imigrantes e nas estações de metrô e de ônibus em que há grande movimento. "Os policiais chegaram ao bar Copacabana pedindo documentos para todos. Levaram três estrangeiros. Eu era um deles", conta o brasileiro Alonso Barbosa da Silva.
O Sindicato Unificado de Polícia (SUP) diz que a origem está na mudança, em 2004, na lei sobre estrangeiros. A partir daquele ano seria permitida a prisão de ilegais. "Sofremos pressão para cumprir uma meta mensal. Aqueles que não a atingem ficam com os piores turnos. Os outros chegam até a conseguir dias livres", explica Benito. A maioria é detida na capital. O número chega a 80 pessoas diariamente na Comunidade de Madri - que equivale ao Estado de Madri e não somente a cidade.
Para evitar a polícia, os estrangeiros ilegais não passam pelo centro da cidade, a menos que seja muito necessário. "Tento não ir aonde todos circulam, porque sei que ali alguém pode pedir meu documento", diz o turco Enver Ozdemir. "Mas não adianta. Eles (os policiais) aparecem por todos os lados".
Depois de detidos, eles vão para a delegacia, onde é aberto um expediente de expulsão. Dali, com a carta dizendo que devem sair do país, os detidos são soltos ou permanecem presos por até 40 dias. "Fiz o maior escândalo e consegui sair da delegacia, mas os outros dois ficaram lá", relata Alonso Barbosa da Silva.
A ONG Movimento Contra Intolerância reclama. "O pedido de documentação é feito por diferenciação racial, e isto é crime. Os policiais podem deter os ilegais, mas não têm o direito de sair caçando quem não pareça espanhol", diz Esteban Ibarra, presidente da instituição. Mas ele diz que há solução. Mesmo depois de passar pelo processo para deportação, todos devem prestar queixa. "Orientamos os imigrantes a procurar advogados, pois muitos recebem uma carta de expulsão quando a documentação que ele legalize sua situação já está
Este é o caso do brasileiro Alonso, que já foi preso, tem carta de expulsão, mas pode permanecer na Espanha porque tem uma filha aqui. "Eu não consigo ficar legal, mas eles não têm como me mandar embora. Estou no limbo", explica.
Polícia diz não ter culpa
O descontentamento é entre a população imigrante (principalmente entre os ilegais), mas a polícia diz estar desconfortável. "Nós não gostamos do trabalho. Podíamos estar procurando ladrões pelas ruas e temos que prendê-los mesmo sabendo que não dá em nada", diz Benito. Isto porque, apesar de tantas detenções, as estatísticas mostram que somente cerca de 7% dos ilegais são deportados. Os outros enfrentam o processo de expulsão
A delegação de governo espanhola, responsável pela ordem de deter os imigrantes, não dá entrevista e diz que não tem nada a declarar sobre o tema. Apesar disso, depois da denúncia do SUP, seus representantes dizem que alguns policiais já saíram da tarefa de prender imigrantes e estão no patrulhamento das ruas. "As coisas já melhoraram pra nós, mas a pressão para que levemos ilegais para a delegacia está arraigada e não vai acabar assim, de um dia para o outro", lamenta Benito. "A imigração é um problema social, político e cultural e não policial", pondera.
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